Por Manipadma Jena, da IPS –
Nova Délhi, Índia, 21/2/2017 – Jaipal Hembrum dirige três empresas individuais em sua casa – uma oficina de conserto de bicicletas, um pequeno posto de alimentação e uma alfaiataria –, em Kautuka, uma aldeia do leste da Índia. Esse homem de 38 anos, pai de três filhas, contou que duas lâmpadas elétricas alimentadas por um inovador sistema de energia solar mudaram sua vida. O acesso a eletricidade permitiria um notável avanço econômico da população rural da Índia, já que 237 milhões de pessoas, ou um quinto dos 1,3 bilhão de habitantes do país, carecem desse benefício.
O Centro para a Ciência e o Ambiente, com sede em Nova Délhi, calcula que, incluindo metade das famílias que se considera conectadas à rede elétrica nacional e que não recebem o fornecimento assegurado de seis horas ininterruptas, o total de pessoas sem eletricidade na Índia chegaria a 650 milhões.
As minirredes de energia renovável, particularmente nas aldeias remotas, são avaliadas como a melhor opção para atender a demanda local doméstica e comercial, gerando energia na fonte de consumo. Trata-se de um sistema descentralizado que proporciona um gerador de energia renovável com capacidade mínima de dez quilowatts ou mais.
Isso é confirmado pela Iniciativa Energia Inteligente para o Desenvolvimento Rural (SPRD) da Fundação Rockefeller, dos Estados Unidos, em dois dos Estados indianos mais pobres, Bihar e Uttar Pradesh, onde 16% e 36%, respectivamente, das famílias contam com energia elétrica. Cerca de 55% dos domicílios rurais na Índia têm acesso a energia, frequentemente de qualidade pouco confiável.
Iniciado em 2014, o projeto SPRD ajudou a estabelecer cerca de cem minirredes nos Estados de Uttar Pradesh, Bihar e Jharkhand. Segundo fontes da Fundação Rockefeller, as usinas atendem 38 mil clientes, incluídos mais de 6.500 famílias, 3.800 empresas e mais de 120 instituições, torres de telecomunicações e microempresas. No período de 2014 a 2017, a Fundação pretende mudar a situação em mil localidades sem eletricidade na Índia, beneficiando aproximadamente um milhão de habitantes rurais.
Para esse esforço, a instituição destinou US$ 75 milhões e se associou à Smart Power India, uma entidade desenhada para trabalhar em estreita colaboração com uma ampla gama de interessados que ajudam a ampliar o mercado de energia fora da rede nacional. Uma recente avaliação do impacto das minirredes em Bihar e Uttar Pradesh revela uma ampla gama de benefícios econômicos, sociais e ambientais.
Aumentou a quantidade de novas empresas e 70% das microempresas existentes informaram um número maior de clientes após sua conexão às minirredes, e 80% delas pretendem se expandir. Nove em cada dez usuários disseram que o tempo que seus filhos dedicam diariamente ao estudo aumentou duas horas desde que contam com eletricidade. As mulheres asseguram que agora têm maior mobilidade à noite, enquanto os casos de roubo diminuíram.
O uso de querosene e diesel caiu drasticamente a virtualmente zero. Microempresas como cibercafés, postos de gasolina, oficinas de reparação de móveis e ventiladores, bancos, escolas e hospitais formam o grupo de clientes comerciais de maior crescimento das minirredes construídas pela Smart Power India. Na aldeia de Shivpura, em Uttar Pradesh, onde a Tara Urja, uma pequena empresa de serviços de energia começou a fornecer eletricidade com uma planta solar de 30 quilowatts, Sandeep Jaiswal instalou um processador de purificação de água, em 2015.
Em pouco mais de um mês, ele já distribuía 1.200 litros de água com sua caminhonete nova para 40 clientes. A Tara o apoiou financeiramente com US$ 530 em troca de um contrato de um ano para adquirir eletricidade da empresa. A Smart Power India apoia o desenvolvimento de microempresas rurais mediante empréstimos e alianças com companhias maiores que contam com redes de valor rural, por exemplo, os centros comerciais das cidades que compram verduras das fazendas.
A sustentabilidade das empresas privadas no setor de fornecimento de energia rural depende de gerar renda suficiente no longo prazo. Para ser rentável e as empresas de energia de menor escala possam levar eletricidade às zonas rurais do mundo em desenvolvimento, o modelo da Smart Power garante renda estável aos setores de rápido crescimento com necessidades energéticas importantes, como as torres de telecomunicações.
“Existe a oportunidade de catalisar os setores de telecomunicações e de energia fora da rede. Atualmente, as torres de telefonia celular nas zonas rurais frequentemente são abastecidas por caros geradores movidos a diesel e as empresas buscam alternativas mais baratas, o que gera a possibilidade de uma âncora forte”, destacou Ashvin Dayal, diretor gerente para Ásia da Fundação Rockefeller.
As torres de telecomunicações, ao se converterem em clientes “âncora”, ajudam as empresas de energia a serem rentáveis. Dados oficiais mostram que as 350 mil torres existentes no país consomem dois bilhões de litros de diesel por ano. O desafio da Índia é atender suas necessidades energéticas sem comprometer a sustentabilidade ambiental, e ao mesmo tempo cumprir o compromisso de redução de emissões assumido no Acordo de Paris sobre mudança climática.
O custo da energia solar por unidade caiu para 0,045 centavos, tornando cada vez mais viável mudar para as minirredes de energia, o que economizaria consideráveis subsídios gastos com os combustíveis fósseis. Em 2016, o governo decidiu construir, nos cinco anos seguintes, dez mil minirredes com capacidade de 500 megawatts (MW), mas isso, evidentemente, não basta, afirmam os especialistas. A Índia tem potencial de quase 750 mil MW de energia solar.
Em todo o mundo, cerca de 1,3 bilhão de pessoas carecem de acesso a fontes de eletricidade confiáveis e acessíveis, sem as quais o aumento de sua renda, a melhora da segurança alimentar e da saúde, a educação das crianças e o acesso a serviços de informação fundamentais se convertem em um importante obstáculo. O acesso a energia é fundamental para alcançar vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. Envolverde/IPS