Opinião

Por um novo tripé da sustentabilidade

Edson Grandisoli (IEA-USP e Reconectta) e Pedro Roberto Jacobi (IEE e IEA-USP) – 

Baixe aqui o livro Educar para a sustentabilidade – Visões de Presente e Futuro

Na década de 1990, John Elkington cunhou uma das mais utilizadas representações gráficas do que seria a busca pela sustentabilidade. O “tripé da sustentabilidade”, que traz na interseção de componentes ligados aos ambiente, sociedade e economia (originalmente pessoas, planeta e lucro) a tão almejada sustentabilidade, resume de forma elegante um caminho a ser pensado e percorrido, em especial, no tocante aos impactos e às responsabilidades sociais corporativas. Apesar de ainda muito utilizado e citado como referência, essa representação acaba não deixando clara as inúmeras interdependências entre as três dimensões, ou seja, não é possível existirem economias sem sociedades, e sociedades sem ambiente.

Para além disso, o tripé também acaba sendo pouco compreensivo para além do mundo corporativo, onde ele tem agregado valor há décadas. No dia a dia das instituições como escolas, universidades, ONGs, centros de pesquisa, entre outras, e da população em geral, a busca da sustentabilidade apresenta nuances que vão muito além de três dimensões, assumindo uma complexidade muitas vezes paralisante.

Como resposta a esse efeito, e no outro extremo, a sustentabilidade acaba sendo tratada e resumida a um simples conjunto de regras e recomendações ligadas, em geral, ao uso e descarte racionais de recursos, criação de hortas, compostagem, etc. Nesse plano, a responsabilidade torna-se muitas vezes individualizada na forma de sansões às liberdades individuais. Dessa forma, ser sustentável passa a ser sinônimo de ecochato e sua busca encarada como fardo.

Frente a esses desafios, acreditamos que o caminho para a sustentabilidade deve ser sempre pensado a partir do território e de seus desafios, seguindo o mote da década de 1970 “do local ao global”, e o fundamental dos territórios são as pessoas, suas relações entre si e com o ambiente. Mudar o foco para as pessoas vai ao encontro da centralidade da criação de processos educativos como caminho para a sustentabilidade, trazendo à tona seus múltiplos significados de forma contextualizada, reconhecida e validada pela comunidade. O foco de sustentabilidade passa a ser nas propriedades que emergem das relações e não dos processos estanques de cada dimensão. Ou seja, é preciso por diferentes caminhos “humanizar” a sustentabilidade, uma vez que nos confrontamos cada vez mais com incertezas sistêmicas, conflitos de valores e diversos confrontos de interesses. Temos pela frente, portanto, grandes desafios relacionados ao fortalecimento de bases dialógicas e processos de aprendizagem social por meio do engajamento de múltiplos atores, práticas que ampliem sinergias sociais e diálogo de saberes.

Nesse sentido, entendemos que a aprendizagem social pode ser considerada como processo de comunicação coletiva que fortalece compartilhamento de conhecimento, geração de sentido e articulação de ações que tem como premissa a noção de aprender conjuntamente, desafiar modelos mentais  vigentes valorizar a inter e transdisciplinaridade e ampliar a percepção da complexa inter-relação entre os diversos desafios socioambientais por meio de um pensamento mais crítico e sistêmico.

Dessa forma, esse processo de “humanização” ligado à aprendizagem social traz à tona a visão de um novo tripé constituído por dimensões que unem invés de separar, que buscam uma unidade complexa e interdependente do que é educar para a sustentabilidade. São elas: a participação, a cocriação e a corresponsabilização.

É sobre esse tripé que se apoiam 9 experiências educacionais compiladas na obra organizada por Edson Grandisoli (IEA-USP), Daniele Tubino Pante de Souza (UNISINOS), Pedro Roberto Jacobi (IEE e IEA-USP) e Rafael Araujo de Arosa Monteiro (PROCAM-USP), que acaba de ser lançada pela Reconectta e Editora Na Raiz, com apoio do Instituto de Energia e Ambiente da USP e OCA.

Os capítulos abordam, por meio de uma linguagem simples e direta, diferentes caminhos para se pensar e fazer educação para a sustentabilidade considerando-se a fundamental participação de diferentes atores sociais nesse processo, suas interações e a valorização de diferentes saberes para a construção de novos conhecimentos significativos e planos de ação que visam transformação pessoal e social.

Muito além da descrição de experiências educacionais inovadoras, frutos de pesquisas em diferentes cenários sociais, culturais e ambientais, a obra apresenta um cenário otimista e que comprova a importância e todo o potencial da construção coletiva de base verdadeiramente democrática. (#Envolverde)