Por Busani Bafana, da IPS –
Cotonou, Benin, 23/2/2016 – A África consome mais arroz do que outros alimentos básicos, embora produza menos do que necessita. Este cereal tem o potencial de ajudar o continente, especificamente a África subsaariana, a sair da pobreza, segundo os pesquisadores. O arroz é a segunda fonte de calorias na região, de acordo com o Centro Africano do Arroz, conhecido como AfricaRice, uma organização dedicada à pesquisa, com sede em Abidjã, na Costa do Marfim.
A rápida urbanização africana impulsiona o crescimento do consumo de arroz, à taxa de 6% ao ano. “O arroz é importante para a segurança alimentar da África e as razões são claras”, segundo o subdiretor-geral da AfricaRice, Marco Wopereis. “Os consumidores gostam e o aumento do consumo é simplesmente impressionante, devido à mudança de preferências da população, já que as pessoas na cidade querem alimentos que possam ser preparados de forma rápida e que sejam fáceis de armazenar”, disse à IPS, acrescentando que “o arroz é perfeito para isso”.
De acordo com o pesquisador, a projeção é de que, em 25 anos, o mundo consumirá 110 milhões de toneladas a mais de arroz branco e que um terço desse consumo terá lugar na África. O arroz é cultivado em 40 dos 54 países africanos, e é a atividade e a fonte de renda agrícolas de maior importância para mais de 35 milhões de pequenos agricultores. Entretanto, a demanda atual de arroz supera a produção local, que atende apenas 60% das necessidades.
Como resultado, o continente gasta mais de US$ 5 bilhões por ano na importação de 12,5 milhões de toneladas do cereal. Isso equivale a 32% das importações mundiais de arroz, o que converte a África em um dos maiores importadores do produto e um ator importante em sua comercialização.Essa situação está mudando, assegura Wopereis, convencido de que o setor do arroz representa uma via para a África sair da pobreza. Em seu Plano Estratégico 2011-2020, a AfricaRice deu prioridade à melhora da produção e da qualidade do arroz africano.
“A partir de 2008, vimos um enorme aumento na produção, e o rendimento subiu 30%, chegando a 2,1 toneladas, em média, por hectare em 2012”, apontouWopereis.“Precisamos de um claro investimento dos setores públicos e privados para impulsionar o setor arrozeiro com ativação de políticas, porque atualmente importamos mais de 12 milhões de toneladas da arroz processado e, se não aumentarmos a produção, teremos que importar mais e mais, podendo enfrentar a mesma crise que tivemos em 2008”, advertiu.
A crise alimentar de 2008 sacudiu vários países da África subsaariana e obrigou governos, organismos internacionais e doadores a investirem em ambiciosos projetos de produção que deram bons resultados.Mais de 200 participantes, entre pesquisadores, sócios do setor privado e representantes governamentais de mais de 20 países da África, Ásia e Europa, se reuniram em Cotonou, no começo deste mês, para a Semana da Ciência da AfricaRice, a fim de fazer um balanço da evolução do setor arrozeiro em 2015.
A ocasião oferece uma oportunidade anual para a reflexão e o planejamento das atividades de pesquisa para o desenvolvimento relacionadas com o arroz em 2016, para o centro AfricaRice e seus sócios em todo o mundo.A pesquisa deu bons resultados mediante a adaptação de variedades autóctones e arroz, que ajudaram a desenvolver plantas mais resistentes e de alta produção. Cultivado há mais de três mil anos, o arroz africano, conhecido pelo nome científico de Oryzaglaberrima, é próprio do continente e se converteu em um cultivo econômico e político.
Nos últimos seis anos, aAfricaRice trabalhou com os governos para colocar em prática a estratégia arrozeira em cada país. Por exemplo, o Senegal, um dos principais produtores de arroz africano, identificou regiões que serão autossuficientes.A melhora sustentável da produção, o processamento e a comercialização do arroz são alguns dos desafios que devem ser vencidos para transformar este cereal na chave da África para a segurança alimentar e econômica.
O continente tem as tecnologias necessárias, mas deve vincular-se com outros atores, como o Banco de Desenvolvimento Africano, e com o setor privado para melhorá-las. A produção de arroz por hectare deveria ser aumentada com variedades melhoradas de sementes, máquinas e minicolheitadeiras.
AAfricaRice está realizando um estudo sobre o que implicaria a autossuficiência para a África subsaariana em 2025. Estima-se que seriam necessários US$ 20 bilhões em investimentos para alcançar a autossuficiência em dez anos, mediante melhor gestão das terras dedicadas ao arroz existentes, aumento da produção e, dentro do possível, o duplo cultivo.O centro de pesquisa desenvolveu em 2013 sete variedades de arroz de alto rendimento, conhecidas como AdvancedRice Varieties for Africa (Arica), que toleram inundações, salinidade, toxidade do ferro e frio.
Moussa Sie, um produtor da AfricaRice e coordenador do Grupo de Trabalho de Cultivos de Arroz na África, ressaltou que as variedades Arica ajudarão a aumentar os tipos de arroz disponíveis e também a produção em pelo menos 40%.As Arica foram desenvolvidas com o emprego de ferramentas de seleção participativa de variedades que os criadores utilizam, para envolver os agricultores no desenvolvimento do que seja adequado para suas necessidades e condições, diante das inundações e secas como consequência da mudança climática.
“Estamos trabalhando para desenvolver variedades que sejam mais fortes e mais preparadas para as ameaças da mudança climática, porque o arroz é cultivado principalmente por agricultores pobres”, explicou Sie à IPS. A publicação de referência sobre a pesquisa arrozeira na África, RealisingAfrica’sRice Promise, assegura que este alimento básico é o futuro do continente.
O estudo, uma colaboração internacional de cem especialistas, diz que o aumento sustentável da produção e da produtividade, a melhora da qualidade e a comercialização são a chave para transformar o setor.“O arroz é fundamental para a segurança alimentar e a estabilidade política na África, e tem o maior potencial para impulsionar o crescimento econômico”, afirma o estudo. Envolverde/IPS