Rajendra Pachauri defende precificação do carbono

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Presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas afirma que obrigar emissores a pagar pela liberação de gases do efeito estufa é a melhor forma de mitigação.

O quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) será apresentado em setembro, mas já começam a aparecer fragmentos do documento e o presidente da entidade, Rajendra Pachauri, está cada vez mais ativo em sua divulgação.

Em um seminário na Finlândia nesta segunda-feira (12), Pachauri declarou que a forma mais eficiente para lidar com as emissões de gases do efeito estufa é fazer com que se pague por elas.

“Concluímos que provavelmente o melhor instrumento para a mitigação é a precificação do carbono”, disse. No entanto, não deixou claro se o quinto relatório vai recomendar a criação de mercados de carbono ou de taxas com preço fixo para as emissões.

Pachauri destacou o papel das novas tecnologias, que serão essenciais para evitar as piores consequências das mudanças climáticas.

“Sou um grande admirador da habilidade da Finlândia de encontrar soluções tecnológicas para seus problemas. Países como esse, que possuem organizações de pesquisa, universidades e indústrias de ponta, devem ajudar a enfrentar os problemas relacionados com o clima, não apenas dentro de suas fronteiras, mas por todo o globo.”

O presidente do IPCC também concedeu recentemente uma entrevista à revista Forbes Índia, na qual abordou a tragédia da enchente no estado de Uttarakhand em junho, que resultou na morte de mais de cinco mil pessoas e é considerada o pior desastre natural na Índia desde o tsunami de 2004.

“Poderíamos ter salvo vidas se as medidas para encarar esse tipo de desastre estivessem em prática. Algumas casas localizadas nas encostas nunca teriam sido construídas se melhores regulamentações existissem. Não podemos atribuir esse evento diretamente às ações do homem no clima e ao aquecimento global, mas esses incidentes devem ficar mais frequentes no futuro”, afirmou.

O que esperar do quinto relatório

Está agendada para o dia 23 de setembro a publicação do novo relatório do IPCC, mas alguns rascunhos vazaram para a imprensa internacional nos últimos meses e causaram polêmica.

Em julho, a revista The Economist apresentou uma tabela que faria parte do novo documento e que trazia a informação de que mesmo com a concentração de CO2 na atmosfera batendo as 485ppm em 2100, a elevação das temperaturas com relação aos níveis pré-industriais seria de apenas 1,3°C a 1,7°C. Isso é bem menos do que o previsto no quarto relatório do IPCC, de 2007, que apontava que um concentração entre 445ppm a 490ppm levaria as temperaturas a aumentarem em 2,0-2,4°C.

Essa tabela fez muitos questionarem se realmente compensaria reduzir as emissões de gases do efeito estufa. No entanto, o IPCC divulgou rapidamente uma nota, destacando que ainda se trata de um rascunho.

“Rascunhos são produtos intermediários e não representam a visão final que o IPCC tem do estado do conhecimento atual sobre mudanças climáticas e seus impactos ambientais e socioeconômicos.”

De qualquer forma, assim como foi dado destaque para a tabela de concentração de CO2, a imprensa ignorou outra parte do rascunho que traz uma informação bastante preocupante.

“Existem evidências consistentes através de observações de que um desequilíbrio no balanço energético da Terra está resultando em um acúmulo de energia [que resulta no que chamamos de aquecimento global]. É virtualmente certo que isso seja causado pelas atividades humanas, especialmente devido ao aumento das concentrações de CO2. Temos uma alta confiança de que as forças naturais contribuem apenas para uma fração pequena desse desequilíbrio”, descreve o rascunho.

Vale ressaltar que quando o IPCC usa a expressão “virtualmente certo”, isso significa que 99% dos cientistas do painel concordam com a afirmação em questão, e “alta confiança” são 90%. Portanto, se o quinto relatório realmente trouxer a citação acima, não haverá dúvidas de que existe consenso científico sobre o papel do homem no aquecimento global.

O IPCC é formado por milhares de pesquisadores de 195 países e cerca de 800 deles tiveram uma participação direta na escrita do quinto relatório, que pode ser considerado uma coletânea e análise dos mais de seis mil estudos sobre as mudanças climáticas divulgados nos últimos anos.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil