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Acesso a fertilizantes não é para todos

Os pequenos agricultores prosperam quanto têm acesso ao conhecimento, ao uso de insumos, como fertilizantes, e crédito. Foto: Busani Bafana/IPS
Os pequenos agricultores prosperam quanto têm acesso ao conhecimento, ao uso de insumos, como fertilizantes, e crédito. Foto: Busani Bafana/IPS

Por Busani Bafana, da IPS – 

Louis Trichardt, África do Sul, 1/8/2016 – A loja de Nancy Khorommbi está repleta de latas de cores brilhantes, sacos de fertilizantes e pacotes com todo tipo de sementes, mas vende pouco desde que a seca atingiu com força, este ano, a localidade de Sibasa, em Limpopo, uma das províncias da África do Sul. Seus clientes, os pequenos produtores da região, não têm acesso financeiro aos fertilizantes, nem sabem usá-los eficazmente para aumentar sua baixa produtividade.

“Alguns dos agricultores que entram na loja nunca ouviram falar de fertilizantes e os que já ouviram não sabem como usá-los corretamente”, explicou Khorommbi à IPS durante um painel de capacitação organizado pelo Programa Africano de Voluntários em Fertilizantes, com apoio da Associação Internacional da Indústria do Fertilizante. Também ressaltou que informação é poder e que as lojas agrícolas são um elo fundamental na cadeia de produção de alimentos.

Os comerciantes que trabalham com os povoados compreendem melhor e têm melhor acesso aos pequenos agricultores, que em muitos casos dependem dos escassos serviços de extensão estatais para obter informação sobre como melhorar a produtividade.“Os pequenos agricultores podem fazer uma mudança para a segurança alimentar melhorando a produção, e para isso o fertilizante é um dos elementos fundamentais”, opinou Khorommbi, uma das mais de cem comerciantes agrícolas no distrito de Vhembe, em Limpopo.

Devido à falta de conhecimento sobre o tema, a Associação Africana de Fertilizantes e Agronegócios (Afap), com apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e sócios do setor privado, lançou o programa Apoio ao Agronegócio da Província de Limpopo (ASLP)em 2015, que já formou mais de cem comerciantes agrícolas na província.

O projeto promove o desenvolvimento do modelo de centro de distribuição, pelo qual comerciantes estabelecidos atendem as lojas menores e agentes agrícolas nas áreas rurais, que por sua vez respondem às necessidades dos pequenos produtores, fornecendo insumos agrícolas ao seu alcance a um custo razoável.

O ASLP pretende atrair o setor privado da África do Sul – país importador de fertilizantes – para desenvolver as pequenas e médias empresas (Pemes) na cadeia de valor do fertilizante, se concentrando nos pequenos agricultores e comerciantes agrícolas.Os pequenos produtores são essenciais para a alimentação na África, incluída a África do Sul, mas sua produtividade encontra obstáculo na falta de acesso aos insumos e aos mercados, um problema que a FAO considera que se pode resolver com a associação aos setores privado e público.

A Afap e a empresa privada Kynoch Fertilizer criaram um programa de desenvolvimento empresarial dirigido aos pequenos produtores e comerciantes agrícolas na província de Limpopo, a fim de ajudar a “fechar a brecha de rendimento” entre os agricultores. Estes, mais os distribuidores agrícolas, receberam capacitação sobre fertilizantes solos, nutrientes, vegetais, armazenamento seguro dos fertilizantes, segurança ambiental e gestão empresarial.

“Mediante o uso correto dos fertilizantes, os pequenos agricultores sul-africanos podem cultivar mais alimentos nutritivos, conseguir a segurança alimentar das famílias, criar postos de trabalho, aumentar a renda e impulsionar o desenvolvimento rural”, destacou o vice-presidente da Afap, Richard Mkandawire.“Apoiar as Pemes na África é o caminho se queremos reduzir a fome e a pobreza. O futuro da África do Sul tem a ver com desenvolver essas empresas rurais, que apoiarão os pequenos agricultores e a criação de empregos”, afirmou à IPS.

Em 2006, os chefes de Estado e de governo africanos realizaram uma cúpula sobre fertilizantes na Nigéria e assinaram a Declaração de Abuja, na qual se comprometeram a aumentar o uso de fertilizantes no continente, da média na época, de oito quilos por hectare, para 50 quilos por hectare até 2015, para impulsionar a produtividade. Mas apenas uns poucos países alcançaram esse objetivo.

Mkandawire pontuou que, segundo concluíram diversas pesquisas, para cada quilo de nutrientes que os pequenos agricultores aplicam em suas terras, podem chegar a obter até 30 quilos de produtos adicionais.Os pequenos agricultores da África do Sul, em geral, não aplicam níveis ótimos de fertilizantes devido aos altos custos, à falta de acesso e à escassa informação sobre os benefícios que implica nutrir o solo.

O diretor da área de fertilizantes do Departamento de Agricultura, Pesca e Florestas de Limpopo, Jonathan Mudzunga, assegura que os pequenos produtorestêm dificuldades estruturais para conseguir fertilizantes, que são uma contribuição fundamental para aumentar o rendimento dos cultivos e proporcionar oportunidades de geração de empresas e de emprego.

“Os agricultores comerciais têm êxito porque possuem acesso a insumos como fertilizantes e conhecimento. Isso não significa que os pequenos produtores têm problemas por não saberem como cultivar, mas o maior problema é o conhecimento e o acesso a insumos acessíveis”, enfatizou Mudzunga.

Schalk Grobbelaar, da Kynoch, afirmou que a produção dos pequenos agricultores em Limpopo é prejudicada, entre outras coisas, por baixo emprego de insumos que melhoram a produtividade – como fertilizantes, sementes e produtos de proteção dos cultivos –, ração animal e medicamentos veterinários para o gado.“Os fertilizantes aumentam os rendimentos, mas os agricultores carecem dos conhecimentos necessários”, afirmou. Envolverde/IPS