Entrevista a Katherine Rivas, da Envolverde, especial para o CDP –
De ideias dinâmicas e temperamento enérgico Lucia é funcionária da Secretaria do Meio Ambiente (SEDEMA) da Cidade do México desde o ano 2000. No entanto, afirma que a gestão estratégica surgiu com força em 2013 onde atua na Coordenação de Planejamento e Políticas Públicas. Algumas conquistas foram estabelecer fundos climáticos e verdes com apoio do governo e da iniciativa privada que transformaram a cidade. Hoje com apoio da Secretária da Fazenda seus projetos sustentáveis contam com certificação internacional e estão rendendo frutos e atraindo o olhar de novos investidores.
No evento Conexão 2017, Lucia recebeu o prêmio da Cidade mais Sustentável pelas conquistas dos últimos anos. Confira a entrevista exclusiva para Envolverde:
A Cidade de México conseguiu ter sucesso na instalação de um sistema de transporte público sustentável. São Paulo fez algumas tentativas, mas não conseguiu. O que é preciso considerar para implementar um sistema de transporte eficiente e limpo?
Lucia Alonso – Acredito que a primeira coisa é a vontade política de fazer certo. Existem já muitas experiências BRT no mundo uma delas em Bogotá que inspirou nosso modelo. Logo precisamos de um plano de expansão, fazer estudos de origem e destino, não podemos fazer uma ou duas linhas é necessário pensar em um sistema articulado que atenda as necessidades de todos os cidadãos.
Em México, nós precisamos de um corpo técnico capacitado para este sistema, a primeira cidade em aderir foi Leon Guanajuato e a segunda foi a Cidade de México que hoje conta com 7 linhas BRT e vai se expandir até 11.
Quais foram as principais dificuldades na hora de estabelecer uma política ambiental para a cidade?
Lucia Alonso – Foram muitos os desafios, um deles financiamento outro foi o mudar a ideologia das pessoas para que entendam que devem trabalhar pela cidade. As políticas precisam ser transversais e complementares, é preciso esforço do governo para ter um mesmo objetivo.
Na América Latina acredito que o desafio é a credibilidade dos governos que tem pouca ou quase nada. É importante que os projetos tenham uma função cidadã e impactem na qualidade de vida das pessoas. Quando criamos o sistema de bicicleta como transporte público as pessoas falavam “Estão loucos, ninguém em México vai subir a uma bicicleta como transporte”. Por um lado, tinha um grupo de ciclistas exigindo isso e por outro forças sociais que rejeitavam a mudança. Recebemos assessoria de instituições sobre mobilidade e percebemos que os mexicanos associavam bicicleta a pobreza enquanto as cidades mais modernas do mundo utilizavam a bicicleta como meio de transporte.
Foi o gancho para nossa mudança, comparamos México com Paris, Amsterdã, Nova Iorque e as pessoas começaram a usar a bicicleta, todo mundo queria viver bem. Nosso ponto de partida foi o centro da cidade, colocamos uma dose de cidadania nas bikes e deu certo, hoje quem não queria implora pela bike, é preciso ter ideias criativas para a política pública. Atualmente trabalhamos com o programa EcoBici onde a pessoa usa um cartão para cadastrar e usar as bicicletas com a primeira meia hora de graça.São 5 municípios que trabalham com bicicleta pública.
Como atrair o olhar dos investidores?
Lucia Alonso – Acredito que as empresas sempre procuram benefício econômico em tudo, a chave é fazer que os projetos verdes ofereçam estes benefícios também por meio de alianças com o governo. Percebo que existe mais consciência ambiental das empresas, programas e responsabilidade ambiental e social, mas precisamos de associações que sejam uma ponte como o CDP. É preciso quebrar muitas barreiras dos governos e marcos regulatórios que impedem estas alianças. A lei precisa ser mais flexível.
Na sua opinião, o que falta aos países latino-americanos para alcançar o sucesso na sustentabilidade?
Lucia Alonso – Acredito que é necessário projetos de longo prazo que não mudem com a chegada de um novo partido ou prefeito. Um treinamento técnico de qualidade dos funcionários. É importante ter uma equipe capacitada em saúde, meio ambiente, mobilidade urbana. Percebo que na América Latina oferecemos cargos públicos aos nossos amigos no lugar das pessoas com capacidade. Hoje existem Agencias Internacionais que podem contribuir com o treinamento, recomendo conhecer outras realidades como Londres, Berlim, Nova Iorque e ver como aplica-las a nossas cidades.
Por último, considero importante para o sucesso da sustentabilidade trabalhar as temáticas de corrupção porque precisamos de funcionários públicos transparentes.
(CDP/Envolverde)