A Cartografia dos Ataques Contra Indígenas mostra a violência contra as etnias no país nos últimos 30 anos
Por Felipe Sakamoto*
Josias Paulo. Terra Indígena: Tey’iJuçu, localizada no município de Caarapó no Mato Grosso do Sul. Ele estava de moto e parou por alguns instantes próximo à fazenda Gauchinho. Um casal que estava de bicicleta assaltou a vítima e o feriu. Josias que é índio não resistiu ao ataque. A palavra “Caci” significa dor em Guarani. Histórias como essa podem ser vistas na plataforma CACI (Cartografia dos Ataques Contra Indígenas) que foi desenvolvida pela Fundação Rosa Luxemburgo, em parceria com InfoAmazonia e Armazém Memória, com as informações dos relatórios do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no período de 1985 a 2015. O levantamento não é completo, mas estima que o número de assassinatos seja maior do que os 947 calculados pelas entidades.
De acordo com a apresentação do jornalista Daniel Santini, o objetivo do projeto é dar maior visibilidade para a questão indígena, que não chama tanto a atenção da mídia tradicional, e que também seja um ponto de partida para futuras pesquisas sobre o tema.
Cerca de 44% do total dos ataques aos indígenas aconteceram no Mato Grosso do Sul. Além das referências geográficas em conjunto com os dados, a plataforma disponibilizou dossiês que analisam as questões mais emblemáticas. “Um genocídio em curso no Mato Grosso do Sul” cruza as informações e revela que um em cada dois assassinatos indígenas no Brasil entre 2003 a 2014 aconteceu na região do centro-oeste brasileiro. Os “ataques diretos” foram a maior causa dessas mortes, em seguida são os conflitos internos e a embriaguez, de acordo com a CIMI E CPT.
Outros dossiês estão disponíveis na plataforma, como o caso de remoção forçada da etnia Pataxó Hã-Hã-Hãe que tiveram suas terras alugadas por um processo marcado por fraudes e ameaças; o campo de concentração indígena e centro de tortura em Minas Gerais na época da ditadura; e o levantamento sobre o povo Waimiri-Atroari que foi dizimado no período ditatorial entre 1972 e 1983 em Manaus, os sobreviventes se deslocaram da terra natal.
O CACI é uma plataforma aberta, possuiu a licença CreativaCommons, assim permitindo que seja reproduzida desde que citada a fonte e com uma licença de compartilhamento igual. Como se encontra em fase inicial, o projeto será sempre aprimorado e atualizado. (#Envolverde)