Por Cibele Quirino*
Enxada, pá de bico e cavadeira articulada ganham novos adeptos em São Paulo que compartilham do mesmo objetivo: tornar a cidade mais verde, em outras palavras um lugar melhor para se viver. No último final de semana, ao menos duas iniciativas seguiram nessa direção nas Zonas Leste e Sul com o plantio de árvores no espaço público.
Educação ambiental prática
No sábado, na Mooca, a Escola Municipal de Educação Especial Professora Neusa Bassetto, especializada no atendimento a crianças e jovens com deficiência auditiva /surdez, abriu os portões para a comunidade com programação de palestra e dinâmica sobre a importância das árvores no ambiente urbano, incluindo o plantio de um exemplar em frente à escola. A ação teve início com o contato feito pela coordenadora pedagógica dos perídos manhã e tarde, Heloísa Inês de Oliveira, com o Muda Mooca – grupo que planta árvores na cidade – com interesse em ampliar as ações de educação ambiental na escola. “Nossa parceria comemora um ano e temos evoluído, quando eles precisam doamos o adubo obtido por meio das composteiras que temos desde 2011 e eles entram com apresentações mais técnicas, o que foi um grande ganho”.
O engenheiro florestal Felipe Atoline, do Muda Mooca, priorizou exemplos mensuráveis, sobre os benefícios proporcionados pelas árvores. “Estudos mostram que uma região arborizada reduz em 50% a poeira de dentro das casas próximas, simplesmente pela retenção do material particulado nas folhas até a próxima chuva. Uma árvore grande com mais de 70 centímetros de diâmetro retira os poluentes do ar do volume equivalente ao que que quatro pessoas respiram em um ano. Já uma árvore pequena recém-plantada faz o mesmo pelo volume de ar que um bebê respira no mesmo período”. Na sequência o ambientalista Renato Suelotto, também do Muda Mooca, abordou os conceitos de espécies nativas e exóticas, árvore pioneira, deserto verde e a importância dos pássaros; tudo por meio de uma dinâmica que envolveu alunos, ex-alunos e professor.
O plantio da árvore nativa em frente à escola ficou para o final das atividades, mas representa o início de um novo olhar de muitos jovens em relação à natureza. A medida garante às crianças, em especial, a chance de acompanhar o desenvolvimento de um segundo exemplar plantado via a parceria. Uma atitude simples, mas com potencial de fazer a diferença a médio e longo prazo. O interesse do fundador do Muda Mooca, Danilo Biofonte, por exemplo, pelas árvores teve como ponto de partida o dia em que funcionários da prefeitura bateram à porta da sua casa, quando ele era uma criança, para que acompanhasse o plantio de uma árvore na calçada, logo ali em frente. Hoje, ações como essa se perderam por parte do poder público, mas outras iniciativas tentam recuperá-las e há quem ainda plante árvores na presença de crianças e para crianças.
Floresta na cidade
No domingo, foi a vez de uma área pública, mais especificamente a Praça Soichiro Honda ganhar uma floresta de bolso, com mais de 100 árvores, nas proximidades da Avenida 23 de maio e do Parque do Ibirapuera. A ação é uma iniciativa do Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – Cades Vila Mariana e da Agenda 21, com a orientação do botânico e ambientalista Ricardo Cardim e participação de funcionários da prefeitura.
A iniciativa que teve início nas negociações com o poder público há dois meses atraiu mais de 100 pessoas que tiveram a oportunidade de começar a contar uma nova história. “Escolhemos várias áreas e fomos construindo o diálogo com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, subprefeitura da Vila Mariana e com a Companhia de Engenharia de Tráfego – CET sobre os locais mais viáveis. O plantio de uma floresta traz outra relação entre as árvores que atende ao ecossistema que estamos querendo criar, com efeito de microclima maior. O plantio é o primeiro passo, a adoção das mudas pelas pessoas é essencial, precisamos que cuidem delas para chegar onde queremos. Também estamos sensibilizando os vizinhos do local com o mesmo objetivo”, pontua a conselheira titular do Cades Vila Mariana, Lara Freitas.
Segundo Ricardo Cardim, parceiro da iniciativa, trata-se de recuperar exemplares da mata nativa para cidade, algo que quase desapareceu. “Hoje 90% das espécies de plantas que temos em São Paulo são exóticas. Quem cresceu em São Paulo não sabe identificar uma árvore nativa, não aprendeu a saborear uma fruta nativa e queremos mudar isso. A floresta de bolso é uma técnica que reproduz a floresta nativa na sua competição natural, em pequenos espaços, adaptáveis à escala da cidade. Nesta floresta de bolso são cerca de 40 espécies de mata atlântica, muitas frutíferas, como o araçá roxo, araçá amarelo, uvaia, cabeludinha, novidades para a cidade. A ideia é espalhar essa dinâmica para outros bairros, onde as crianças possam crescer convivendo com a mata atlântica”.
Para Lara Freitas, a ocupação dos espaços públicos com mais qualidade de vida é um caminho sem volta. “Moradores de outros bairros, como Jabaquara, Ipiranga, Mooca, Brasilândia, além de cidades do ABC e Santos se aproximaram durante o processo buscando informações sobre como implantar a ação em outros locais. Acredito que a semente está lançada em terreno fértil”.
A ação teve ainda parceria com o viveiro Madre Tierra que doou as mudas, com o Ecobairro, o Novas Árvores por aí, SOS Resgate Abelhas sem Ferrão, Horta Comunitária da Saúde, Cades Jabaquara que forneceu os triturados da subprefeitura do Jabaquara para a cobertura, Hípica Altamira Vivencias que forneceu os compostos, Unifesp que cedeu o estacionamento para descarregamento das mudas. A água foi doada pela prefeitura. (#Envolverde)
* Cibele Quirino é jornalista freelancer pós-graduada em Meio Ambiente e Sociedade. Possui experiência também como coordenadora de comunicação. É autora de biografias da série de livros “Me conte a sua história”, programa voluntário com foco no bem-estar de idosos que vivem em instituições de longa permanência.