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Princípios, meios e fins para responsabilidade bancária

por Guilherme Teixeira, Gerente de Finanças Sustentáveis da SITAWI Finanças do Bem – 

Se é verdade que o dinheiro nunca dorme, cabe perguntar por onde andam os valores da nossa conta corrente e poupança, e o que movimentam enquanto dormimos. De fato, os bancos utilizam esse nosso dinheiro para emprestar a outras pessoas e empresas, dinamizando a economia. Mas, dependendo do destino destes recursos, isso pode tirar o sono de alguns.

Foi o caso daqueles que pressionaram grandes bancos a não financiar produtores de armas durante a Guerra do Vietnã ou o governo da África do Sul durante o apartheid, por exemplo. Esse tipo de pressão já ocorreu também no âmbito dos bancos multilaterais. Nos anos 1990, o Banco Mundial foi demandado a adotar critérios socioambientais ao decidir sobre seus investimentos.

Os recém-lançados Princípios para Responsabilidade Bancária (PRB) em paralelo à Assembleia da ONU em setembro de 2019 são mais um marco nesta história. Apesar de não terem processos produtivos poluentes e com grandes riscos a comunidades, bancos viabilizam recursos – parte deles, de terceiros – para “todas” as atividades econômicas, contribuindo para impactos sociais e ambientais positivos e negativos. É daí que emerge a demanda por uma responsabilidade socioambiental no setor bancário e outros segmentos financeiros.

Guilherme Teixeira

Reconhecendo a necessidade de responder a esta demanda e de aproveitar oportunidades de negócio para apoiar a transição a uma economia mais sustentável do ponto de vista socioambiental, as instituições financeiras vêm avançando com diversas iniciativas coletivas a partir dos anos 90, como os Princípios do Equador, Princípios para Investimento Responsável e Princípios para Sustentabilidade em Seguros. A sociedade civil também participou diretamente, como na Declaração de Collevechio, apresentada no Fórum Econômico Mundial de 2003, chamando as instituições financeiras a reconhecer sua responsabilidade sobre eventuais danos causados por atividades por elas financiadas.

Passados 16 anos, o próprio setor lança o PRB, junto ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Mais do que um “irmão” de outros acordos, harmoniza entendimentos sobre boas práticas bancárias que apoiam transição para uma economia mais sustentável. Nasce grande, assinado por CEOs de 130 bancos (dois brasileiros), e mais prescritivo que outros acordos: além dos seis princípios, o PRB trabalha junto aos signatários para definir os “meios” – sugestões e passos a serem cumpridos pelos nos próximos anos para uma efetiva implementação.

São características de um acordo que não se propõe a trazer novos temas, mas sim a reforçar práticas e conceitos já reconhecidos e adotados. É por isso que orienta os signatários a alinhar suas estratégias e medir seus impactos em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o Acordo de Paris e outras agendas setoriais ou nacionais de impacto socioambiental positivo.

Como em qualquer acordo coletivo e voluntário, é necessária atenção para que se tenham resultados efetivos. Por exemplo, o quanto as decisões de concessão de crédito estarão alinhadas a metas de redução de recursos para energia fóssil e aumento para renováveis? Qual será a ambição das estratégias de apoio aos ODS? Espera-se que isso seja respondido pelos reportes de progresso e engajamentos com stakeholders, que os signatários se comprometem a realizar.

Como em toda trajetória, haverá necessidade de ajuste de rota. E não serão apenas os clientes dos serviços bancários que demandarão isso. Acionistas e investidores institucionais que também provêm capital para os bancos são cada vez mais exigentes quanto à gestão socioambiental. Mais do que valores, é uma questão de mitigar riscos e aproveitar oportunidades.

Se um investidor ou um cliente tem oportunidade de direcionar seu dinheiro a um banco que mede seu impacto na sociedade, mitiga riscos socioambientais ao conceder crédito a empresas e desenvolve produtos financeiros para soluções às mudanças climáticas e à escassez de recursos naturais, por que optaria por outro?

Ou seja, os fins da responsabilidade bancária podem ser atender a questões éticas ou a busca por vantagem competitiva. E não são fins necessariamente excludentes. Para isso, os princípios e os meios para se chegar lá estão cada vez mais claros. É tempo de segui-los. (#Envolverde)