Apesar de diminuição na pressão sobre os países atingidos, futuro da zona do euro ainda é uma incógnita.
A pressão sobre Grécia, Irlanda e Portugal – os três países que receberam resgates financeiros da União Europeia e do FMI até agora – pode ter diminuído. Mas a pressão sobre a Espanha e a Itália está piorando numa velocidade acelerada. Os juros extras que os dois países pagam em empréstimos de dez anos atingiram recordes nessa semana (desde a inauguração do euro). Ações nos bancos italianos, recheadas de títulos governamentais domésticos, estão sendo atingidas diariamente.
Os mercados estão nervosos em parte graças às políticas nacionais. José Luiz Rodríguez Zapatero, o primeiro-ministro espanhol, anunciou uma antecipação das eleições para novembro, o que pode significar meses de distração da tarefa de reduzir o déficit. Os políticos italianos se uniram no mês passado para aprovar um orçamento de austeridade, mas muitas das medidas são retrógradas e os líderes do país – não apenas Silvio Berlusconi, mas também seu ministro financeiro, Giulio Tremonti – estão cercados por escândalos.
Ambos os países podem alegar que suas dívidas são suportáveis. O nível de dívida pública na Espanha é mais baixo que a média da zona do euro, e o da Itália é enorme, beirando os 120% do PIB, mas ela conta com um superávit primário. Ainda assim, o baixo crescimento e as incertezas políticas em ambos os países criam dúvidas suficientes para espantar os investidores, e há poucas garantias do resto da zona do euro para acalmá-los.
Em todos os estágios da crise, os líderes europeus reagiram tardiamente e de maneira inadequada. O encontro de 21 de julho manteve esse padrão. Em particular, não foi capaz de aumentar a capacidade de empréstimos do mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF), o fundo de resgates do euro. Os números do EFSF devem aumentar dos atuais € 250 bilhões para € 440 bilhões no outono. Partindo do princípio de que o FMI continuará dando sua parte, isso deve ser suficiente para levar a Espanha pelos próximos três anos sem ter que recorrer aos mercados. No entanto, está longe de cobrir também os problemas da Itália. A rede de segurança que apoia a terceira e a quarta economias da Europa é fraca e os investidores sabem disso.
Cabeças enterradas na areia
O que fazer agora então? Primeiro, é voltar das férias na praia. Zapatero adiou suas férias, mas muitos outros líderes estão no litoral se bronzeando. Segunda, dar alguma segurança aos títulos italianos e espanhóis. O encontro de julho concordou em expandir o ESFS para que ele possa comprar parte dessas dívidas governamentais em mercados secundários. Mas a máquina institucional europeia é lenta. As conclusões do encontro devem ser assinadas e ratificadas por todos os 17 governos da zona do euro antes que o EFSF entre em ação, e isso ainda pode levar semanas. Nesse meio-tempo, o Banco Central Europeu deve reativar seu programa de compra de títulos.
A terceira coisa a fazer é cercar propriamente a Itália e a Espanha. Expandir o tamanho do ESFS para pelo menos € 1 trilhão é uma opção. Mas o ESFS é protegido por garantias dos membros da zona do euro, logo, o fardo sobre seus fundadores, França e Alemanha, teria um crescimento enorme, e a França poderia se juntar ao grupo de risco. A alternativa a uma EFSF maior seria a emissão de títulos aprovados e estimulados pelos membros da zona do euro. Esse seria um grande passo na direção da união fiscal, um passo que talvez a Europa não esteja pronta para dar. Mas cada vez mais, a união fiscal europeia parece ser o menor dos males.
Tradução: Opinião e Notícia.
* Publicado originalmente pelo The Economist e retirado do site Opinião e Notícia.