Como explicar a vitória de Hugo Chávez na Venezuela

Chávez festeja sua reeleição em um dos bairros pobres de Caracas. Foto: Reprodução

Apesar da economia venezuelana ser marcada pela escassez de infraestrutura, recursos e bens de consumo, o governo Chávez alçou o padrão de vida dos mais pobres, conquistando, assim, a simpatia da maioria.

Para a maioria das pessoas que já ouviu ou leu algo sobre Hugo Chávez na mídia internacional, a sua reeleição para presidente da Venezuela no domingo, 7, por uma margem significativa sobre seu rival Henrique Caprilles, pode parecer intrigante.

Quase todas as notícias que aparecem na mídia sobre ele são ruins.  Ele compra brigas com os Estados Unidos e fica ao lado de “inimigos” como o Irã; ele é um “ditador”, um “autocrata”, que tem desperdiçado a riqueza da nação proveniente do petróleo; a economia venezuelana é marcada pela escassez de infraestrutura, produtos de consumo e recursos e está geralmente à beira do colapso.

Isso é verdade, mas há também o outro lado da história, considerado, aparentemente, mais importante pela maioria dos venezuelanos do que os aspectos negativos do governo Chávez: desde que Chávez tomou o controle da indústria nacional de petróleo, a pobreza foi reduzida pela metade, e a pobreza extrema em 70%. Matrículas em faculdades mais que duplicaram, milhões de pessoas têm acesso a cuidados de saúde pela primeira vez na vida e o número de venezuelanos elegíveis para receber pensões públicas quadruplicou.

Portanto, não deve ser surpreendente que a maioria dos venezuelanos reelege um presidente que tem melhorado seus padrões de vida. Goste ou não, isso é o que aconteceu com todos os governos de esquerda que agora governam a maioria dos países da América do Sul.

Essa lista inclui Rafael Correa, que foi reeleito presidente do Equador por ampla margem em 2009, o enormemente popular Luiz Inácio Lula da Silva, reeleito em 2006, sua sucessora, a atual presidente Dilma Rousseff , eleita em 2010; Evo Morales, o primeiro presidente indígena da Bolívia, reeleito em 2009, José Mujica, que sucedeu um presidente da mesma aliança política no Uruguai – A Frente Ampla – em 2009; e Cristina Fernández de Kirchner, que sucedeu seu marido, o falecido Néstor Kirchner, vencendo a eleição presidencial de 2011 por uma margem sólida.

Esses presidentes e seus partidos políticos foram reeleitos porque, como Chávez, trouxeram significativas – e, em alguns casos enormes – melhorias nos padrões de vida, especialmente para os mais pobres. Embora alguns meios de comunicação falam do iminente colapso econômico da Venezuela há mais de uma década, isso não aconteceu e não é provável que aconteça por causa do petróleo venezuelano.

A economia da Venezuela tem problemas de longo prazo, como a inflação relativamente alta e infraestrutura inadequada. Mas a melhora substancial na renda das pessoas (a renda média subiu muito mais rápido do que a inflação sob Chávez), além de ganhos em saúde e educação, parecem ter superado as falhas do governo em outras áreas, incluindo na aplicação da lei, pelo menos nas mentes da maioria dos eleitores.

A Venezuela tem cerca de 500 bilhões de barris de petróleo e atualmente está consumindo seu recurso mais precioso a uma taxa de um bilhão de barris por ano. Com este estoque prontamente disponível Chávez ou um sucessor de seu partido provavelmente irá governar o país por muitos anos ainda. Quando a fonte secar, aí é outra história.

* As opiniões citadas neste artigo são de Mark Weisbrot, codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, uma usina de ideias em Washington.

** Publicado originalmente no jornal The New York Times e retirado do site Opinião e Notícia.