Por Amy Fallon, da IPS –
Kampong Speu, Camboja, 29/9/2016 – Como ocorre em outras partes do Camboja, a escassez de chuvas na província de Kampong Speu pode prejudicar a produção de alimentos. “A seca afeta grandemente os cultivos”, disse Vann Khen, um agricultor de 48 anos do distrito de Amlaing. Esse pai de três filhos cultiva milho para consumo de sua família, além de criar vacas, porcos, frangos e patos para vender.
O que piorava a situação dos agricultores de Kampong Speu, que fica 65 quilômetros a oeste da capital, Phnom Penh, e tem 700 mil habitantes, é que um canal de água de 770 metros de comprimento, construído durante a ditadura do Khmer Vermelho (1975-1979), que precisava de reparos urgentes para que os agricultores pudessem ter acesso a água para irrigação.
Em cada sistema de irrigação, uma zona de comando normalmente permite aos produtores o acesso a água. Mas, em muitos casos, a falta de manutenção, destruição devido a inundação ou por animais, e o funcionamento incorreto das tubulações ou comportas pode impedir esse acesso, afirmam funcionários da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Camboja.
Em outros casos, se o sistema de irrigação não é construído corretamente, ou a nivelação do terreno não está correta, a água não flui. Portanto, quem não tem acesso a água depende principalmente da chuva. Durante os períodos de escassez e seca, esses agricultores sofrem as consequências.
Kampong Speu sofreu o outro extremo das condições meteorológicas, com inundações e tempestades. Mas a província experimentou graves secas em 1987, 1999, 2000 e nos últimos dois anos. “Em 2015 e 2016, como aconteceu em outros países, o Camboja foi afetado pelo fenômeno meteorológico El Niño, com consequências na produção de cultivos”, explicou à IPS, Proyuth Ly, da FAO.
Os períodos de seca são o “risco mais importante” que ameaça a agricultura em Kampong Speu, segundo Ly. O setor é um dos mais afetados pela seca e esta prejudica particularmente os pequenos produtores. Calcula-se que o fenômeno afete dezenas de milhares de famílias todos os anos, e que “milhões” de dólares são dedicados a salvar vidas e recuperar os meios de produção, apontou.
“A colheita do ano passado não foi boa. Só consegui US$ 500 no total”, disse Phal Vannak, de 28 anos e três filhos, que cultiva principalmente milho e arroz. Com o milho só ganhou US$ 100 devido ao atraso nas chuvas. Ele é presidente do Grupo de Agricultores Usuários de Água do sistema de irrigação de Kampong Speu, que tem como membros 500 famílias de seis povoados. “Os agricultores não estavam contentes (em 2015) porque necessitavam de água para seus arrozais”, acrescentou.
Depois de um pedido de ajuda feito pelo Ministério de Agricultura, Florestas e Pesca cambojano, a FAO, com fundos da Comissão Europeia, reabilitou o canal. “A FAO no Camboja reabilitou o canal para garantir que a água flua corretamente para os produtores. Isso implicou a reabilitação do corredor de canal, o fortalecimento das ladeiras, e a construção ou reabilitação das comportas”, contou Etienne Careme, funcionário encarregado das operações.
O projeto, de três meses de duração, ao custo de US$ 80 mil, foi concluído em dezembro, e incluiu a criação de um software para capacitar os agricultores na gestão da água. Hoje em dia, embora Kampong Speu continue sofrendo um período de seca, o arroz cresce em campos verdes. O sistema de irrigação está conectado a um riacho que fica a 32 quilômetros da montanha Aoral, a fonte principal, e pode fornecer água a 400 hectares de arrozais.
“A água salvou esse cultivo”, afirmou Ly em recente viagem a Kampong Speu para supervisionar o sistema de irrigação e se informar sobre as necessidades dos agricultores. Vannak afirmou que a colheita dessa temporada já superou a de 2015. “Quando soube que o canal estava sendo reparado, fiquei contente porque algumas pessoas já não têm água para salvar seus cultivos”, destacou, pegando um punhado de milho nas mãos.
Khen também expressou sua alegria: “podemos abrir ou fechar a comporta, que nos permite regular a água e distribuí-la melhor aos agricultores da comunidade”. Careme ressaltou o que a restauração do sistema de irrigação melhorou a produção de arroz. Envolverde/IPS