*Por Philip Martin Fearnside – revista ECO21 –
O momento político no Brasil está repleto de ameaças de diversos retrocessos; algumas são administrativas, tais como promessas para abolir o Ministério do Meio Ambiente, expulsar ONGs internacionais como Greenpeace e WWF e tirar qualquer verba governamental que beneficie “ativistas”. Também há ameaças de grandes cortes orçamentários para Ciência e Tecnologia.
Outras propostas incluem “vender” as terras Indígenas e “relaxar” o licenciamento ambiental para obras como rodovias e barragens, além de outros para acabar, de fato, com licenciamento. Os impactos sociais de muitas dessas obras não podem ser desfeitos depois, por exemplo, da destruição de comunidades ribeirinhas ou indígenas, junto com os seus meios de sustento. O mesmo se aplica aos impactos ambientais.
A proposta para o Brasil abandonar o Acordo de Paris sobre o controle de aquecimento global é uma das ameaças com consequências mais irreversíveis. A Floresta Amazônica enfrenta um processo assustador de degradação por meio de exploração madeireira, grandes secas, enchentes e vendavais,incêndios florestais, invasões biológicas de lianas e bambu, e fragmentação.
Além dessas consequências tem as perdas pelo desmatamento, cuja taxa anual aumentou em 52% de 4.571 para 6.947 km2 entre 2012 e 2017.
Pontos de desequilíbrio (“tipping points”) para a floresta amazônica já estão muito próximos, tanto pelo avanço do desmatamento como pelo aumento da temperatura global.
Os enormes estoques de carbono na vegetação e no solo na Amazônia colocam a região no centro de preocupações sobre um “Efeito Estufa em Fuga” (“runaway greenhouse”), quando qualquer liberação substancial deste carbono para a atmosfera dificultaria o controle do aquecimento global. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) liberado em 8 deste mês (Outubro) ampliou a divulgação sobre a existência e a proximidade deste perigo planetário.
Infelizmente, a negação da existência de aquecimento global antropogênico, que representa um corrente influente no Brasil, já chegou na esfera de debates presidenciais. Esta é uma fórmula para provocar degradação irreversível na Amazônia, além de impactos trágicos no mundo inteiro.
O momento político no Brasil já está, em grande parte, dominado por outros assuntos: petismo versus antipetismo e a exaltação geral contra corrupção e violência. Questões socioambientais estão sendo colocadas de lado frente à polarização sobre esses outros assuntos. Há diversos relatos sobre brigas entre familiares devido a divergências políticas. No entanto, são as questões socioambientais da Amazônia que irão perdurar.
Estas questões são de suma importância para o País e estarão presentes muito além de um mandato presidencial. Reconhecer e enfrentar as ameaças ao ambiente amazônico deve ser algo que unifica o País, mesmo no meio das rixas do atual momento político.
*Philip Martin Fearnside | Doutor em Ecologia e Biologia Evolucionária. Pesquisador titular do INPA
(Envolverde)