Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com a Prefeitura de Curitiba, pretendem vacinar cerca de 80 animais do Zoológico Municipal e do Passeio Público contra a Covid-19. Os animais pertencem às famílias dos felídeos, primatas e mustelídeos, considerados os grupos mais suscetíveis à infecção por SARS-CoV-2. O estudo utilizará a vacina da farmacêutica Zoetis, autorizada para uso experimental pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e já aplicada em zoológicos do país. Esta semana, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) autorizou a importação do imunizante para essa finalidade.
Desde o início da pandemia, em 2020, os integrantes do Projeto PetCovid-19 têm realizado acompanhamento de animais domésticos, selvagens e exóticos com o objetivo de monitorar a infecção por SARS-CoV-2 nesses grupos. A pesquisa identificou que cerca de 15% dos animais, que tiveram contato próximo com tutores positivos para o coronavírus, foram infectados. Apesar dos resultados, foi descartada a transmissão de animal para ser humano e, até o momento, não há evidências de mortes de cães e gatos causadas pelo vírus no Brasil, com raros relatos no mundo todo.
Animais selvagens do Zoológico de Curitiba podem ser os primeiros imunizados contra Covid-19 no Brasil.
Foto: Daniel Castellano/SMCS
Contudo, notícias de mortes por complicações decorrentes da Covid-19 em leopardos, nos Estados Unidos, e evidências, registradas também nos Estados Unidos e na Europa, de que ratos selvagens e visons tornaram-se reservatório do vírus, o que significa que podem transmitir SARS-CoV-2 para seres humanos, alertaram os pesquisadores brasileiros.
De acordo com a literatura, primatas não humanos, felinos e mustelídeos são muito sensíveis ao novo coronavírus. “Com a transição da pandemia de Covid-19 para uma endemia, animais não vacinados estão expostos ao contato com visitantes e funcionários. Por isso, acreditamos que haja risco permanente de infecção em animais selvagens nativos e exóticos, particularmente lontras, ariranhas, furões e doninhas da fauna nativa brasileira”, destaca Alexander Biondo, coordenador do PetCovid e professor de Medicina Veterinária da UFPR.
O projeto piloto que deve ser executado em Curitiba pode servir para preparar o MAPA para uma possível vacinação em massa dos animais mais suscetíveis que habitam zoológicos, santuários, reservas e instituições de pesquisa no Brasil. Os pesquisadores do projeto PetCovid enfatizam que, até o momento, não há necessidade de vacinação contra o SARS-CoV-2 em cães e gatos.
Os animais do Zoológico Municipal e do Passeio Público de Curitiba, que já vêm sendo constantemente monitorados por testes PCR, continuarão tendo seu comportamento molecular e sorológico avaliados após a vacinação. “Atualmente, não há animais positivos, nem risco real de infecção, porém devemos realizar monitoramento continuado por PCR e sorologia de servidores e animais”, afirma Biondo.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba destaca que a medida não compromete em nada a vacinação regular dos seres humanos, de responsabilidade da Secretaria Municipal da Saúde, não havendo “disputa” de imunizantes para cada caso.
Pesquisadores da UFPR têm monitorado continuamente, por meio de testes sorológicos e PCR, animais e funcionários do Zoo de Curitiba. Foto: Divulgação
Vacina própria para animais
A farmacêutica Zoetis será a responsável por fornecer as vacinas para o projeto. A partir do primeiro relato de infecção por SARS-CoV-2 em um cão, em Hong Kong no ano passado, a empresa começou a trabalhar em uma vacina que pudesse ser utilizada em animais.
O imunizante contra a Covid-19 da Zoetis é formulado exclusivamente para espécies animais pois, embora antígeno utilizado seja o mesmo que nas vacinas humanas, as vacinas para animais variam de acordo com o adjuvante que é usado.
A Zoetis comunica que uma vacina contra Covid-19 não é necessária para animais de estimação ou gado neste momento, mas que seu trabalho pode ajudar os animais de zoológico que correm risco de se infectar com o novo coronavírus, como foi o caso de gorilas do Zoológico de San Diego que, em janeiro deste ano, apresentaram tosse leve, secreção nasal e letargia causadas pela Covid-19.
Desde julho, mais de cem espécies – ente as quais tigres, ursos-negros, leões da montanha, furões e ursos-pardos – foram imunizadas com a autorização do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
Serão imunizados, inicialmente, macacos, chimpanzés, tigres, leões, onças, pumas, babuínos, lontras e iraras. Foto: Pedro Ribas/SMCS
Imunização em Curitiba
Em Curitiba, os pesquisadores pretendem imunizar macacos, chimpanzés, tigres, leões, onças, pumas, babuínos, lontras e iraras. Foram solicitadas, inicialmente, 200 doses da vacina que podem começar a ser aplicadas ainda em dezembro de 2021. A vacinação ocorrerá segundo as recomendações do fabricante, com validação já realizada, e os animais continuarão sendo monitorados constantemente.
O projeto já foi aprovado na Plataforma Brasil do Ministério da Saúde para pesquisa envolvendo seres humanos, bem como no Comitê de Ética do Uso de Animais do Setor de Ciências Agrárias da UFPR.
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