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Luta entre Obama e Congresso pelo Irã ultrapassa fronteiras

O presidente norte-americano, Barack Obama, pronuncia seu discurso anual sobre o Estado da União no prédio do Congresso, em Washington, em janeiro deste ano. Foto: Pete Souza/Casa Branca
O presidente norte-americano, Barack Obama, pronuncia seu discurso anual sobre o Estado da União no prédio do Congresso, em Washington, em janeiro deste ano. Foto: Pete Souza/Casa Branca

 

Washington, Estados Unidos, 26/1/2015 – Embora continue sendo uma incógnita se finalmente este ano se chegará a um acordo definitivo sobre o programa nuclear do Irã, importantes atores internacionais intervieram em apoio ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, contra as novas sanções que o Congresso pretende impor à república islâmica.

Durante seu discurso sobre o Estado da União, no dia 20, Obama reiterou sua ameaça de veto aos projetos de lei que o Congresso propõe com sanções ao Irã enquanto continuarem as negociações com Teerã. “Não tem sentido”, afirmou em seu penúltimo discurso anual como presidente. “As novas sanções que este Congresso aprovar, neste momento no tempo, somente garantirão o fracasso da diplomacia, alienando os Estados Unidos e seus aliados e assegurando que o Irã coloque em marcha seu programa nuclear novamente”, advertiu.

Em um artigo de opinião, publicado no dia 21 deste mês pelo jornal The Washington Post, representantes do P5+1 (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia mais a Alemanha), que negociam com o Irã seu programa nuclear, apoiaram o pedido de Obama para “dar uma oportunidade à diplomacia com o Irã”.

A “incorporação de novos obstáculos nesta fase crítica das negociações, em particular mediante a legislação de sanções relacionadas com as atividades nucleares do Irã, colocaria em perigo nossos esforços em uma conjuntura crítica”, alertaram Laurent Fabius, da França, Philip Hammond, da Grã-Bretanha, Frank-Walter Steinmeier, da Alemanha, e Federica Mogherini, da União Europeia. Mais sanções “neste momento também poderiam rachar a coalizão internacional que fez as sanções terem sido tão eficazes. Em lugar de fortalecer nossa posição de negociação, nos farão retroceder”, acrescentaram.

Em uma entrevista coletiva conjunta com Obama na Casa Branca, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, reconheceu que havia se comunicado com dois senadores dos Estados Unidos para pedir-lhes que não aprovem mais sanções contra o Irã neste momento. “Sim, contatei dois senadores esta manhã e é possível que fale com mais um ou dois esta tarde”, informou aos jornalistas no dia 16 deste mês.

“É a opinião do Reino Unido que mais sanções ou ameaças de sanções neste momento não ajudarão de fato a levar as negociações a bom termo e poderão rachar a unidade internacional que foi tão valiosa ao apresentar uma frente unida ao Irã”, afirmou Cameron.

No que os analistas consideram uma rejeição à política iraniana de Obama, no dia seguinte ao discurso sobre o Estado da União, soube-se que o presidente da Câmara de Representantes, John A. Boehner, convidou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a falar em uma sessão do Congresso, no dia 11 de fevereiro. Netanyahu, que não esconde sua oposição à estratégia de Obama para o Irã, aceitou o convite, mas mudou a data para 3 de março, quando estará visitando Washington para uma conferência organizada pelo destacado grupo de pressão pró-Israel, Comitê Norte-Americano-Israelense de Assunto Públicos (Aipac).

O convite, que não foi coordenado pela Casa Branca, surpreendeu o governo de Obama. Este informou que não receberá Netanyahu durante sua permanência em Washington, citando uma política contrária a receber líderes estrangeiros na proximidade de eleições, já que Israel realizará eleições em março.

Embora Netanyahu seja um firme defensor da linha dura no tocante ao acordo final sobre o programa nuclear iraniano e proponha medidas intransigentes como 0% de enriquecimento de urânio por parte de Teerã, não pode ser criticado por aceitar o convite, segundo o ex-embaixador dos Estados Unidos junto à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Robert E. Hunter. “Se há alguma culpa, esta cabe ao presidente da Câmara”, afirmou, referindo-se a Boehner.

“Se a visita de Netanyahu, que ressalta a potência política do lobby israelense no Capitólio, conseguir assegurar o apoio do Senado para anular a ameaça de veto de Obama às sanções, isso fará Boehner e companhia compartilharem a responsabilidade não só do possível colapso das conversações nucleares, mas também do aumento da possibilidade de uma guerra com o Irã”, apontou Hunter.

Mas neste ponto não há garantias de que os projetos de lei no centro da discussão, como o apresentado pelo republicano Mark Kirk e pelo democrata Bob Menéndez e outro apresentado pelo presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, Bob Corker, conseguirão a maioria necessária para superar o veto e se converter em lei.

Com apoio dos líderes democratas no Congresso, o governo impediu até o momento que o poder legislativo discuta o projeto de lei Kirk-Menéndez desde que foi apresentado, em 2013.

Cada vez mais funcionários e ex-funcionários de alto nível manifestaram sua oposição à aprovação de sanções adicionais neste momento. “A inteligência israelense disse aos Estados Unidos que impor novas sanções contra o Irã equivaleria a lançar uma granada contra o processo de negociações”, afirmou o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, à CBS News, no dia 21.

“Por que queremos ser o catalisador do fracasso das negociações antes que saibamos na verdade se há algo que podemos conseguir com elas?”, perguntou a ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, esta semana, após se opor a mais sanções durante um fórum realizado em Winnipeg, no Canadá.

“Acreditamos que não são necessárias mais sanções neste momento”, pontuou o subsecretário do Tesouro para o Terrorismo e a Inteligência Financeira, David Cohen, ao jornal The Wasl Street Journal esta semana. “Pelo contrário, é mais provável que prejudiquem, em lugar de melhorar, as possibilidades de alcançar um acordo integral”, ressaltou.

Embora a batalha não esteja terminada, após a ameaça de veto de Obama e do convite de Boehner a Netanyahu, inclusive alguns dos copatriconadores democratas do projeto de lei Kirk-Menéndez parecem inclinados a favor da Casa Branca. “Estou falando com colegas dos dois lados do corredor. E creio que estão pensando, e repensando, suas posições à luz dos pontos que o presidente e sua equipe nos apresentaram”, declarou o senador Richard Blumenthal à revista Político. Envolverde/IPS