Arquivo

Sustentabilidade por amor

Severn Cullis-Suzuki, a canadense conhecida como "a menina que silenciou o mundo por cinco minutos". Foto: Divulgação AES Brasil.

Vinte anos depois, Severn Suzuki não espera mais calar o mundo. Suas ambições hoje são de uma sociedade que se mobilize e grite sua vontade de um mundo melhor.

Rio de Janeiro, 20 de junho (TerraViva) “Quando os chefes de governo deixam de exercer sua liderança, eles deixam de ser importantes.” Esta foi a maneira como a canadense Severn Suzuki expressou seu sentimento em relação à Rio+20, a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que acontece no Rio de Janeiro até o dia 22.

Vinte anos depois, a menina que ficou conhecida por reivindicar com propriedade, na Eco 92, que os governantes de todo o mundo tomassem atitudes urgentes para que seus filhos tivessem garantido o direito de viver em um mundo como o que ela conhecia, com qualidade de vida e a biodiversidade preservada, reafirmou sua convicção de que a mudança para a sustentabilidade é uma questão de amor entre as gerações, que vai acontecer independentemente da vontade política.

Severn participou, no dia 19, do Encontro Internacional da Carta da Terra na Rio+20. O evento debateu a importância do documento, que é um compromisso da sociedade civil pelo desenvolvimento sustentável. Aos 32 anos, a canadense, que no encontro anterior era uma menina de apenas 12 anos, cresceu, tornou-se uma ecóloga e é mãe de dois filhos. Ela falou sobre a sensação de integrar uma nova sociedade que a maternidade proporciona.

“Quando estava grávida, percebi que as pessoas me tratavam de forma diferente, mais gentil. Me dei conta de que eu estava em uma nova comunidade, na comunidade dos pais. Se você é um pai ou mãe, você precisa cuidar de algo além de si mesmo. Temos algo que nos conecta com um propósito maior”, testemunhou. Esta relação afetiva é, segundo ela, a porta de entrada para ações mais sustentáveis. “Temos que nos reconectar com o que nós fazemos e como isso vai impactar os outros, que são os nossos filhos”, indicou.

A falta de ambição dos compromissos estabelecidos no documento preliminar, que será debatido pelos chefes de Estado nos próximos dias, foi apontada por ela como um ponto decepcionante. “Fico desapontada de saber que a declaração que vai sair da Conferência não vai ter metas ambiciosas como houve na Eco 92. Esse documento nunca teve tanta relevância quanto agora”, observou.

A dificuldade no consenso é, para ela, a demonstração do fracasso em se entender profundamente o que está sendo debatido. “Todo mundo fala de economia verde, mas isso está se tornando uma questão de divisão. Como determinar a estrutura que vai nos levar adiante, se não conseguimos concordar com os valores e princípios que serão a base dessa estrutura? Se nós não concordarmos em princípios básicos, essa economia verde não vai valer nada”, ressaltou.

Lembrando movimentos como a primavera árabe e o Ocupe Wall Street, Servern destacou que com os adventos da internet e das mídias sociais, o poder revolucionário da sociedade cresceu. “O espírito das pessoas está começando a sobressair no mundo. É um momento na história em que a revolução está no ar. Temos o potencial para viver tempos revolucionários e devemos aproveitar essa oportunidade”, enfatizou

Apesar da sensação de fracasso em relação aos eventos oficiais, ela se disse feliz com o grande número de pessoas presentes na Cúpula dos Povos e com o fato de o evento como um todo ter reunido quase 50 mil pessoas de todo o mundo. “Já faz 20 anos e nós ainda estamos aqui, trabalhando juntos pela sustentabilidade”, comentou. Demonstrando esperança, finalizou: “vou sair daqui sabendo que a energia e o espírito que cresceu nas últimos duas décadas não vai mudar”. (TerraViva)