Espécie símbolo do estado de São Paulo é alvo de estudos do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas há 35 anos
Dia 28 de fevereiro comemora-se no Brasil o Dia do Mico-Leão-Preto (Portaria nº 4, de 17 de setembro de 2018). Primata considerado “em perigo de extinção”, nas listas de espécies ameaçadas internacional, brasileira e estadual, o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) existe apenas na porção oeste e sul do estado de São Paulo, nos remanescentes de Mata Atlântica de Interior e matas ciliares, e tem um papel importante nessa porção florestal.
Devido à intensa devastação dessa floresta e fragmentação de seu habitat, a espécie sofreu uma redução significativa da população a aproximadamente 1500 indivíduos. Para se ter uma ideia, o mico-leão-preto foi considerado extinto por 65 anos, devido à ausência de registros na natureza, até sua redescoberta em 1970. Felizmente, com os esforços de conservação de organizações socioambientais e governamentais, hoje o mico-leão-preto tem um futuro mais promissor.
Assim como outros primatas, o mico é uma espécie sentinela, que indica a saúde de um ambiente (por exemplo, se uma área é afetada pelo mosquito da febre amarela, são os primeiros a sentirem o impacto), e também é um bom dispersor de sementes, auxiliando na manutenção das florestas dos locais onde vive.
Por ser uma espécie tão especial, que no mundo só existe em uma área restrita de São Paulo, o mico-leão-preto é considerado a espécie símbolo do estado.
Pesquisas para conservação do Mico-Leão-Preto
O IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas comemora, em 2019, os 35 anos de trabalho em favor da conservação dessa espécie. Os esforços acontecem na região do Pontal do Paranapanema, extremo oeste de SP, por meio do Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto. Ali, pesquisas científicas sobre comportamento e saúde da espécie são complementadas por atividades de mobilização da comunidade, educação ambiental e restauração florestal, que garantam a sobrevivência dos micos em longo prazo. O Instituto é o responsável por dados científicos que são utilizados na composição de políticas públicas para a proteção desse animal, como na ocasião criação da Estação Ecológica Mico-Leão-Preto (ESEC-MLP).
Outra ação relevante para a conservação do mico-leão-preto foi o estabelecimento do maior corredor de floresta restaurada do Brasil. Como a Mata Atlântica no Oeste de São Paulo é extremamente fragmentada em pequenas áreas de mata, os animais sofrem com o isolamento, correndo riscos de se extinguir por falta de hábitat, de alimento e de pares reprodutivos. Uma das iniciativas do IPÊ foi justamente plantar um corredor de mata que conecta duas grandes áreas florestais na região do Pontal do Paranapanema, a ESEC-MLP e o Parque Estadual Morro do Diabo. Com 2,7 milhões de árvores nativas, o corredor tem cerca de 20 quilômetros de extensão e é uma estratégia para que os animais possam transitar em uma área mais ampla, aumentando as chances de abrigo, alimentação e reprodução.
O Corredor da Mata Atlântica, como é chamado, já é percorrido por diversas espécies, inclusive de mamíferos de grande porte como a onça e a anta, segundo pesquisas feitas com armadilhas fotográficas. O uso da área pelos micos já é investigado, mas como a espécie utiliza ocos de árvores como abrigo contra predadores, e as árvores do corredor são muito recentes e ainda não os possuem, os pesquisadores do IPÊ testam atualmente ocos artificiais em algumas áreas próximas a este corredor, para verificar a aderência do animal aos novos abrigos. O acompanhamento desses ocos tem mostrado o sucesso da estratégia com dois grupos já usando os ocos artificiais. Logo eles também se beneficiarão desses abrigos na área reflorestada.
Para celebrar o Dia do Mico-Leão-Preto, o IPÊ promoverá uma série de atividades com a comunidade local no Pontal do Paranapanema e também com os parceiros como o Parque Estadual Morro do Diabo. A agenda será publicada nas redes sociais do @institutoipe.
Curiosidades
O Brasil tem quatro espécies de micos-leões que só existem aqui, na Mata Atlântica. O mico-leão-dourado (mais popular e que vive nas matas do Rio de Janeiro), o mico-leão-da-cara-dourada (que vive em território baiano), o mico-leão-de-cara-preta (que ocorre apenas no litoral sul de São Paulo e norte do Paraná) e o mico-leão-preto (que vive exclusivamente na Mata Atlântica de interior do estado de São Paulo, especialmente na porção oeste).
Os micos-leões-pretos pesam cerca de 600 gramas quando adultos. Têm o corpo coberto por uma pelagem longa, predominantemente preta, com exceção do dorso, que apresenta coloração alaranjada. Recebem esse nome por conta da pelagem da cabeça, que se assemelha a uma juba de leão.
Vivem em grupos familiares de 2 a 8 indivíduos. Cada grupo é composto por uma fêmea dominante, um a dois machos reprodutivos e os filhotes e juvenis do casal, que permanecem no grupo até atingirem a maturidade sexual e dispersarem para a formação de seus próprios grupos familiares. A fêmea geralmente dá à luz gêmeos, uma vez ao ano, após uma gestação de aproximadamente 4 meses. Os demais integrantes do grupo auxiliam no cuidado parental até que o filhote possa se locomover sozinho. Eles se comunicam entre si, emitindo diversos tipos de vocalizações, tanto para os membros do próprio grupo, como de grupos vizinhos.
Como são animais territorialistas, cada grupo utiliza uma área que pode variar de 40 a 400 hectares. Eles realizam suas atividades durante o dia, e à noite se abrigam em ocos de árvores para dormir. Geralmente, quando os pesquisadores precisam fazer estudos de observação, precisam estar atentos aos ocos onde os micos dormiram na noite anterior e acompanhá-los logo pela manhã. Eles não saem do oco durante a noite.
Alimentam-se majoritariamente de frutos, mas também de invertebrados, pequenos vertebrados, como lagartixas, aves e pererecas, goma (das árvores) e flores. Seus principais predadores são as aves de rapina, serpentes, iraras e alguns felinos.
Foto destaque Gabriela Cabral Rezende / Arquivo IPÊ
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