Política Pública

Réquiem para a imprensa verde

Na última capa, a esperança traduzida na preservação das araras-azuis-de-lear. Foto: Divulgação
Na última capa, a esperança traduzida na preservação das araras-azuis-de-lear. Foto: Divulgação

Mais longeva e educativa publicação do país, Folha do Meio Ambiente deixa de ser impressa por falta de publicidade e apoio governamental.

Por Hiram Firmino, da Revista Ecológico – 

Prezados governantes, empresas e agências de publicidade que tanto abordam a questão ambiental, ganham votos, esperança da população e aumento de seus produtos e imagem institucional.

Vocês não precisam negar mais qualquer pedido de parceria ao jornalista e editor da Folha do Meio Ambiente, Silvestre Gorgulho. Pelo menos de maneira impressa, nem ele nem a sua publicação existem mais, mesmo em se tratando de uma pauta que deveria fazer parte da preocupação maior da humanidade – principalmente dos políticos. É o que ele explica em seu último editorial impresso, ilustrado pelas araras-azuis-de-lear e com o subtítulo ainda teimoso: “A esperança é azul”. É o que, solidária, a Ecológico reproduz aqui:

Silvestre Gorgulho, o penúltimo dos moicanos impressos: agora, só na web. Foto: Katarine Almeida
Silvestre Gorgulho, o penúltimo dos moicanos impressos: agora, só na web. Foto: Katarine Almeida

Foram 26 anos de um trabalho pioneiro, intenso e cidadão. A primeira edição da Folha do Meio Ambiente saiu em junho de 1989. Três anos antes da RIO-92, a grande Conferência da ONU, no Rio de Janeiro, em 1992. Nesses 26 anos, a FMA plantou raízes profundas de cidadania e de conscientização ambiental. O jornal nasceu longe de qualquer empresa ou fundação isoladamente. Sobreviveu essas quase três décadas graças, unicamente, ao apoio de seus assinantes e de algumas parcerias publicitárias.

Mais do que um lance de ousadia, foram 26 anos – por assim dizer – de crença. E de esperança. De quem, na aspereza do hoje, ainda tem tempo para se preocupar com o amanhã. E, diante do pesadelo da destruição, acreditou e acredita no valor da cidadania e da educação ambiental, como única fórmula capaz de embalar os sonhos de um bem-viver. Dadas as imensas dificuldades, a FMA precisou se renovar. Por vários motivos. Além da diminuição dos assinantes, há também a forte e irreversível migração das edições impressas para a web. Sabemos da importância da edição impressa, especialmente para as seis mil escolas que recebem o jornal para qualificar suas aulas de educação ambiental. Mas a recessão do apoio publicitário, o alto custo do papel, da impressão, da manipulação e da postagem obrigou-nos a migrar para a edição on-line. Essa migração significa a sobrevivência de um veículo que continuará cumprindo seu papel em outra plataforma de mídia. A partir deste ano, a Folha do Meio Ambiente continuará tendo sua edição mensal, com atualizações diárias de notícias, apenas na web. E, o que é importante, oferecendo a seus leitores todo o acervo de notícias, reportagens, entrevistas e artigos publicados nesta rica e prazerosa história de 26 anos de edição impressa.(Revista Ecológico/ #Envolverde)

* Publicado originalmente no site da Revista Ecológico.