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Gestão de resíduos como esporte na Índia

Os 600 mil moradores de Warangal produzem 300 toneladas de lixo por dia. Foto: Cam McGrath/IPS

 

Waragal, Índia, 26/11/2012 – Em um país com notórios problemas de gestão de resíduos como a Índia, as autoridades municipais do Estado de Andhra Pradesh convertem o processamento do lixo em um esporte competitivo para que a população se envolva na limpeza. A histórica cidade de Warangal recebeu 386 equipes de 57 municipalidades da metade norte desse Estado, o maior do sul do país e o quarto em nível nacional, que competiram pelo troféu “melhor rendimento” na coleta e disposição do lixo doméstico.

“Pareceu uma oportunidade para aprender. Também queria saber como fazê-lo”, contou Vivek Yadav, comissário municipal desta cidade. Os 600 mil habitantes de Warangal produzem 300 toneladas de lixo por dia. Com o exponencial crescimento urbano, a negligência, a má gestão e a falta de infraestrutura, 90% das cidades e povoados da Índia se converteram em grandes lixões a céu aberto. O Instituto de Energia de Recursos de Nova Délhi estima que, em 2047, as cidades do país vão gerar 260 milhões de toneladas de lixo por ano.

Em resposta a um pedido de Almitra Patel, engenheira civil de 75 anos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e moradora em Bangalore, o Supremo Tribunal determinou, em 2000, que as municipalidades são obrigadas a assumir a responsabilidade pela gestão segura do lixo. Mas a implantação das Normas Municipais de Gestão de Resíduos Sólidos não é boa.

O ambientalista Uday Singh teve a ideia de ver o manejo de lixo como se fosse um esporte, após observar uma partida da primeira liga de críquete da Índia. “Queríamos provar e utilizar o espírito de competição e de esporte que o país mostra no críquete na saúde pública”, explicou Singh. Mas a força por trás do Torneio de Cidades Limpas foi o diretor da administração municipal de Andhra Pradesh, Khadar Saheb, que em 2003 criou a primeira cidade que “cuida do lixo”: Suryapet.

As intensas atividades de preparação da competição incluíram planejamento de rotas, explicação às pessoas sobre classificação do lixo doméstico e capacitação do pessoal. Cada equipe contava com um inspetor sanitário da municipalidade, que funcionou como líder do grupo, e dois empregados municipais acompanhados por três funcionários do município anfitrião.

Empurrando um carrinho de mão de porta em porta das sete horas às 11 horas, cada grupo recebeu pontuação conforme realizou o processo de coleta. Uma vez cheios, os carrinhos eram esvaziados no centro de coleta do local antes de continuar coletando mais. A atividade profissional dos integrantes de cada equipe variou de motoristas de tratores a limpadores e até lixeiros.

“O objetivo era capacitar todo o pessoal para que voltasse aos seus distritos e gerassem conscientização”, detalhou Saheb, diretor da administração municipal, à IPS. Os plásticos foram armazenados em depósitos para sua coleta por parte de unidades de reciclagem, o lixo úmido foi levado para um lixão fora da cidade e os restos dos dois grandes supermercados da cidade foram para um lugar onde se produz compostagem utilizando minhocas.

A competição atraiu a atenção de muitos dos moradores desta cidade. Ao ouvirem o chamado das equipes, os moradores saíam à porta das casas localizadas nos antigos caminhos sinuosos da cidade velha, que foi parte da dinastia de Kakatiya que governou o território de Andrha Pradesh do século XI ao XIV. Sultana Begum, de 61 anos, e seu inquilino Rani, de 32, não estavam certos sobre como seu lixo classificado era processado, mas não duvidaram em qualificar de “algo bom”, opinião compartilhada por muitos outros moradores de Warangal.

No entanto, nem tudo foi elogio. A exclusão dos catadores de lixo, que na Índia procuram por pedaços de plástico para vender, foi um problema para espalhar a informação e a capacitação. Contudo, o ambientalista Singh, que centralizou as operações, disse que serão incorporados ao sistema de reciclagem no devido tempo. Além disso, os que usaram luvas se queixaram que ficavam úmidas e de serem incômodas, e os que não as receberam por problemas de distribuição se ofenderam por isso. No centro de coleta, o inspetor sanitário da cidade criticou a classificação e a embalagem dos plásticos, qualificando de “muito perigosos”.

Saheb e o comissário Yadav ouviram as queixas com serenidade e determinação. “É uma tentativa corajosa”, opinou a engenheira Patel, que foi designada pelo Supremo Tribunal como membro do Comitê de Resíduos Sólidos, encarregado de informar sobre a situação dos resíduos no país com vistas a elaborar uma política de gestão. “Esta mensagem deve se propagar”, enfatizou Patel, que foi a convidada de honra. O prêmio de melhor equipe foi para a municipalidade de Khammama, e os demais receberam outros prêmios. “Não há perdedores neste jogo”, ressaltou Singh. A competição acontecerá em outras cidades de Andhra Pradesh. Envolverde/IPS