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Jovens apresentam novas ideias para a reconstrução do Japão

Universitários japoneses avaliam a devastação causada pelo tsunami em Minamisanriku antes de começarem o trabalho. Foto: Daan Bauwens/IPS

 

Tóquio, Japão, 6/2/2013 – Os fundos para a reconstrução das zonas afetadas pelo terremoto e posterior tsunami de 2011 começam a minguar no Japão, e em muitas áreas do nordeste as obras nem mesmo começaram. Porém, cada vez mais jovens chegam ali com novas ideias para a recuperação. Às seis horas da manhã estaciona um ônibus na planície desértica onde ficava o povoado costeiro de Minamisanriku. Hoje, não fossem dois marcos de metal do que foram grandes edificações, não restam rastros da presença humana na área.

Vinte estudantes de Tóquio descem do veículo e visitam a área. Uma hora depois se unem a outro grupo de voluntários e começam a cavar a terra gelada para retirar os escombros que a gigante onda de barro deixou há dois anos. Entre eles está Akinori Fujisawa, vice-presidente do projeto Assistência da Universidade de Tóquio (UT Aid), que nos finais de semana reúne estudantes voluntários de todo o país nas zonas afetadas.

“Logo depois do tsunami, os japoneses queriam vir para cá (Minamisanriku) como voluntários. Mas muitos não puderam”, contou Fujisawa à IPS durante a visita à região. “Os estudantes tinham tempo, mas não tinham dinheiro, enquanto os trabalhadores tinham dinheiro, mas não tempo. E foi assim que começamos: conseguimos fundos de pessoas e empresas e passamos a organizar viagens nos finais de semana”, explicou. E não são apenas estudantes. “A gente vem aqui todos os finais de semana com amigos”, contou Machiko Ogata, uma japonesa de 30 anos. “Nos reunimos em Tóquio e viajamos para cá. Todos nos conhecemos nestes locais. É um acontecimento social”, acrescentou.

No entanto, este tipo de iniciativa tem os dias contados. “Não será necessário mais de gente cavando”, disse Fujisawa à IPS. “Gostaríamos de iniciar novos projetos, como tentar melhorar as condições de estudo das crianças da área, porque a maioria delas faz seus deveres na rua. Porém, não podemos fazer muito com o orçamento atual”, ponderou. “E cada vez fica mais e mais difícil reunir fundos. As pessoas, equivocadamente, acreditam que a reconstrução está terminada. Claramente, se pode ver que não é assim. Mas, não podemos fazer muito a respeito. Em dois meses nossa organização deixará de funcionar”, lamentou.

As iniciativas voluntárias como a UT Aid deixarão a região, mas aparecem cada vez mais grupos de jovens profissionais, organizações não governamentais e empreendimentos sociais inovadores. A Entrepreneurial Training for Innovative Communities (Capacitação Empresarial para Comunidades Inovadoras – Etic), baseada em Tóquio, é um centro de formação para jovens empresários que querem iniciar uma empresa social.

Após a catástrofe de 2001, a organização começou um programa para capacitar e enviar pessoas para as áreas afetadas, e assim colaborar com a reconstrução. “Já enviamos mais de 135 pessoas para essa região”, disse Yoshi Koumei Ishikawa, gerente da divisão de pesquisa da Etic. “A maioria está na faixa dos 20 a 30 anos, e quase todos renunciaram aos seus empregos em grandes companhias do Japão para criar seu próprio projeto social”, afirmou.

Além disso, diretores de prósperas ONGs japonesas decidiram se instalar na devastada região de Tohoku, no norte da principal ilha do Japão, Katariba, encabeçados por Kumi Imamura, de 33 anos, já construiu três escolas para mais de 300 crianças, como maneira de compensar a falta de espaço nos abrigos temporários para as vítimas do tsunami. “Porém, o mais importante é que os residentes da área atuam como professores e logo assumirão a organização do programa”, destacou Retz Fujisawa, de 37 anos, coordenador de quase todas as instituições que trabalham na zona. “A primeira etapa de alívio terminou. Agora pretendemos estimular a autorreconstrução, os moradores de Tohoku precisam assumir a liderança”, explicou.

Com a Tohoku Earthquake Consulting Team, com sede em Tóquio, Fujisawa guia os esforços de reconstrução das ONGs. Também integra o governamental Conselho de Reconstrução Educativa e a Agência de Reconstrução, onde defende um enfoque inovador na matéria. “A região de Tohoku está devastada, o dano é enorme”, declarou à IPS. “Contudo, mesmo sem o tsunami, já caminhava para uma catástrofe. Tinha uma situação econômica muito má, especialmente devido ao envelhecimento da sociedade e à emigração de jovens para Tóquio”, detalhou Fujisawa.

“Se vamos reconstruir a região, devemos aproveitar esta oportunidade para fazê-lo de forma que não volte a ocorrer, e fazer todo o possível para criar um novo estilo de vida”, opinou. Fujisawa considera Tohoku como um teste para o resto da Ásia. “Sofremos porque todos os recursos, o capital e a educação estão concentrados nas grandes cidades, e o resto fica esquecido. Agora temos a oportunidade de reorganizar toda a região e distribuir recursos”, enfatizou. E acrescentou que além de um teste, também é um exemplo perfeito de que seu país muda rapidamente.

“Esta é a primeira vez que o diretor de uma ONG é convidado a trabalhar com o governo. E também a primeira vez que as ideias surgem dos jovens que estão no último elo da cadeia de decisões”, disse Fujisawa à IPS. “Há tantas mulheres dirigindo projetos quanto homens em Tohoku. A maioria na faixa dos 20 a 30 anos, que renunciaram aos seus empregos para virem para cá”, insistiu Fujisawa. “Há uma razão fundamental para isso: estamos todos ligados pelas redes sociais, a informação é compartilhada e não mais retida. Os jovens podem começar a agir por conta própria. Isto nunca havia acontecido no Japão”, ressaltou. Envolverde/IPS