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Estados Unidos abre o guarda-chuva

Embarcação que a corrente arrastou ao longo de Croton-on-Hudson, cerca de 50 quilômetros ao norte de Manhattan, após o furacão Sandy. Foto: Katherine Stapp/IPS
Embarcação que a corrente arrastou ao longo de Croton-on-Hudson, cerca de 50 quilômetros ao norte de Manhattan, após o furacão Sandy. Foto: Katherine Stapp/IPS

 

Washington, Estados Unidos, 22/8/2013 – O governo dos Estados Unidos se dispõe a proteger suas comunidades vulneráveis a desastres relacionados com a mudança climática, um ano depois que o furacão Sandy devastou a costa leste do país. Uma força-tarefa da Presidência divulgou, no dia 19, um informe detalhando uma estratégia para reconstruir a região devastada em outubro de 2012 pelo Sandy e proteger a nação de futuros eventos extremos vinculados à mudança climática.

A Estratégia de Reconstrução Após o Furacão Sandy inclui 69 recomendações políticas, algumas delas já colocadas em prática. Seus autores afirmam que estão desenhadas para “ajudar os proprietários de residências a permanecerem nelas e repará-las, a fortalecer as pequenas empresas e revitalizar as economias, além de garantir que comunidades inteiras estejam melhor capacitadas para suportar e se recuperar de futuras tempestades”. A disposição do governo de enfrentar diretamente os desafios relacionados com a mudança climática é vista com bons olhos por alguns especialistas ambientais.

“É absolutamente crucial que os Estados Unidos tenham em consideração a mudança climática quando decidir como investir dinheiro em reparação e reconstrução de infraestrutura”, disse à IPS Janet Larsen, diretora de pesquisas no Earth Policy Institute, um grupo de especialistas com sede em Washington. Larsen acredita que os Estados Unidos aprenderam a duros golpes que suas comunidades são vulneráveis ao aquecimento global.

“Há dez ou 15 anos, se alguém perguntasse onde era provável haver refugiados climáticos, comumente se pensava que seria somente nas pequenas nações insulares. Mas, depois do furacão Katrina”, que açoitou os Estados Unidos em 2005, 25 mil pessoas “tiveram que abandonar suas casas, e muitas ainda não regressaram”, destacou Larsen.

Vinte e três agências federais participaram da redação da estratégia, lideradas pelo Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos. As recomendações buscam “reduzir a burocracia”, mas os que promovem soluções mais localizadas afirmam que, na realidade, a aumentam, já que são muitas as agências envolvidas. “Falam em melhor coordenação, mas, na realidade, é que há muitos federais na cozinha”, disse à IPS Tad DeHaven, analista orçamentário no Cato Institute.

O estudo apresenta pautas para usar os US$ 50 bilhões autorizados pelo Congresso e aprovados em janeiro pelo presidente Barack Obama para reconstruir a região nordeste. Segundo o Departamento de Habitação, a estratégia também busca “servir como modelo para comunidades de toda a nação que enfrentam maiores riscos de eventos meteorológicos extremos e continuar ajudando a reconstruir a região afetada pelo Sandy”.

A agência enfatiza duas de suas recomendações que giram em torno do potencial de condições climáticas mais extremas no futuro. A primeira é iniciar “um processo para priorizar todos os projetos de infraestrutura em grande escala e mapear as conexões e interdependências entre elas, bem como pautas para garantir que todos esses projetos sejam construídos para suportar os impactos da mudança climática”. Outra é “consolidar a infraestrutura energética para minimizar os cortes de eletricidade e a escassez de combustível – e garantir a continuação do serviço de telefonia celular – em casos de futuras tempestades”.

O informe também pede urgência na criação de uma “ferramenta de projeção de aumento do nível do mar” que esteja publicamente disponível, para manter informadas as comunidades vulneráveis sobre como podem mudar os níveis da água. Tais medidas “melhorarão nossa capacidade de suportar e nos recuperarmos efetivamente de futuros desastres relacionados com inundações em todo o país”, afirmam os autores.

Em linha com uma tendência que se propaga por todo o planeta, o objetivo  declarado destas novas recomendações oficiais é conseguir comunidades “resilientes”, que tenham capacidade “para responder efetivamente a uma tempestade importante, se recuperar rapidamente dela e adaptar-se às condições mutantes, ao mesmo tempo em que adotam medidas para reduzir o risco de danos significativos em uma futura tempestade.

Larsen sugeriu que parte desta ênfase possa estar mal colocada. Embora o conceito de resiliência seja mencionado cerca de 300 vezes no estudo, as causas da mudança climática, como as emissões derivadas da queima de combustíveis fósseis, praticamente não são abordadas, afirmou. Apesar de elogiar o informe por reconhecer o desafio da mudança climática, lamentou a falta de atenção que é dada a estas causas.

Larsen afirmou que conceitos positivos como a reconstrução são populares do ponto de vista político e, portanto, mais fáceis de apresentar ao público, enquanto as “verdades cruas” que colocam o país na defensiva não têm um bom impacto na imagem “dominante” que os Estados Unidos têm de si mesmo.

DeHaven concordou que a política está em jogo na estratégia que se centra no plano federal, e que o Estado e os políticos, sem considerarem os custos de longo prazo, frequentemente aceitam com muita rapidez os dólares federais. Mas os custos de longo prazo, acrescentou, são governos estaduais e locais dependendo de cheques federais e, portanto, com menos controle sobre seus próprios destinos.

“Uma vez que o governo federal intervenha e acumule poder, mesmo depois de terminado o problema original, tende a não renunciar a esse poder”, pontuou DeHaven. E acrescentou que as políticas federais agravam a vulnerabilidade ao subsidiarem seguros com prêmios abaixo do valor de mercado, o que incentiva a construção em áreas de risco.

Para Larsen, um melhor plano nacional incluiria um calendário mais rápido para reduzir as emissões e aceitar o fato de que “pode haver algumas áreas nas quais não se deve construir em absoluto”. Enfatizou que “a ideia principal deveria ser que quando olhamos os custos dos desastres e entendemos que a mudança climática contribui para sua ocorrência, começa a ficar claro que esses custos superam os de reduzir o uso de combustíveis fósseis”. Envolverde/IPS