Ambiente

Relatório registra a descoberta de 20 espécies de mamíferos na Amazônia

Rica em biodiversidade, a Floresta Amazônica ainda surpreende os pesquisadores. Entre os anos de 2014 e 2015, foram descobertas 20 novas espécies de mamíferos na região. Os dados estão no relatório realizado pelo World Wide Fund for Nature (WWF) e Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Tecnologia, Inovações e Comunicações. Entre as descobertas, estão o carismático Zogue-zogue Rabo de Fogo, duas espécies fósseis e uma de golfinho fluvial, que se configura como a primeira descoberta desse tipo no último século.

De grande extensão, a região abarca o Brasil, a Bolívia, a Colômbia, o Equador, a Guiana Francesa, a Guiana, o Peru, o Suriname e a Venezuela. Para o desenvolvimento da publicação, foram consideradas como área de amostragem a Amazônia Hidrográfica, a Amazônia Ecológica e a Amazônia Política.

O desenvolvimento do relatório foi possível a partir do levantamento bibliográfico com descrições de mamíferos e consulta a pesquisadores especialistas na área. A maioria das espécies de mamíferos recém-descobertas já eram conhecidas. O levantamento foi realizado com base na consulta em coleções amazônicas e a especialistas. Foram mais de 60 publicações científicas analisadas.

Entre as novas descobertas registradas entre 2014 e 2015, destaca-se uma nova espécie de golfinho fluvial. Os botos fazem parte do imaginário coletivo na Amazônia e são facilmente avistados nos rios da região. A descrição da espécie Inia araguaiaensis, desconhecida pela ciência até 2014, foi possível a partir da análise de carcaças encontradas em um lago do rio Araguaia, em Goiás. Os especialistas acreditam que essa espécie tenha se separado das populações da bacia do Amazonas há quase três milhões de anos. As análises dos ossos do crânio demonstraram que a espécie se distingue das outras duas do gênero Inia conhecidas atualmente, o boto da Amazônia e o boto da Bolívia.

O relatório destaca que a nova espécie descrita tem sua distribuição restrita às bacias dos rios Araguaia e Tocantins, regiões sujeitas à construção de hidrelétricas e indústrias, além de outras atividades que se configuram como potenciais ameaças à espécie.

Miriam Marmontel, pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, disse que a descoberta é interessante por tratar-se de uma espécie distinta e de grande porte, que foi identificada por meios genéticos e morfométricos. “Ainda pouco se sabe da ecologia da nova espécie, mas suspeita-se que tenha distribuição limitada às bacias dos rios Araguaia e Tocantins, e que não exceda mais de 1000 indivíduos. Considerando as atividades antropogênicas correntes na região, como hidrelétricas, agricultura, pecuária e indústria, a nova espécie já pode estar em situação preocupante de conservação”, comentou.

A pesquisadora também enfatizou a importância de que estratégias de conservação de espécies devem levar em conta suas características ecológicas e demográficas. “A identificação da nova espécie, com distribuição limitada e abundância aparentemente baixa, ocorrendo em locais sob variadas pressões antrópicas, sinaliza para uma atenção especial, diferenciada do que se consideraria para, por exemplo, a espécie Inia geoffrensis, que se encontra muito mais amplamente distribuída pela bacia amazônica, embora também sofrendo pressões”, disse.

Outra espécie de destaque que compõe o relatório é o Zogue-zogue Rabo de Fogo (Plecturocebus miltoni). A distribuição geográfica do Zogue-zogue recém-descoberto é o interflúvio dos rios Roosevelt e Aripuanã, nos estados do Mato Grosso e Amazonas. A área de ocorrência do primata, endêmico do Brasil, está nos limites de importantes unidades de conservação: a Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Aripuanã e o Parque Nacional dos Campos Amazônicos.

A publicação com a descrição do primata foi um trabalho conjunto dos pesquisadores Júlio César Dalponte, do Instituto para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais (Pró-Carnívoros), Felipe Ennes, do Instituto Mamirauá, e José de Souza e Silva Júnior, conhecido como Cazuza, coordenador de Zoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Júlio Dalponte espera que a descrição da espécie possa contribuir para iniciativas que preservem o uso sustentável da floresta e também alavancar pesquisas na região, e sugere que esse carismático primata poderia ser a espécie-bandeira da campanha de defesa da causa. “O sonho é poder estabelecer um núcleo de pesquisa e conservação na RESEX Guariba-Roosevelt, coração da terra do rabo-de-fogo, tendo essa nova espécie como carro-chefe da conservação da região noroeste. E que ajude a manutenção do uso sustentável da floresta, de certa forma já promovida por comunidades extrativistas de castanha-do-Brasil, localmente”, disse.

De acordo com o pesquisador, após a descrição da espécie, o próximo passo seria o estudo sobre a ecologia e a história natural da espécie, além da verificação da sua ocorrência em outras porções da sua área de distribuição conhecida atualmente.

O relatório

Esses resultados fazem parte do Relatório de Novas Espécies de Vertebrados e Plantas na Amazônia entre 2014 e 2015. A publicação, desenvolvida pela WWF e pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Ao todo, foram 381 novas espécies descritas no período na Amazônia, sendo 216 plantas, 93 peixes, 32 anfíbios, 19 répteis, 01 ave e 20 mamíferos.

Leia o relatório “Atualização e Composição da lista Novas espécies de Vertebrados e Plantas na Amazônia (2014-2015) ” aqui.

Texto: Amanda Lelis