O uso coletivo de automóveis é o lado mais visível do consumo colaborativo, que busca maximizar emprego e vida útil de um bem, ao ser aproveitado por várias pessoas.
Cidade do México, México, 4 de fevereiro de 2013 (Terramérica).- Passar de uma economia do lucro para outra de compartilhamento parece uma mudança de dimensões geológicas. Alguns começaram de baixo a transformação, compartilhando o apreciado automóvel pessoal. Em megacidades, como a Cidade do México, surgem iniciativas para usar entre várias pessoas o carro particular, com benefícios econômicos, urbanos e ambientais. Dois desses projetos são Aventones e Carrot, fundados por jovens universitários.
O popular aventón (viajar pedindo carona na estrada) serviu de nome inspirador para a Aventones, que “surge devido ao excesso de trânsito e ao uso ineficiente do carro”, disse ao Terramérica Ignacio Cordero, engenheiro industrial de 28 anos formado na jesuíta Universidade Iberoamericana (UIA). “A ideia é criar uma cultura de uso compartilhado do automóvel”, afirmou. Cordero, Cristina Palacios, administradora de empresas também formada pela UIA, e Alberto Padilla, engenheiro industrial do Instituto Tecnológico de Monterrey, criaram a empresa em 2010.
O serviço é oferecido a “comunidades de confiança” (empresas, universidades ou instituições governamentais) com uma média de 200 a 250 pessoas que, mediante um sistema online se organizam para encontrar coincidências em trajetos, horários e espaços vazios de maneira segura. Desta forma, vários passageiros compartilham automóvel, ou táxi, em um trajeto ou uma viagem. O custo para a entidade cliente é de US$ 8 mil ao ano, e inclui cursos de capacitação.
O software foi criado pelos fundadores da empresa, que já tem cerca de 5.752 usuários e 27 clientes, 23 no México e quatro no Chile, onde começou a operar em janeiro. A tendência do veículo compartilhado (carpooling, em inglês), se percebe cada vez mais na Alemanha, Espanha, Canadá e Estados Unidos. Contudo, é incipiente na América Latina. Serviços semelhantes são desenvolvidos na Argentina, no Chile e no Brasil. Outra modalidade é o carro multiusuário por curto tempo (carsharing), de forte impulso na Alemanha, Espanha e Estados Unidos, da qual fazem parte a Carrot no México, Zazcar no Brasil, e SigoCar na Costa Rica.
“A tendência é a de ter mais opções de mobilidade. Tem um alto impacto positivo no meio ambiente e também se incentiva o transporte multimodal”, disse ao Terramérica a engenheira industrial Jimena Pardo, de 28 anos, formada pela UIA, que fundou a Carrot em 2012 com Diego Solórzano, formado em ciências atuariais pelo Instituto Tecnológico Autônomo do México. A companhia, filiada à The CarSharing Association, oferece aos seus clientes 40 veículos, três deles elétricos, e já conta com 1.600 usuários.
O interessado se cadastra no site e paga uma inscrição de acordo com a frequência no uso do transporte, explicou Pardo. Um motorista eventual gasta ao ano US$ 23 e cerca de US$ 7 por hora, mais US$ 0,23 por quilômetro rodado. Um motorista frequente desembolsa US$ 8 mensais, US$ 5 por hora e US$ 0,23 por quilômetro. O sistema implica retirar o carro em uma garagem e deixá-lo em outra. Segundo a Carrot, cada um de seus veículos tira de circulação 20 carros particulares.
Estas novas formas de transporte são o lado mais visível do consumo colaborativo, que busca maximizar o uso e a vida útil de um bem, ao ser aproveitado por várias pessoas, reduzindo o tempo em que permanece parado, mas continua gerando gastos. Estas soluções são adequadas para uma cidade como a capital mexicana e sua área metropolitana, que somam 20,4 milhões de habitantes. Nessa área são realizados 49 milhões de viagens diárias, 53% em transporte público e 17% em veículos particulares, segundo o Centro de Transporte Sustentável.
O Transportation Sutainability Research Center, da Universidade da Califórnia, estimava, em outubro, que o carsharing funcionava em 27 países, com 1,78 milhões de membros utilizando 43.550 veículos. Além disso, havia projetos criados para outras sete nações. A Proposta de Sistema de Veículos Compartilhados Baseado em um Sistema de Informação Geográfica, elaborada em 2011 por Luis Guadarrama, Daniel Santiesteban e Javier García, da Universidade Autônoma do Estado do México, diz que “os benefícios esperados de um sistema de veículos compartilhados é a redução do uso de veículos individuais e do número destes em serviço individual, bem como uma menor aglomeração nos mesmos centros de demanda, o que torna inclusive mais atraente o deslocamento para eles”.
“Queremos conseguir que o uso compartilhado do carro seja um hábito e que nosso serviço seja uma experiência social em todos os aspectos”, destacou Cordero. A Aventones afirma ter evitado a emissão de 115 toneladas de dióxido de carbono e economizado viagens num total de 750,015 quilômetros, 10.586 horas e 71.430 litros de gasolina. O veículo multiusuário “é replicável em cidades médias e grandes com transporte urbano, alta densidade populacional e uma mescla de áreas residenciais e de escritórios”, explicou Pardo. As duas iniciativas se financiam sozinhas e têm planos ambiciosos.
A Aventones dá trabalho para dez pessoas e espera incursionar este ano em Bogotá e somar 25 mil usuários, graças ao financiamento concedido pelo seu novo sócio, o Venture Institute. Sua equipe prepara uma aplicação de uso aberto, baseada em redes sociais como Facebook e Twitter. A Carrot, que emprega nove pessoas e possui garagens nos principais bairros da capital, também se aliou ao Venture Institute e prevê operar em Toluca e Puebla, cidades próximas à capital mexicana, passar de três mil para cinco mil clientes, ampliar sua frota para cem unidades e inaugurar mais garagens em diferentes bairros.
As duas organizações querem estreitar vínculos com o governo esquerdista da Cidade do México, que impulsiona o Metrobús (ônibus rápido por trilho confinado), bicicletas públicas compartilhadas e uma concessão de táxis elétricos no centro histórico da capital. Envolverde/Terramérica
* A autora é correspondente da IPS.
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The CarSharing Association, em inglês
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação apoiado pelo Banco Mundial Latin America and Caribbean, realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.