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Ásia no fio da navalha, segundo o Informe de Desenvolvimento Humano

IDH

Colombo, Sri Lanka, 25/7/2014 – Milhões de pessoas no sul da Ásia permanecem na pobreza e outras com renda média podem cair nela novamente devido às mudanças repentinas em suas circunstâncias, alerta o novo Informe de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

“No sul da Ásia, 44,4% da população, cerca de 730 milhões de pessoas, vivem com US$ 1,25 a US$ 2,50 por dia”, diz o IDH correspondente a 2014, divulgado ontem em Tóquio, no Japão. Apesar dos avanços da região, o informe alerta que é muito real a ameaça de que muitos de seus habitantes voltem a cair na pobreza. Existem grandes disparidades nos níveis de renda e de vida dentro de cada país, acrescenta.

Os autores do informe do Pnud destacam que “muitos dos que se incorporaram à classe média recentemente podem facilmente cair na pobreza de novo com a repentina mudança de suas circunstâncias”.

No Sri Lanka, classificado como país de renda média baixa pelo Banco Mundial em 2011, a pobreza diminuiu nos últimos cinco anos. O Departamento de Estatísticas nacional disse que a pobreza caiu de 8,9% da população, em 2009, para 6,7% em abril de 2014. A queda foi maior em alguns dos distritos mais ricos. Na capital, Colombo, baixou de 3,6% para 1,4%.

Entretanto, os mais pobres continuam ficando pobres. O nível de pobreza na zona de menores rendas do país, o distrito de Moneralaga, subiu de 14,5% para 20,8% no mesmo período. A desigualdade pode crescer se não forem tomadas medidas mais rigorosas, afirmou o economista Muttukrishna Sarvananthan.

“A situação trabalhista tem umbral muito baixo”, disse Sarvananthan à IPS se referindo aos “dez anos e mais” que é o limite de idade usado pelo governo para avaliar a porcentagem de pessoas com emprego. “Este umbral tão baixo proporciona uma taxa de emprego artificialmente alta, o que é enganoso”, destacou.

Segundo o Pnud, diante da ausência de uma sólida rede de proteção social, milhões de pessoas correm o risco de voltar à pobreza. “Com a limitada proteção social existente, as crises financeiras podem provocar rapidamente profundas crises sociais”, acrescenta. Na Indonésia, por exemplo, a crise financeira que açoitou a Ásia no fina da década de 1990, elevou a pobreza de 11% para 37% da população. Inclusive, anos depois, muitos têm dificuldades para voltar a subir na escala de renda.

“A Organização Internacional do Trabalho (OIT) calcula que havia mais 50 milhões de trabalhadores pobres em 2011. Apenas 24 milhões deles superaram a linha da pobreza de renda de US$ 1,25 por dia entre 2007 e 2011, em comparação com 134 milhões entre 2000 e 2007”, de acordo com o IDH. Em todo o mundo, cerca de 1,2 bilhão de pessoas vivem com menos de US$ 1,25 por dia, e 2,7 bilhões vivem com quantia inferior.

Embora esses números tenham diminuído, muitas pessoas aumentaram sua renda a um ponto apenas acima da linha da pobreza de maneira que “as perturbações idiossincráticas ou generalizadas podem levá-las facilmente à pobreza novamente”, alerta o Pnud. Isto é importante porque aproximadamente 12% da população mundial sofre fome crônica e 1,2 bilhão de trabalhadores estão empregados no setor informal.

O Sri Lanka reflete a tendência mundial, já que também abriga a grande quantidade de pessoas pobres, embora a ilha tenha crescimento econômico importante. Punchi Banda Jayasundera, secretário do Tesouro e o homem-chave da economia nacional, prevê crescimento de 7,8% para 2014. “Este ano não deveria ser incômodo para nós”, disse à IPS. Isto pode ser certo para aqueles em boa situação econômica, mas não poderia estar mais longe da realidade para centenas de milhares que não podem chegar ao fim do mês ou pagar uma refeição completa cada dia.

Outros setores da população, como as mulheres, as comunidades indígenas, as minorias, os idosos, os refugiados e os incapacitados, também são considerados de “alto risco”, já que frequentemente sofrem marginalização e pobreza.

O IDH indica que a mudança climática é um importante contribuinte da desigualdade e instabilidade, e alerta que provavelmente aumente a frequência dos fenômenos de chuvas e calor extremos. No final deste século, as fortes chuvas e a elevação do nível do mar poderão causar estragos nas zonas baixas do sul da Ásia e também em seus centros urbanos de rápida expansão.

“Os pequenos agricultores do sul da Ásia são especialmente vulneráveis. Apenas na Índia há 93 milhões. Estes grupos já sofrem escassez de água. Alguns estudos preveem rendimentos dos cultivos em até 30% inferiores nas próximas décadas, ainda que a pressão demográfica continue aumentando”, acrescenta o informe. O Sri Lanka prevê uma perda de 15% em sua produção de arroz, vital para sua alimentação, e também uma forte alta no preço dos vegetais devido à falta de chuvas e ao calor extremo.

O país teve que investir mais de US$ 400 milhões para proteger seu centro econômico e administrativo, Colombo, das inundações repentinas. “Estamos aprendendo lições sobre a marcha de adaptação às flutuações do clima, e é melhor tomar nota”, afirmou à IPS JDMK Chandarasiri, diretor do Instituto de Pesquisa Agrária Hector Kobbekaduwa.

O investimento na educação infantil e no emprego juvenil poderia ser importante para amortizar a crise, já que essas medidas no longo prazo são cruciais para interromper o ciclo da pobreza, segundo o IDH. O informe também exorta as autoridades políticas a analisarem o desenvolvimento e o crescimento econômico de maneira integral, e não recorrer às intervenções fragmentadas.

Muitos países industrializados investiram em educação, saúde e serviços públicos antes de alcançarem uma situação de renda alta, acrescenta o informe do Pnud. “As iniciativas de maior sucesso de desenvolvimento humano e contra a pobreza adotaram um enfoque multidimensional, que combina o apoio à renda e à criação de empregos com a expansão da atenção sanitária e das oportunidades educacionais”, afirma. Envolverde/IPS