Amazônia às vésperas da eleição

Nos bastidores: equipe se prepara para entrar no ar. Ao fundo, à esquerda, Bruno Weis. No sofá, ao centro, Marcio Astrini e André Villas-Bôas ao lado.
Nos bastidores: equipe se prepara para entrar no ar. Ao fundo, à esquerda, Bruno Weis. No sofá, ao centro, Marcio Astrini e André Villas-Bôas ao lado.

 

Embora insuficiente, candidatos dedicam mais espaço para debater Amazônia por problemas relacionados ao desmatamento, como a falta de água em São Paulo; violência no campo e direitos indígenas seguem como sujeitos ocultos

O último Sujeito Oculto: política e meio ambiente antes da eleição dedicou seu espaço à Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, com 60% de seu território só no Brasil. Mediados pelo jornalista Bruno Weis, André Villas-Bôas, do Instituto Socioambiental (ISA), Márcio Astrini, coordenador do Greenpeace e o cineasta Daniel Augusto, diretor do documentário Amazônia Desconhecida, debateram ao vivo sobre a atual desgovernança na Amazônia e os desafios que o(a) novo(a) presidente da República enfrentará. Também participaram do programa o Procurador Federal Luís Boaventura, as lideranças ameaçadas de morte Claudelice Santos e Cosme Capistrano, além de Paulo Barreto, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Feitas as apresentações, Marcio Astrini abriu a conversa destacando que a influência do agronegócio na política é enorme, o que afeta inúmeras medidas do governo. “O agronegócio é aliado de todos os candidatos – nenhum pode dizer não aos interesses desse setor no atual modelo de campanha”. Não é à toa que se vê a redução dos direitos indígenas como pauta no Congresso Nacional. “É importante lembrar que as terras indígenas são os mecanismo mais eficientes de combate ao desmatamento”, continua Astrini.

A destruição florestal causa graves consequências, pouco abordadas nos debates eleitorais. Além da perda da biodiversidade e o desequilíbrio do regime de chuvas, a violência no campo é símbolo da Amazônia sem lei e sem justiça. Entre 2004 e 2013, 448 pessoas foram mortas pelos conflitos de terra. “Um só proprietário tem em média 246 mil hectares de terra na Amazônia. Veja se pode!”, disse em mensagem gravada Cosme Capistrano, líder rural e agente ameaçado de morte da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

“Nós estamos sendo vigiados. Recebo ameaças constantes. Isso tudo se dá por causa da nossa luta por justiça”, explica Claudelice Santos, irmã do falecido líder José Cláudio, também em mensagem gravada. Ela leva adiante a luta do irmão pela preservação da floresta: “Quem está cuidando das florestas está cuidando também da qualidade de vida dos povos que vivem e dependem delas”.

Sobre o assunto, o coordenador do ISA André Villas-Bôas, que trabalha com a causa indígena desde 1978, comentou: “O que Cosme mostrou se arrasta há décadas. O governo está travado por cargos de interesse e faz vistas grossas a exploração de madeira”. Segundo Villas-Bôas, a madeira ilegal passa por inúmeros pontos nos quais poderia haver controle e fiscalização, “mas o governo não age”. Como completou Marcio Astrini, quase 80% da madeira explorada na Amazônia é ilegal.

No segundo bloco, Bruno Weis recebeu o cineasta Daniel Augusto, que passou mais de dois anos na Amazônia para produzir o documentário Amazônia Desconhecida, disponível aqui. “É preciso uma ação coordenada em várias frentes: grilagem de terra, conflitos no campo, pressão madeireira nas Terras Indígenas e Unidades de Conservação, avanço da agropecuária sobre as fronteiras da floresta, entre tantas outras”. Seu documentário, além de mostrar as inúmeras feridas abertas da Amazônia, dá voz a Davi Copenawa, um dos líderes do povo Yanomami, que não compreende como o branco não ama a terra, não ama a floresta. “Para nós, vocês não estão pensando no futuro”, disse o Yanomami.

Por último, o Promotor do Ministério Público Federal em Santarém, no Pará, deu seu parecer por meio de mensagem gravada. Ele foi um dos responsáveis pela suspensão do leilão da Usina Hidrelétrica de Tapajós, uma vez que o governo, segundo ele, não teria levado em conta a opinião dos povos da floresta que seriam afetados pelas obras. “O governo ouviu os índios como mera formalidade, sem considerar seus pontos no licenciamento”.

A crise hídrica que afeta o estado de São Paulo é preocupante, mas se trata apenas da ponta do iceberg. É preciso reconhecer que o debate abrange muito mais vetores, alguns desses causados pela própria falta de governança na Amazônia. “Os políticos prometem muito e não fazem. Os pistoleiros, por outro lado, cumprem suas promessas e matam. Essa é a Amazônia”, encerrou Astrini.

O programa Sujeito Oculto: política e meio ambiente foi criado em parceria com o Fluxo, estúdio de jornalismo independente. Esse foi o terceiro programa da série, que tem como objetivo debater temas chaves dessa eleição, incentivando a sociedade a cobrar de seus candidatos compromissos concretos pela mobilidade urbana, mitigação das mudanças climáticas, proteção das florestas nacionais e energias renováveis.

Acesse a plataforma Pressione Verde e aperte os candidatos.

* Publicado originalmente no site Greenpeace.