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O mar alimenta, mas também ameaça Ilhas Salomão

O aumento do nível do mar ameaça as Ilhas Salomão. Foto: Catherine Wilson/IPS

 

Auki, Ilhas Salomão, 3/5/2013 – A lagoa de Langa Langa, perto da costa ocidental de Malaita, uma das Ilhas Salomão, tem sido o lar de milhares de pessoas durante séculos. Por gerações, os ilhéus apelaram para sua tenacidade para subsistirem em pequenos atóis de terras para cultivar. Mas a mudança climática agora se tornou sua maior ameaça.

“O mar é hostil e as marés ficam mais altas. Às vezes a água cobre toda a ilha durante a temporada de chuvas”, disse Alphonsus Waleronoa, sentado em um banco sob o beiral de sua casa, em uma ilhota artificial de Raolo, de apenas cem metros quadrados. Uma das colunas de sua casa fica sobre as rochas da ilha e a outra afunda nas águas da lagoa.

Em Raolo, há meia dúzia de casas para cinco famílias, com um total de 26 pessoas. A ilhota foi construída sobre uma base de corais, pedras e areia pelo pai de Waleronoa, depois que um ciclone destruiu sua casa em outra ilha artificial chamada Rarata, em 1945. Novos ciclones no final dos anos 1960 obrigaram a pequena comunidade a abandonar temporariamente a província de Malaita, mas regressou há dez anos fugindo da guerra civil, entre 1998 e 2003, conhecida neste país do Pacífico como “As Tensões”.

Ilhas Salomão é um arquipélago com mais de 900 ilhas a leste de Papua Nova Guiné. A maioria de seus mais de 500 mil habitantes reside na costa, que se estende por 4.023 quilômetros. Os desastres naturais são um alto risco, especialmente na temporada de chuvas, entre novembro e abril, quando ciclones, tsunamis e pequenos tornados podem causar inundações e grande destruição.

Atualmente, a mudança climática, o maior desafio para os pequenos Estados insulares em desenvolvimento (SIDS) e para os países menos avançados (PMA), agrava os problemas que já enfrentam as vulneráveis comunidades costeiras. O nível do mar nas Ilhas Salomão cresceu oito milímetros ao ano desde 1993, acima da média mundial de 2,8/3,6 milímetros, segundo o Programa Científico sobre Mudança Climática do Pacífico. A previsão é de que até 2030 o mar possa subir 15 centímetros, a velocidade média dos ciclones seria 11% maior e as precipitações associadas a estes fenômenos cresceriam 20% em intensidade.

Caspar Supa, coordenador nas Ilhas Salomão desse programa de adaptação, explicou à IPS que os lugares mais vulneráveis são as ilhas e os atóis artificiais, onde “há pouca segurança alimentar, falta de desenvolvimento, poucos recursos e limitada educação” sobre o fenômeno do aquecimento global. Cerca 12 mil pessoas vivem nas ilhotas artificiais criadas nas lagoas de Langa Langa, na costa oeste de Malaita, e de Lau, no nordeste. Em Langa Langa, de 21 quilômetros de comprimento e um de largura, há 13 ilhas artificiais. Muitas pessoas não sabem exatamente o motivo de seus ancestrais terem criado esses ambientes únicos, onde as comunidades se dedicam fundamentalmente à pesca, à construção de embarcações e à fabricação de moedas tradicionais feitas com conchas do mar que usam em suas operações comerciais.

Os ancestrais de Thomas Dakero há 500 anos abandonaram a região de Kwaio Ocidental rumo à ilha de Busu, metade natural e metade artificial, onde moram cerca de 300 pessoas. Dakero é testemunha de como ocorrem altas marés quase a cada mês e as ondas inundam a maior parte da ilha. Há um mangue que dá certa proteção contra o mar, mas que está ameaçado. “Falo para as pessoas não cortarem os mangues, mas precisamos de lenha para cozinhar. No passado usávamos a madeira morta e seca, mas com o aumento populacional precisamos cortar as árvores”, afirmou.

A vida diária tem muitos outros desafios. Não há nenhuma fonte de água potável nas pequenas ilhas artificiais de Raolo e Busu, e o terreno não é adequado para a agricultura. Os habitantes de Busu coletam água de chuva em tanques, mas durante a época de seca têm de viajar de barco até terra firme várias vezes por semana para conseguir água em recipientes de plástico.

“Queremos ficar em nossa ilha”, disse Waleronoa à IPS. “Fomos pescadores por gerações. Vendemos pescado nos mercados, e essa é a única renda que temos, por isso é muito difícil nos mudarmos”, acrescentou. A pesca é uma importante fonte de subsistência e dinheiro para muitos habitantes das Ilhas Salomão. Contudo, no ano passado, um informe oficial alertou que estavam sendo usados métodos destrutivos para esta atividade, o que é um problema em especial para Langa Langa.

Dakero afirmou que vários pescadores locais usavam dinamite. Para tentar recuperar a lagoa, ele plantou corais nas águas que rodeiam Busu, criando uma área para os peixes poderem se alimentar. O futuro dos moradores destas ilhas artificiais é incerto. “Tentamos elevar o nível da ilha e cultivar mangues de um lado”, disse Waleronoa. Dakero também considera aumentar o nível de Busu, mas disse que isso é muito caro, porque é necessária grande quantidade de pedra.

O governo provincial de Malaita já planeja a possível realocação das comunidades dos atóis de Ontong Java e Sikaina, onde se deteriora a segurança hídrica e alimentar. “A primeira etapa é que consultemos as comunidades afetadas sobre um possível reassentamento”, informou à IPS a subsecretária provincial de Malaita, Augustine Faliomea. “Poderão escolher onde se reassentar na ilha de Malaita. Depois poderemos negociar com os atuais proprietários desses terrenos para comprá-los e reassentá-los”, acrescentou. Envolverde/IPS