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Multifacetário projeto potencializa agricultores do Senegal

Agricultura no Senegal. Foto: Divulgação/Internet

 

Potou, Senegal, 19/10/2012 – As crescentes colheitas na comunidade senegalesa de Leona são evidência dos benefícios de um plano interdisciplinar de apoio à agricultura. No entanto, os produtores ainda exigem políticas coerentes para proteger o mercado local. Desde 2008, a localidade de Potou é cenário de um esforço multissetorial de erradicação da pobreza. Trata-se de uma das 12 Aldeias do Milênio, identificadas como os lugares mais afetados pela fome em dez países da África.

Cada aldeia foi escolhida em representação de diferentes zonas agroecológicas subsaarianas. A meta é demonstrar como a combinação de conhecimento local com um enfoque global científico pode ajudar a reduzir pela metade a fome e a extrema pobreza. Este é o primeiro dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, acordados pela comunidade internacional em 2000.

O projeto foi impulsionado pelo economista Jeffrey Sachs, diretor do Earth Institute, e recebeu apoio de agências da ONU, corporações transnacionais, governos e indivíduos. O projeto Aldeias do Milênio busca reduzir a pobreza extrema e a fome abastecendo os camponeses com sementes de alto rendimento, fertilizantes e métodos de irrigação. Além disso, a iniciativa não foca apenas a agricultura.

“Os membros de nossa comunidade rural agora têm acesso a energias hídrica e solar, que iluminam nossas casas e ativam o sistema de irrigação em cerca de 800 dos mil hectares dedicados à plantação de cebola nesta região”, informou o vice-presidente da Associação Nacional de Horticultores, Serigne Abdou Boye. O projeto também inclui a criação de quatro novos centros de saúde em Leona, onde os 31 mil membros da comunidade recebem cuidados gratuitamente. Além disso, foram construídas 60 novas salas de aula.

Os agricultores em Leona cultivam uma grande variedade de produtos, como tomate, pimentão e cenoura, mas o presidente da comunidade, El Hadj Mamadou Bâ, afirmou que os produtores de cebola são os mais beneficiados pelo projeto. “No ano passado, colhi menos de 20 toneladas de cebolas em um hectare. Este ano tenho dois hectares irrigados e plantados com cebola, e, graças ao apoio do projeto, creio que poderei ter um recorde de 80 toneladas”, contou à IPS.

Outro produtor, Idrissa Diallo, disse à IPS que, graças ao uso de sementes melhores, sistemas de irrigação e fertilizantes orgânicos à base de esterco de vaca, mais de 60 mil toneladas de cebolas foram colhidas na safra 2011-2012, significativamente maior do que a safra 2009-2010, quando foram colhidas 45 mil toneladas. “Antes do projeto precisávamos de muitos trabalhadores para irrigar os campos, e nossa produção não rendia. Colhíamos menos de 20 toneladas por hectare, mas, com este projeto, às vezes chegamos a 70 toneladas”, detalhou Diallo.

Em uma visita em julho, Bouri Sanhouidi, representante residente em Dacar do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), elogiou o novo sistema de irrigação. Além disso, exortou as agências da ONU a apoiarem o projeto. Em Potou moram cerca de três mil pessoas, e durante a safra, que vai de abril a novembro, a aldeia recebe dezenas de trabalhadores de outros países. Ahmadou Konté, da Guiné, contou à IPS que vem trabalhar aqui desde 2008. Regressa para casa a cada ano com US$ 360.

Mamadou Bâ destacou que várias cooperativas que operam em Leona criaram empregos para 102 jovens que foram deportados em 2005 da Espanha por entrarem ilegalmente nesse país. O sucesso da comunidade atraiu mais pessoas de diferentes lugares, mas ainda há problemas a resolver. Por exemplo, os produtores se queixam de que estão isolados do resto do país devido às más condições das estradas. Também reclamam que as sementes e os fertilizantes foram entregues com atraso, e que o custo desses insumos é muito alto.

“Recebemos sementes e fertilizantes graças ao projeto, mas os preços são um pouco altos. Gostaríamos que houvesse apoio adicional do governo. Meio quilo de sementes custa US$ 42, e um saco de fertilizante de 50 quilos sai por US$ 24. Isto é muito caro para nós”, disse o produtor Yoro Ba à IPS. Também há descontentamento pelo preço da cebola, disse Fatoumata Dia, diretora regional do Serviço Nacional de Assessoria Rural em Louga, norte do país. Porém, este “foi fixado por um acordo entre governo e produtores”, explicou à IPS.

Os agricultores receberão o equivalente a US$ 0,24 por quilo pagos pelos intermediários, que poderão vender o quilo de cebolas por US$ 0,33 aos comerciantes, os quais, por sua vez, entregarão ao consumidor final por US$ 0,50 o quilo. O produtor Moussa Sow também é contra o fim de uma proibição à importação de cebola, que o governo havia imposto entre fevereiro e final de agosto. “A nova autorização para importações é um desafio. Ameaça acabar com a produção nesta área. Fizemos empréstimos em bancos e agora não podemos vender nossas colheitas”, afirmou.

Diante disso, Mamadou Bâ pediu que a proibição seja estendida por outros três anos. O primeiro-ministro do Senegal, Abdoul Mbaye, visitou o projeto em julho, destacando que se trata de um “modelo aplicado de desenvolvimento”. Também reconheceu a necessidade de o governo trabalhar para torná-lo sustentável e estendê-lo a outras áreas. Envolverde/IPS