COP19: O planeta das futuras gerações

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Hoje eu recebi um convite bacana e inesperado. A Youngo, que é o grupo jovem da ONU, dentro da COP me convidou para participar de uma de suas intervenções, sobre o direito das futuras gerações em relação ao Planeta, uma vez que sou mulher e estou grávida.

Sempre depois das reuniões de negociação, a Youngo e outras organizações da sociedade civil têm dois minutos de fala. Então, pediram que eu lesse a carta abaixo e, ao final, colocasse uma fita na boca, buscando sensibilizar os participantes para o fato de que as gerações futuras não têm voz durante as negociações. E parece que foi efetiva em chamar a atenção: muita gente se aproximou de mim para me ver ler a carta, mesmo com transmissão por vídeo e microfone, muitos tiraram fotos também e alguns vieram falar comigo ao final.

A intervenção aconteceu ao final da reunião do ADP (Protocolo Durban). Esse protocolo está sendo desenvolvido para substituir o Protocolo de Kyoto, uma vez que esse perdeu sua validade. O objetivo é que o novo documento seja seguido por todos os países e que esteja pronto até 2015, para entrar em vigência a partir de 2020.

Muitas organizações, assim como a Youngo, estão lutando para que o documento adote a meta de redução das emissões de CO2 e outros gases ao ponto da temperatura do planeta aumentar, no máximo, mais 1,5 graus Celsius. O que evitaria catástrofes maiores do que as que já estamos presenciando e, claro, o futuro das próximas gerações, não só humanas, mas da flora e fauna. Esse direito é chamado de Intergenerational Equity, ou equidade intergeracional.

 

Carta

Presidente da mesa, obrigada pelo espaço,

Eu sou Emilia do Brasil e falo em nome da YOUNGO.

Estamos aqui em solidariedade às vítimas do tufão Yolanda e a todos aqueles afetados por mudanças climáticas antropogênicas. Devemos reconhecer que foi a inação e a negligência grosseira a respeito das gerações futuras que permitiu que supertempestades como essa venham ocorrendo.

Eu e o bebê dentro de mim, estamos diante de vocês falando não apenas em nome da juventude, mas em nome das gerações futuras. A UNFCCC existe tanto para ajudar a aliviar as injustiças atuais como para garantir que injustiças futuras não ocorram.

É, portanto, imperativo que o princípio da equidade intergeracional seja central para o texto da ADP. Equidade intergeracional assegura que as futuras gerações tenham acesso às mesmas oportunidades e recursos que a geração atual. Precisamos parar de desconsiderar as gerações futuras na economia das mudanças climáticas.

Precisamos reconhecer que a atmosfera seja de confiança para essas gerações que possuem os mesmos direitos fundamentais. Negligenciar essa necessidade seria demonstrar uma grosseira ignorância do artigo 3.1 da Convenção, que estabelece que “as Partes devem proteger o sistema climático em benefício das gerações presentes e futuras”.

Um antigo ditado diz que “nós não herdamos o mundo de nossos ancestrais, nós os emprestamos de nossas crianças “. Até que finalmente, vocês reconheçam isso e reconheçam o direitos e a voz das futuras gerações, até lá, tudo o que resta é o silêncio. Então, nós dedicamos os próximos momentos para um futuro que está sendo perdido e uma geração que não tem voz nestes corredores.

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Emilia de Mattos Merlini é uma das repórteres da Agência Jovem de Notícias, projeto encabeçado pela ONG Viração Educomunicação, que pretende levar propostas da juventude para serem contempladas pelos negociadores brasileiros durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP19).

** Para acompanhar a cobertura jovem da COP19 acesse também:  www.agenciajovem.org e www.redmasvos.org. Os conteúdos serão produzidos em português, espanhol e italiano.