por Claudia Pimentel Riello – PAM
Um novo estudo do MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente) revela que a elevação do nível do mar está reduzindo a disponibilidade de habitat para diversas aves limícolas (que precisam de áreas úmidas e lodo dos estuários) migratórias no litoral da Amazônia. O Projeto Aves Migratórias, que conduz essa pesquisa em colaboração com o MARE, conta com o apoio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. A pesquisa realizada no remoto litoral do estado do Amapá alerta para a transformação gradual das planícies de maré, áreas fundamentais para a alimentação dessas aves durante suas longas migrações e temporadas de período não reprodutivo no país. Esse fenômeno pode estar ocorrendo em várias regiões do mundo, ameaçando globalmente muitas espécies que dependem das zonas úmidas costeiras para sobreviver.
“Nosso estudo mostra como as aves limícolas migratórias estão respondendo à ocupação gradual de planícies de maré por áreas resultantes da transgressão marinha. Utilizando sensoriamento remoto, levantamentos aéreos e terrestres, e amostragem de presas, buscamos entender esse fenômeno pouco estudado para apoiar a criação de Unidades de Conservação e aprimorar planos de manejo em áreas-chave do Amapá, como o Parna Cabo Orange, a Esec Maracá-Jipioca e a Rebio da Lagoa Piratuba”, ressalta Jason Mobley, Coordenador Técnico do Projeto Aves Migratórias.
Nem mesmo regiões remotas e preservadas, como o litoral da Amazônia, estão imunes ao impacto das mudanças ambientais. Idealizado pelo pesquisador do MARE Carlos David Santos, o estudo, publicado na revista científica Environmental Research Letters, demonstra que a elevação do nível do mar está alterando significativamente as zonas úmidas costeiras da Amazônia brasileira do Amapá, reduzindo as áreas de alimentação das aves limícolas migratórias. Essas aves, que viajam entre a América do Norte e a América do Sul, dependem das vastas planícies de maré para se alimentarem ao longo de suas rotas.
“Embora a migração das zonas úmidas para o interior seja uma resposta natural à elevação do nível do mar, as novas planícies de maré geradas pela transgressão marinha não oferecem as condições necessárias para a alimentação das aves limícolas, pelo menos no intervalo de quatro décadas”, explica Carlos David Santos, pesquisador do Laboratório Associado ARNET e do Max Planck Institute, além de ser professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa.
Ele reforça que a elevação do nível do mar é um fenômeno global e que a perda de habitat observada na Amazônia pode estar ocorrendo em diversas outras regiões do planeta, ameaçando inúmeras espécies de aves aquáticas que dependem das zonas úmidas costeiras.
Risco de extinção das espécies
Os pesquisadores descobriram que essas planícies estão sendo gradualmente ocupadas por áreas resultantes da transgressão marinha recente, um fenômeno causado pela elevação do nível médio do mar, forçando a migração das zonas úmidas costeiras para o interior.
“A elevação do nível do mar está transformando drasticamente as zonas úmidas costeiras, reduzindo a disponibilidade de habitats essenciais para aves limícolas migratórias. Essa perda e transformação de áreas compromete sua capacidade de sobrevivência e aumenta o risco para diversas espécies que dependem dessas zonas durante suas migrações”, afirma Onofre Monteiro, Coordenador de Monitoramento e Pesquisa do Projeto Aves Migratórias.
No entanto, as novas planícies de maré possuem sedimentos excessivamente compactos, dificultando a colonização por invertebrados que servem de alimento para as aves limícolas. A equipe utilizou imagens de satélite para mapear a distribuição dessas áreas ao longo de 40 anos e conduziu levantamentos aéreos para monitorar as aves em 630 km do litoral amazônico.
Os resultados mostram que as aves evitam as planícies de maré formadas pela transgressão marinha, onde a disponibilidade de presas – como pequenos crustáceos – é drasticamente reduzida. O maçarico-rasteirinho (Calidris pusilla), a espécie dominante na região, apresentou densidades dez vezes menores nessas áreas em comparação com as planícies de maré mais antigas, evidenciando um impacto direto em sua alimentação e sobrevivência.
Para mais informações sobre o PAM, acesse: https://keepo.io/projetoavesmigratorias