Por Rafaela Artero*
A indústria da moda é a segunda maior poluidora do mundo. Além disso, essa indústria está envolvida com vários problemas sociais, como trabalho análogo e escravidão. Por isso, a união da moda com a sustentabilidade se faz necessária e com urgência. Duas brasileiras, Eloisa Artuso, professora do IED (Istituto Europeo di Design), e Fernanda Simon, coordenadora do Fashion Revolution Brasil, criaram a UN Moda Sustentável, uma empresa que presta consultoria, palestras e cursos para ajudar marcas a criarem uma consciência verde. Nós conversamos com elas para saber mais sobre o projeto, confira!
De onde surgiu a ideia da UN Moda Sustentável?
Eloisa: A gente se conheceu trabalhando no Fashion Revolution e eu acho que a vontade de criar a UN foi porque nós sentimos uma demanda crescente sobre moda sustentável de todos os lados, do lado de estudantes, de designer e de marcas. Sentimos que as pessoas queriam entender melhor o que é, como trabalhar nesse sentido, onde encontrar matéria prima, como lidar com mão de obra, como trabalhar de maneira ética, como fazer o bem através do próprio trabalho. Acho que a vontade de querer criar algo foi porque a gente sentiu a necessidade de falar sobre isso.
Fernanda: É, e a gente já tinha um background. Eu já tinha trabalhado em uma agência de consultoria com sustentabilidade antes, e já era algo que eu pretendia fazer em algum momento. A Elo já trabalhou como estilista durante muitos anos e já trabalhou com moda e sustentabilidade. Como tínhamos esse background, moda sustentável era algo com o que queríamos trabalhar.
Como funciona a empresa?
Eloisa: A gente dividiu a empresa em algumas atividades, nós damos consultoria para marcas, atuamos com cursos que nós criamos, damos palestras e treinamentos para equipes dentro das empresas. O braço mais novo que estamos trabalhando agora é o de design para sustentabilidade.
Desde quando vocês têm intimidade com o tema sustentabilidade na moda?
Eloisa: Eu trabalhei como estilista por mais de 10 anos. De uns cinco anos pra cá senti que tinha algo faltando no meu trabalho e que tinha alguma coisa errada com essa produção enlouquecida de uma roupa atrás da outra. Então eu parei, fui fazer um mestrado, precisei desse tempo pra repensar minha profissão. Foi quando entrei no mundo da ética e da sustentabilidade na moda, no mundo do slow fashion. Desde então eu passei a pesquisar sobre as novas formas de design para sustentabilidade, repensar modelos de negócios e questionar os padrões nos quais a gente trabalha e vive atualmente.
Fernanda: Quando eu estava na faculdade já não me sentia completa, sentia falta de algo a mais, não via tanto sentido em tudo aquilo e não tinha vontade de entrar no mercado de trabalho tradicional. Fui para Londres e morei lá por sete anos, foi lá que encontrei o mercado dessa moda ética e ecológica. Me deparei com a matéria prima orgânica, com o slow fashion. Comecei a estudar e pesquisar. Conheci uma pessoa que tinha uma agência de consultoria e trabalhei com ela por alguns anos até voltar ao Brasil.
No exterior eles têm mais intimidade com esse tema?
Fernanda: Com certeza. Já é um assunto presente a mais tempo, então eles estão mais íntimos com o tema.
Eloisa: Lá existem mais iniciativas, mais marcas e a academia escreve mais sobre o assunto.
Como vocês veem o papel da moda hoje?
Eloisa: Eu acho que tem de tudo. A moda tradicional acho que está somente visando o lucro, não é nem a estética, é sempre o que vende mais. O dinheiro sempre vem na frente, depois a estética, a qualidade, a vestibilidade e qualquer outro quesito. Ao mesmo tempo vem crescendo o movimento do slow, do ético, do sustentável e desse resgate ao manual e à culturas que estão se perdendo.
Fernanda: Mas tem a moda ativista, que é o que a gente faz, inclusive com o Fashion Revolution. Grandes designers como a Vivienne Westwood usam a moda para falar e se manifestar perante questões ambientais, sociais e políticas.
O que é o slow fashion?
Fernanda: É um conceito que foi desenvolvido pela Kate Fletcher na Inglaterra em 2007, baseado no movimento do slow food que nasceu na Itália. Perante todo esse fast food, toda essa globalização e esse capitalismo do “fast” criado pelos Estados Unidos, a Itália, que tem outros hábitos, não quis e levantou esse movimento do slow food. Baseado nisso vem o slow fashion, que vai contra o fast fashion, que é a produção em massa, roupas sem qualidade e de temporada, roupas que daqui a seis meses ninguém mais vai querer usar porque saiu de moda ou porque já furou por não ter qualidade. O slow fashion vem para valorizar peças manuais, locais e de qualidade.
Qual é o primeiro passo para mudar a cabeça dos consumidores quanto ao consumo consciente de roupas?
Fernanda: A gente vem trabalhando nessa frente de levar conhecimento ao consumidor, levar informações, fazer ações e mostrar. Eu acredito que o primeiro passo é a pessoa estar aberta para se transformar, para querer se conscientizar.
Eloisa: Eu acho que a pessoa se sensibiliza quando ela tem a informação correta, quando ela tem clareza na informação tanto das marcas, quanto dos meios de comunicação. Eu acho que a informação é o primeiro passo. (#Envolverde)