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Funcionários da ONU a acusam de violar direitos humanos

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, reunido com representantes do sindicato, no dia 4 de outubro de 2013. Foto: UN Photo/Eskinder Debebe
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, reunido com representantes do sindicato, no dia 4 de outubro de 2013. Foto: UN Photo/Eskinder Debebe

 

Nações Unidas, 10/12/2013 – A Organização das Nações Unidas (ONU) comemora hoje o Dia dos Direitos Humanos, enquanto é acusada de realizar mudanças drásticas nas condições de trabalho e nos salários de seu pessoal, sem realizar as consultas pertinentes, ou seja, violando suas garantias sindicais. O sindicato de trabalhadores da ONU em Genebra protesta “pela eliminação do direito ao reconhecimento sindical por parte do secretário-geral, Ban Ki-moon, e sua negativa em respeitar as faculdades de negociação dos representantes eleitos por seus empregados”.

Enquanto isso, os Estados Unidos propuseram um corte de 8% nos salários e a Grã-Bretanha, em nome dos países que realizam as maiores contribuições, pediu a Ban uma redução mais drástica dos custos. Em carta enviada aos seus colegas, Ian Richards, presidente do sindicato de Genebra, na Suíça, disse que “os debates sobre as pensões incluem uma proposta para aumentar em 1% a contribuição do pessoal, reduzir em 1% a contribuição da organização, e avaliar o sistema de duas vias. Tudo isso acontece em um momento em que o pessoal não é capaz de negociar suas próprias condições de trabalho”.

Os sindicatos de trabalhadores da ONU enviaram a vários colegas em Nova York para apresentarem seus pontos de vista perante os 193 Estados membros e reverter a tendência, informou Richards. Segundo os dados mais recentes da ONU, em seu sistema há cerca de 44 mil funcionários, e mais de 60% trabalham no terreno em diferentes países. “Apoiamos por completo o sindicato de Genebra nessa matéria”, afirmou a presidente do sindicato da ONU em Nova York, Barbara Tavora-Jainchill. “Os trabalhadores da ONU também são seres humanos e deveriam ter os mesmos direitos” dos demais, advertiu na véspera de as Nações Unidas comemorarem, hoje, o Dia dos Direitos Humanos.

O paradoxo da comemoração é que, entre os que participarão de um “acontecimento não oficial” de protesto contra a violação das garantias trabalhistas, haverá pessoal do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Genebra. “Acreditamos que a ONU só pode promover de modo efetivo a defesa dos direitos humanos em todo o mundo se proteger de modo efetivo os direitos de seu pessoal”, enfatizou Tavora-Jainchill.

No dia 17 de novembro de 1947, a Assembleia Geral aprovou a Resolução 128 (II) intitulada Direitos Sindicais (Liberdade de Associação), que consagra os princípios proclamados pela Conferência Internacional do Trabalho nesse sentido, recordou a sindicalista. Essa resolução, afirmou, também inclui uma subseção que fala do “reconhecimento efetivo do direito ao contrato coletivo” para todos os seres humanos, independente de raça, credo ou sexo.

Em 14 de junho deste ano, Ban e sua equipe gerencial se retiraram das conversações com os sindicatos da ONU, desconhecendo seu direito a negociar com os chefes, segundo Richards. “Assim, se impossibilitou que as duas partes trabalhassem juntas para melhorar as condições do serviço em um momento de particular vulnerabilidade do pessoal do fórum mundial”, destacou. A ONU não atendeu o pedido da IPS para responder às acusações do sindicato.

Nos últimos dez anos, 555 trabalhadores das Nações Unidas foram atacados e mais de 200 assassinados, a maioria enquanto realizavam diferentes missões de paz da ONU. Em razão dos protestos sindicais, Ban criou um grupo de trabalho para debater um contexto futuro para as relações com o pessoal. O Dia dos Direitos Humanos foi escolhido como jornada de protesto “porque, enquanto o pessoal da ONU exige a promoção dos direitos humanos perante o resto do mundo, esses mesmos direitos faltam dentro da organização”. Envolverde/IPS