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Vacina contra dengue é muito cara no Camboja

Pacientes com dengue no Hospital Nacional Pediátrico do Camboja. Foto: Erika Pineros/IPS

 

Phnom Penh, Camboja, 17/9/2012 – Especialistas em saúde pública do Camboja não estão entusiasmados com a notícia dos testes de uma vacina contra a dengue realizados na vizinha Tailândia, pois será muito cara para os mais necessitados, crianças de países em desenvolvimento e menos adiantados. “Naturalmente, não se pode produzir uma vacina de 20 centavos”, disse à IPS o diretor da unidade de virologia do Instituto Pasteur do Camboja, Philip Buchy. Ele se referia aos testes sobre a eficácia de uma vacina contra a dengue a cargo da companhia farmacêutica Sanofi, com sede em Paris, cujos resultados foram publicados este mês pela revista médica britânica Lancet.

Stephen Bjorges, líder da equipe para doenças transmitidas por vetores, da Organização Mundial da Saúde no Camboja, concorda com ele. Mesmo se a Sanofi conseguir, “será preciso mobilizar fundos” para cobrir o custo da inoculação de crianças neste país, afirmou. A epidemia de dengue, que atingiu o Camboja nos primeiros oito meses deste ano, levou mais de 30 mil pessoas para o hospital, na maioria menores de idade.

Segundo a Lancet, a vacina da Sanofi protege contra três dos quatro tipos do vírus da dengue, sendo aproximadamente 30% contra o tipo um e de 80% a 90% contra o três e o quadro. Mas, não protege contra o tipo dois, que circulou na área de estudo durante os testes, o que dá à vacina uma eficácia de 30,2%, diz o artigo. Está sendo realizada a fase três de testes em grande escala, em 31 mil crianças e adolescentes da América Latina e do sudeste da Ásia, informou a Sanofi em uma declaração à imprensa, que coincidiu com a publicação do informe da Lancet.

Segundo a agência de notícias Reuters, a empresa já investiu mais de US$ 430 milhões em uma nova fábrica na França para produzir a vacina. Bjorges, da OMS, informou que, se a fase três dos testes conseguir uma vacina de sucesso, seu mercado inicial provavelmente seja de turistas de nações ricas e militares. Buchy concordou, embora duvide que esteja para chegar ao mercado uma vacina efetiva. “Não é para amanhã. A epidemia de dengue ainda tem muitos dias pela frente”, opinou.

Porém, novas pesquisas indicam que a dengue é muito mais prevalente no Camboja do que se pensava, o que demonstra a necessidade de aumentar o investimento em prevenção. A incidência da doença não está bem registrada, em parte, porque o sistema de controle do país depende de dados de hospitais estatais. Os casos atendidos em clínicas e centros privados não são informados ao Ministério da Saúde.

Os hospitais benemerentes do Camboja dedicados a pacientes com dengue pediram ajuda após se verem lotados de pacientes em maio. O Hospital Nacional Pediátrico depende de estudantes de enfermagem para atender meninas e meninos, colocados em corredores e no vestíbulo diante da escadaria principal. O hospital recebe apenas US$ 20 por paciente, sem importar quanto tempo o menor ficar internado. O salário mensal dos médicos está em torno de US$ 125 e o das enfermeiras é de US$ 75. Com tão magros recursos para a saúde é necessária uma vacina muito barata. Envolverde/IPS