ODS16

É o ambientalismo uma ideologia Marxista?

por Samyra Crespo – 

Comecei uma série de reflexões que intentam enfrentar o debate – no campo político – de questões relativamente novas, postas à opinião pública. Seria o AMBIENTALISMO uma ideologia marxista?

Uma ideologia contrária aos supostos valores da sociedade brasileira que este GOVERNO, recém empossado diz defender?

Este texto guarda relação estreita com o que publiquei ontem.

Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que insistir que o ambientalismo é marxista ou que se insere ao que se chama de ‘marxismo cultural’ incorre em erro ou má fé.

ste posicionamento demonstra profundo ou mal intencionado desconhecimento das origens e prática do ambientalismo contemporâneo. Faz portanto uso de estereótipos que visam desacreditar aqueles que lutam, que militam pela defesa da vida e por um Planeta saudável, equilibrado, bom para se viver.

Oculta interesses que precisam ser revelados e debatidos pela sociedade que definirá então sua legitimidade.
As raízes históricas do movimento ambientalista nascem com duas vertentes bem definidas: a conservacionista, a mais estruturante – da qual não falarei hoje – e a que se nutre no caldeirão contestatário, anti-sistemico do Pós-Guerra.

O conservacionismo é uma tradição que atravessa épocas e José Augusto Pádua, historiador (e por um tempo dirigente do Greenpeace no Brasil) encontra raízes dessa tradição no patriarca José Bonifácio, que além de político era geólogo. Falarei mais extensamente dessa corrente, repito estruturante, amanhã. Mas posso adiantar que o conservacionismo pode ser chamado de tudo, menos de marxista.

No mundo, a versão moderna e contemporânea do ambientalismo se nutre de duas correntes renovadoras e humanistas da cultura: a pacifista e a anti-sistema que vai dar origem ao que cunhamos de ” cultura alternativa”. Paz e amor, se quiserem. Um revalorização da natureza, da vida simples em função de uma Europa de cenários devastados pela Guerra.

Repúdio ao prenúncio de uma possível Guerra Nuclear, bastante próxima à geração que viveu os ataques mortais à Hiroshima e Nagasaki.

Nunca, em tempo algum o ambientalismo foi identificado com a agenda da classe operária, ou dos países da Cortina de Ferro que tinham como país hegemônico a Rússia.

Ao contrário, o ambientalismo em sua origem era visto como um movimento de classe média, urbano, defensor da pluralidade política e de defesa dos direitos individuais. Opunha-se fortemente à tensão criada pelos Senhores da Guerra e à destruição da natureza. Seu viés libertário fazia com que os comunistas da época debochassem do ambientalismo como se fora uma nova versão do superado anarquismo.

Cansei de ouvir de amigos marxistas que nós preferiamos ” coçar barriga de macaquinho na floresta do que cuidar de criança pobre”.

Claro que toda essa história de um movimento pulsante vai sofrer mudanças nas décadas seguintes, principalmente quando o ideário marxista enfraquece e cai o Muro de Berlim (anos 80).

Surgem os Verdes (partidos políticos) com o seu lema “nem à esquerda nem à direita, mas à frente” e uma corrente minoritária, desprezível em termos numéricos e da importância política, chamada de ecossocialista – que perdeu terreno definitivamente para o SUSTENTABILISMO dos anos 90.

Para não dizer que não falei de flores, os chamados verdes-melancia tiveram algum protagonismo com o que ganhou no Brasil o nome de SOCIOAMBIENTALISMO, de bases comunitárias atentem bem, não operárias.

Mas também da ascensão e queda dessa vertente diante do rolo compressor do SUSTENTABILISMO falarei mais adiante.

A saga continua.

Aguardo comentários e não apenas curtidas para o papo render.

Samyra Crespo se define como “ambientalista, otimista e amante do Brasil”Samyra Crespo