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América Latina o crédito verde é cinza e escasso

Cidade do México, México, 5/3/2012 – Os empréstimos bancários destinados a atividades ambientalmente sustentáveis são a minoria na América Latina, por isso o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) busca fomentar mais créditos verdes. Para isto, o Pnuma e a Federação Latino-Americana de Bancos (Felaban), que reúne mais de 500 entidades financeiras de 19 países da região, apresentarão em junho um diagnóstico do tema e proporão recomendações para que os créditos, seguros e investimentos incluam maior componente ambiental.

“No México o crédito verde apenas começa. Os bancos de desenvolvimento oferecem alguns financiamentos. Há muito crédito e boas condições, mas o setor bancário é um oligopólio, a economia está pouco diversificada em bancos”, disse à IPS a representante do Pnuma no México, Dolores Barrientos, que trabalhou quase duas décadas no setor bancário. Em 1991, o Pnuma e um punhado de bancos comerciais internacionais criaram a Iniciativa Financeira, que mudou de formato em 2003 por sua fusão com um projeto semelhante da indústria seguradora, criado em 1997.

A Iniciativa Financeira: Finanças Inovadoras para a Sustentabilidade (Unep FI) reúne agora 207 instituições públicas, privadas e multilaterais de mais de 40 países, entre eles os latino-americanos Brasil, Colômbia, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, Venezuela e Uruguai. Suas prioridades temáticas são os bancos, a mudança climática, seguros, investimento, construção e administração sustentável. A Iniciativa também promove a pesquisa e medição do impacto social e ambiental das operações e dos produtos financeiros, e a capacitação para melhorar estes aspectos dentro das instituições.

“São necessárias soluções integrais para a mudança climática, que incluam também formas de produção e consumo sustentáveis. Os bancos podem se organizar e dar este tipo de crédito”, afirmou à IPS a integrante da Bond for International Development, Joanna Rea. A instituição reúne organizações não governamentais britânicas que trabalham pelo desenvolvimento e pela inclusão financeira.

Os bancos mexicanos de desenvolvimento e o governamental Fundo Nacional de Infraestrutura destinaram recursos milionários para atividades ambientalmente sustentáveis. Por exemplo, o manejo de águas residuais recebeu US$ 960 milhões, o Programa de Resíduos Sólidos Municipais outros US$ 98 milhões, e o transporte público US$ 960 milhões. Um total de US$ 350 milhões foi destinado à construção de campos de geração eólica, enquanto os Fideicomissos Instituídos em Relação à Agricultura, que aderiu ao Unep FI, distribuíram US$ 72 milhões para projetos rurais.

No Estado de Oaxaca, bancos privados da Espanha, com presença dominante na América Latina, financiaram o desenvolvimento de projetos eólicos, com base em experiências semelhantes naquele país. O governo do presidente Felipe Calderón implementou em 2009 o Programa de Substituição de Eletrodomésticos para a Economia de Energia, para trocar refrigeradores e aparelhos de ar-condicionado com mais de dez anos de uso por novos, para reduzir o consumo e aumentar a eficiência. A meta para 2012 é substituir 1,9 milhão de aparelhos. O governo subsidia parte do custo e o usuário paga o restante.

Em 2011 começou o Programa de Luz Sustentável, que consiste em trocar em 2012 quase 46 milhões de lâmpadas incandescentes por outras que gastam menos. Desde seu começo, 22 milhões delas foram instaladas. “Pode-se destinar créditos para iluminação pública, aterros sanitários e tratamento da água. O ideal é que o programa financeiro estabeleça metas de crédito verde e padrões para os bancos”, sugeriu Barrientos.

Em seu informe de novembro de 2011, O desenvolvimento financeiro na América Latina e no Caribe. O caminho pela frente, o Banco Mundial fustigou os bancos latino-americanos por não abrirem a chave do crédito para fomentar o crescimento econômico mediante a inclusão financeira, especialmente das pequenas empresas e dos usuários de hipotecas. Mas o relatório não faz referência à vertente ecológica dos empréstimos.

No Unep FI, o Grupo de Trabalho sobre Mudança Climática foca na medição e no acompanhamento da pegada de carbono que deixam à sua passagem os fundos de investimento, como se define o impacto no aquecimento global provocado pelos desenvolvimentos financeiros e industriais. Também supervisiona as condições sob as quais as empresas mantêm, ou não, compromissos com a sustentabilidade.

Em 2010, as seguradoras incorporadas à Unep FI começaram a deliberar sobre o rascunho de um texto abordando os princípios para incorporar a sustentabilidade às suas operações. Estes novos princípios serão anunciados na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que acontecerá em junho no Rio de Janeiro, duas décadas após uma cúpula semelhante nessa mesma cidade. Esses princípios “representarão uma contribuição notável e um compromisso de longo prazo da indústria seguradora global para construir uma economia mundial sustentável”, segundo o site do projeto.

O Unep FI e a Felaban elaboram uma pesquisa sobre o estado atual dos bancos sustentáveis na América Latina, na qual se pretende descrever forças e oportunidades para melhorar e identificar boas práticas de sustentabilidade. Para isto, a análise se centra no compromisso das instituições com o desenvolvimento sustentável, a visão e as políticas que o apoiam, as regulamentações ambientais e instituições financeiras. Também tem em conta o apego a aspectos de sustentabilidade nas operações das diferentes unidades em relação a riscos ambientais e sociais, manejo de recursos internos e desenvolvimento de produtos e serviços verdes.

O Pnuma propõe que os objetivos da Rio+20 sejam os de renovar o compromisso político em torno do desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso para os objetivos internacionais acordados duas décadas atrás e a abordagem dos novos desafios. Além disto, o encontro se concentrará na construção de uma economia verde no contexto da erradicação da pobreza e do desenvolvimento sustentável, bem como em um contexto institucional para esse propósito. “Pode-se ter um modelo sustentável de empréstimos que seja ambientalmente responsável. É preciso ter um modelo justo de crédito global”, ressaltou Rea, da rede britânica. Envolverde/IPS