ODS 15

A Embrapa não precisa de discursos vazios, mas de apoio para cumprir sua relevante missão!

Os discursos que se originam de vários segmentos da sociedade e de várias esferas dos governos (federal, estadual, municipal) insistem em repetir, recorrentemente, que a ciência, a tecnologia e a inovação representam patrimônio relevante para o país e que estão associadas à consolidação da soberania nacional.

A Embrapa não precisa de discursos vazios, mas de apoio para cumprir sua relevante missão!

Wilson da Costa Bueno, Diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, consultoria na área de Comunicação Corporativa/ Jornalismo Especializado –

Mas discursos são discursos e estamos acostumados com declarações que não estão em sintonia com a realidade e, por isso, não devem ser levadas a sério.

Se expressassem a verdade dos fatos, não estaríamos contemplando, em pleno século 21, a situação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que ano, após ano, vive um sufoco orçamentário, e que terminou 2024 com um déficit de R$26 milhões.

A empresa estatal tem 43 unidades distribuídas por todos os estados da federação, é reconhecida, nacional e internacionalmente, como uma instituição de excelência na pesquisa agropecuária, com pesquisadores, técnicos administrativos e servidores que dignificam a atividade relevante da pesquisa científica. Ela é, inclusive, referência para todos nós, jornalistas e comunicadores em geral, pelo seu protagonismo na área da comunicação, pioneira no Brasil na elaboração de uma Política de Comunicação Institucional na década de 90, quando poucos profissionais e gestores sequer podiam avaliar a importância deste instrumento estratégico de gestão.

Estados e municípios, o Governo brasileiro, seja ele de qualquer orientação política ou ideológica, e o setor do agronegócio brasileiro sabem que a Embrapa é indispensável e que desempenha papel fundamental para a construção de uma agricultura sustentável, para o incremento da produtividade na agricultura e para garantir o alimento sadio e barato para dezenas de milhões de cidadãos.

Apesar disso, como podemos comprovar pela excelente reportagem de Rafael Walendorff, intitulada “Embrapa busca alternativas para se financiar”, publicada no Valor Econômico, de 31 de janeiro, a Embrapa está empenhada em concretizar, a todo custo, alternativas para financiar o seu trabalho, porque aqueles que proclamam discursos vazios não adotam ações reais que permitam que empresa permaneça apenas focada na realização de sua relevante missão.

Evidentemente, a Embrapa não está de braços cruzados, tem levantado e encaminhado alternativas para aumentar os seus recursos, preocupada em não ficar na dependência de algumas fontes que vivem ao sabor do jogo político e da maior ou menor consciência de governantes, empresários e parlamentares de plantão.

É preciso superar o nível do discurso, abrir mão de narrativas que não se concretizam na prática para que possamos, de uma vez por todas, priorizar o que é estratégico para o país, favorecendo um setor importantíssimo da economia nacional e para a sociedade como um todo.

Enquanto bilhões de reais se deslocam, em grande parte sem transparência e sem compromisso com o desenvolvimento da nação, como acontece nas emendas parlamentares, instituições como a Embrapa vivem correndo o pires por aí. E a gente pergunta: por que o lobby da bancada do agronegócio não encampa as demandas e necessidades da Embrapa, já que ele usufrui, com grande vantagem, das pesquisas e dos trabalhos de extensão que ela realiza? Enfim, por que os que se beneficiam da existência e do trabalho de uma empresa como a Embrapa, ficam mudos e surdos diante de uma situação que pode ser considerada no mínimo como lamentável?

A Embrapa não precisa de esmolas, precisa de ações concretas que estejam em conformidade com a sua indiscutível importância para o país.

Estados e municípios se orgulham (e têm que se orgulhar mesmo) de contar com uma ou mais unidades em seu território, mas o que têm feito para ajudarem a Embrapa quando ela mais necessita deles?  Faz sentido uma empresa como ela ficar preocupada em arrumar recursos para honrar suas contas e manter serviços básicos, como água e energia elétrica?

Continuamos acreditando que o Parlamento, a sociedade civil, a comunidade científica, esse Governo enfim, que tem proclamado compromisso com a solução do problema da fome, da oferta maior de alimentos para os brasileiros,, e o setor do agronegócio sairão dessa inércia que incomoda todos nós e contribuirão para a sobrevivência digna da Embrapa.

Vamos abraçar a Embrapa, patrimônio nacional. Os discursos vazios não enchem a barriga do povo brasileiro. Que os amigos da Embrapa estejam mobilizados para defende-la porque ela é nossa. Salve a Embrapa! Salvem a Embrapa!

Em tempo: não sou servidor da Embrapa, nem presto serviços a ela, mas apenas um cidadão brasileiro que conhece a sua trajetória e a sua contribuição para o país. Eu sei o que a Embrapa faz, mas sei também que os governantes, o Parlamento, a bancada do agronegócio e a sociedade não têm feito muito por ela. Até quando?

Wilson da Costa Bueno – Professor sênior da Universidade de São Paulo. Tem mestrado e doutorado em Comunicação/Jornalismo pela USP, tendo já orientado cerca de 120 dissertações e teses em Comunicação/Jornalismo. Vários livros publicados e dezenas de capítulos de livros ou artigos em periódicos nacionais e internacionais. Consultor em Comunicação Corporativa/Organizacional para diagnósticos em Comunicação e elaboração de políticas de comunicação para empresas e instituições públicas e privadas (Embrapa, vários institutos federais – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Parque Tecnológico da Universidade Federal de Juiz de Fora, Universidade Federal do Amapá, Universidade Estadual de Santa Catarina, dentre outras). Professor de cursos in company na área de Comunicação Corporativa/Organizacional e Jornalismo Especializado.

Envolverde