Deterioração do Rio Piracicaba é monitorada por 365 dias

Pesquisa constatou altos níveis de fosfato e de coliformes fecais na água.

Pesquisa do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba, traz resultado inédito sobre a influência das ocupações agrícolas, urbanas e industriais na qualidade e quantidade de água disponível no Rio Piracicaba. Para a elaboração de sua tese, o doutorando Diego Vendramini coletou amostras do Rio durante 365 dias, sempre na mesma hora e local. O resultado foi preocupante, principalmente pelo registro de porcentagens além do limite máximo permitido pelas entidades ambientais regulamentadoras. O pesquisador cita como exemplo a quantidade de fosfato 32 vezes maior que o permitido e as altas cargas de carbono orgânico particulado e dissolvido, em outras palavras, coliformes fecais.

Sob coordenação do professor Jefferson Mortatti, a pesquisa levou em conta o fato de a deterioração das águas em bacias de drenagem estar intimamente relacionada com o crescimento e a diversificação das atividades humanas. Ele explica que “os resultados preliminares já se mostram de suma importância para a atuação dos orgãos ambientais regulamentadores”. Vendramini concorda com o impacto dos resultados de seu estudo em definições futuras sobre o Rio Piracicaba. E diz que “diante da detecção de espécies químicas inorgânicas, há como entender a necessidade de melhorias nos atuais sistemas de tratamento de esgoto”.

O pesquisador constata, no entanto, que o processo de tratamento de esgoto deve ser melhorado não só em Piracicaba, mas também em todas as cidades integrantes da bacia hidrográfica, pois, além das concentrações de poluentes, a carga de carbono transportada diariamente chama a atenção, ou seja, “constatou-se a grande influência do homem na bacia do Piracicaba”, completa.

Monitoramento da água

De acordo com o doutorando, durante um ano inteiro (de fevereiro de 2010 a janeiro de 2011), o Rio Piracicaba foi monitorado diariamente, em termos das cargas dissolvidas e particuladas, perfazendo um total de 365 coletas de água e sedimentos em suspensão, cobrindo os períodos de chuvas intensas e estiagem prolongada. “A pesquisa quantificou os transportes das principais espécies químicas dissolvidas, a qualidade química das águas do Rio Piracicaba, bem como as cargas de sedimentos em suspensão em função das classes de chuva na bacia de drenagem, o que foi inédito nesse tipo de estudo”.

Os modelos matemáticos de transporte foram bilogarítmicos, conforme a maioria dos rios mundiais. “A qualidade química das águas fluviais se mostrou sempre associada aos aportes antrópicos (esgotos domésticos e efluentes agroindustriais).

Durante o período chuvoso, quando se normalizam os resultados pela poluição, a regulação foi devida à drenagem superficial, bem como ao aporte pluvial, enquanto durante a estiagem as influências se mostraram mais evidentes. “Embora o mecanismo de transporte fluvial seja o mesmo ao longo do ano, a qualidade química da água é diferente para cada classe de chuva, sendo variável sazonalmente”, conta o pesquisador.

Período de chuva e estiagem

As principais cargas dissolvidas transportadas durante o período chuvoso foram de bicarbonato (1.200 toneladas/dia), sulfato (500 toneladas/dia), cloreto (300 toneladas/dia), nitrato (140 toneladas/dia), cálcio e sódio (450 toneladas/dia cada um), potássio (160 toneladas/dia), com uma carga orgânica de 400 toneladas/dia de carbono orgânico dissolvido (COD).

Durante a estação seca, as cargas principais foram de bicarbonato (300 toneladas/dia), sulfato (180 toneladas/dia), cloreto (130 toneladas/dia), nitrato (30 toneladas/dia), sódio (220 toneladas/dia), cálcio (60 toneladas/dia) e potássio (20 toneladas/dia), com uma carga orgânica de 13 toneladas/dia de COD.

Cabe salientar que, durante o período chuvoso, o carbono orgânico particulado (COP) – esgoto puro – transportado pelo Rio Piracicaba foi cerca de 30 vezes superior ao COD, ao passo que, durante a estiagem prolongada, o COD foi duas vezes a carga observada para o COP.

Pesquisador e coordenador ressaltam as características científicas do trabalho de doutorado, que resultará num material de consulta de fundamental importância para a despoluição da bacia do Rio Piracicaba. “Nossos dados vão colaborar com estudos anteriormente realizados, aprofundando os conhecimentos hidrogeoquímicos de forma a contribuir, em termos científicos, para um melhor entendimento dos principais processos erosivos. Fizemos um monitoramento intenso e detalhado, avaliando os aspectos dinâmicos da carga dissolvida e particulada em funções das classes de precipitação ao longo de um ano inteiro de pesquisa”.

A tese de doutorado “Aspectos Hidrogeoquímicos de uma Microbacia Reflorestada com Eucalyptus grandis no Município de Angatuba em São Paulo” foi defendida no Cena, em 2009, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

* Com informações da Assessoria de Imprensa do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP.

** Publicado originalmente no site Agência USP.