Agência Acadêmica –
A preocupação com o meio ambiente registrou um crescimento significativo entre os jovens brasileiros, conforme aponta pesquisa realizada pelo Centro de Estudos SoU_Ciência, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com jovens de jovens de 18 a 27 anos de todo Brasil. A crise ambiental e hídrica é apontada por 24% dos jovens como um dos principais problemas do país, número que representa um crescimento de 243% em relação ao levantamento realizado em 2021, quando apenas 7% mencionavam o tema. Com isso, a conservação do meio ambiente assumiu a quarta posição entre os maiores desafios nacionais, superado por corrupção, violência e falta de segurança, e saúde.
“Os números da pesquisa são mais do que claros para mostrar que os jovens estão não só atentos às mudanças climáticas, mas também preocupados com os seus efeitos e consequências; eles serão a geração mais afetada”, analisa Pedro Arantes, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do levantamento. Ele destaca eventos recentes: “Os jovens parecem estar mais informados do que o restante da população e percebendo que eventos extremos estão se tornando recorrentes. As enchentes no Rio Grande do Sul, a seca na Amazônia, as queimadas no Cerrado e no Pantanal são sinais de que o seu futuro pode estar comprometido por catástrofes ambientais irreversíveis”.
A pesquisa revela que o aumento da preocupação ambiental é generalizado entre diversas classes sociais, religiões e grupos raciais. No entanto, algumas disparidades são perceptíveis. As mulheres demonstram maior preocupação que os homens: 27% contra 19%. No campo ideológico, a questão ambiental é mais relevante entre jovens que se identificam com a esquerda ou centro-esquerda (32%). Entre os de centro, o índice cai para 17%, enquanto 23% dos jovens de direita ou centro-direita mencionam o meio ambiente como prioridade.
Em relação à escolaridade, 5% dos jovens com ensino até a terceira série do fundamental se preocupam com o meio ambiente, uma proporção muito menor que a registrada entre jovens com ensino médio ou superior, onde os índices se equilibram na média de 24%.
Diferenças regionais – Regionalmente, as diferenças são expressivas. No Centro-Oeste, 29% dos jovens apontam o meio ambiente como a segunda maior preocupação, atrás apenas da corrupção (33%) e à frente da violência e falta de segurança (24%). O mesmo cenário se vê no Sul: a pauta ambiental ocupa a segunda posição, com 27%, atrás da corrupção (38%) e à frente da violência (25%). Por outro lado, no Sudeste, o índice é mais baixo, com 21% dos jovens mencionando o tema, enquanto outras preocupações como desemprego e saúde ganham mais destaque.
O crescimento de 243% na percepção do meio ambiente como problema central mostra que os jovens estão mais atentos às consequências de políticas ambientais negligentes e à necessidade de ações imediatas. Essa preocupação é reforçada pela maior disseminação de informações sobre crises climáticas e o impacto ambiental no futuro das próximas gerações.
O levantamento sugere que a pauta ambiental, antes secundária, está se consolidando entre as novas gerações como um tema prioritário. “Esse movimento pode influenciar diretamente a agenda política, pressionando líderes e governantes a adotar medidas mais efetivas para a preservação dos recursos naturais e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”, acredita Pedro Arantes.
Mais revelações – A pesquisa do SoU_Ciência traz outras revelações importantes:
- Os jovens são mais favoráveis à legalização do aborto do que à legalização da maconha: 41% e 33%, respectivamente.
- Ansiedade e depressão são os principais problemas que preocupam os jovens. Esses transtornos foram citados por 38% dos jovens, liderando o ranking de preocupações, um aumento em relação a 2021, quando estavam em terceiro lugar, com 32%.
- O maior problema do Brasil é corrupção (34%), seguido pela violência e falta de segurança (30%).
- No campo profissional, a principal aspiração é ter o próprio negócio, apontada por 30% dos entrevistados, enquanto apenas 11% disseram almejar emprego com carteira assinada.
- No campo político-ideológico 58% declaram não fazer parte nem da direita nem da esquerda, segmentos que são representados por 17% e 16%, respectivamente, dos jovens. 9% se definem como de centro.
A pesquisa “O que pensam os jovens brasileiros” foi realizada pelo Centro Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (Sou_Ciência), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA.
Entre 16 e 23 de setembro de 2024 foram entrevistados 1.034 jovens de 18 a 27 anos, de todas as regiões do país, via telefone celular. Os dados foram ajustados com base no censo mais recente do IBGE para refletir o perfil real da juventude brasileira.
A margem de erro é de 3 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%. Para garantir resultados precisos, os questionários passaram por uma rigorosa checagem de qualidade. As 55 perguntas do questionário abordaram temas relacionados a aspectos da vida pessoal, estudantil e profissional dos jovens, suas perspectivas de futuro, posições ideológicas e percepções sobre o país.
GRÁFICO – Principais problemas do Brasil, segundo jovens, em 2021 e 2024.
(A pergunta permite até três respostas. Em 2021, respostas de jovens de 16 a 29 anos. Em 2024, de 18 a 27 anos).
Fonte: SoU_Ciência/Instituto IDEIA, out/21 e set/24.
TABELA – Variação entre 2021 e 2024 na indicação dos principais problemas do Brasil segundo os jovens. (Em 2021, respostas de jovens de 16 a 29 anos. Em 2024, de 18 a 27 anos)
Fonte: SoU_Ciência/Instituto IDEIA, out/21 e set/24.