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"Engajamento do setor privado é vital para a conservação da Amazônia"

 

Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável (RPDS) em Manicoré. Foto: Priscila Barros.

Em entrevista para o Instituto CarbonoBrasil, Leonardo Barrionuevo, responsável pela primeira reserva particular de desenvolvimento sustentável da Amazônia, destaca o papel das empresas na preservação.

No começo deste mês, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SDS) do Estado do Amazonas oficializou a criação da primeira Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável (RPDS).

Localizada no município de Manicoré, a RPDS possui 200 milhões de metros quadrados e será administrada pela Empresa Brasileira de Conservação de Florestas (EBCF).

O presidente da EBCF, Leonardo Barrionuevo, concedeu ao Instituto CarbonoBrasil uma entrevista explicando qual o modelo de negócio desse tipo de iniciativa, a importância de respeitar os povos locais e comentou o papel da iniciativa privada na conservação ambiental.

Confira:

Instituto CarbonoBrasil – Como nasceu a ideia de investir em em Reservas Particulares de Desenvolvimento Sustentável (RPDS)?

Leonardo Barrionuevo – A família Barrionuevo tem uma relação muito próxima com a sustentabilidade, temos um histórico de atuação em projetos de energia renovável. Uma de nossas empresas, a J.Malucelli Ambiental em conjunto com a Tertium Participações, investe na geração de energia em aterros sanitários. Além disso, prestamos consultorias para projetos elegíveis a obtenção de créditos de carbono de acordo com as regras do MDL e o Protocolo de Quioto. Com o passar dos anos, a nossa preocupação em relação ao aquecimento global foi se somando a preocupação com a proteção da biodiversidade. Surgiu então a ideia de criarmos um modelo de conservação de floresta que pudesse conciliar a proteção da biodiversidade com a utilização do potencial econômico dos recursos naturais. Nesse mesmo período, o Estado do Amazonas estava aprovando o decreto que regulamenta as Reservas Particulares de Desenvolvimento Sustentável. Foi uma daquelas felizes coincidências que a vida nos proporciona…

ICBr – A Empresa Brasileira de Conservação de Florestas (EBCF) adquiriu 200 milhões de metros quadrados na Floresta Amazônica e pretende transformar essa área em RPDS. Como a empresa pretende recuperar o investimento? Como é o plano de negócios?

LB – O plano de negócios da empresa no tocante a captação de recursos para recuperar o investimento está baseado nas seguintes atividades:

1 – Patrocínio ambiental (empresas que queiram associar as suas marcas com a marca EBCF e o selo do programa criado pela EBCF “Nós pela Amazônia”). Estas empresas terão o direito de imagem e publicidade dos programas e projetos implementados e geridos pela EBCF em suas RPDS;

2 – Pagamento por serviços ambientais como por exemplo créditos de carbono;

3 – Desenvolvimento de negócios relacionados ao manejo sustentável dos produtos naturais e florestais não madeireiros;

4 – Eco-turismo;

Note que o número 3 está destacado porque a EBCF entende que as outras alternativas de receita se constituem em um meio para se chegar a finalidade precípua das Reservas Privadas, que é a atividade fim através do manejo sustentável dos recursos florestais não madeireiros.

ICBr – Mecanismos como o REDD+,com o qual a EBCF também trabalha, ainda são vistos com desconfiança, tanto pelos povos nativos quanto por investidores. Como evitar que as RPDS enfrentem esse mesmo obstáculo?

LB – A EBCF tem uma grande preocupação em relação a esse tema. Tanto para os investidores quanto para as populações locais, são realizadas diversas ações com o intuito de minimizar essas desconfianças.

Como exemplo das ações podemos citar as diversas oficinas explicativas acerca de todo o modelo de negócio da EBCF, oficinas específicas relacionadas ao tema e o projeto de REDD+ sendo implementado na área, já obtivemos o “consentimento livre, prévio e informado” de todas as comunidades que atenderam as oficinas.

A transparência e a excelência dos serviços são uma marca muito forte na EBCF. Em relação a transparência publicamos os nossos balanços e somos auditados. Em relação a excelência, ainda que os custos sejam mais elevados, o nosso projeto de REDD+ está sendo elaborado de acordo com os padrões VCS e CCB, os dois padrões mais respeitados e reconhecidos no mercado voluntário (uma vez que créditos REDD não fazem parte do mercado regulado). O VCS garante a credibilidade dos créditos enquanto o CCB foca nos benefícios além do carbono, como a a melhoria da qualidade de vidas das populações locais e a preservação da biodiversidade.

ICBr – Comunidades próximas às RPDS são engajadas de alguma forma? Existem medidas de educação ambiental ou outras iniciativas para aproximar as pessoas da iniciativa?

LB – A EBCF prima pela gestão participativa com as comunidades. O Plano de Gestão conta com diversas oficinas realizadas na Comunidade Democracia onde todas as 15 comunidades que se encontram no entorno das reservas foram devidamente convidadas a participar, e um diagnóstico completo das necessidades de cada uma delas foi respondido pelas suas associações e lideranças e discutido durante as oficinas. Com o levantamento e o debate acerca dessas necessidades, os programas, sub-programas, projetos e atividades contemplados no Plano de Gestão estão direcionados para atender e melhorar a qualidade de vida destas populações.

ICBr – As RPDS podem ser uma forma reduzir os conflitos entre os proprietários oficiais de grandes áreas na Amazônia e populações tradicionais que vivem nelas?

LB – Certamente, uma vez que haja uma gestão participativa incluindo as populações no uso sustentável dos recursos advindos das reservas tanto o proprietário sai fortificado quanto as comunidades. Por óbvio, os mapas de zoneamento e os acordos para o uso dos recursos naturais e florestais devem ser elaborados em conjunto, nesse caso as populações podem fazer uso destes recursos e em contra-partida se tornam os verdadeiros guardiões da floresta.

ICBr – Vocês acreditam que o engajamento do setor privado na conservação é fundamental para preservar nossos ecossistemas?

LB – Os governos, estados, municípios, ONG’s e fundações fazem a sua parte, mas a EBCF não tem a menor dúvida que o engajamento da iniciativa privada é VITAL para a conservação das florestas, proteção da biodiversidade (fauna, flora, recursos hídricos, etc) e para o desenvolvimento sustentável das populações tradicionais, assim como em qualquer outra atividade exercida no planeta os governos precisam do apoio da iniciativa privada, e no caso da preservação dos ecossistemas não é diferente.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.