ODS 11

Como o despreparo faz de uma tempestade um furacão

Na semana passada, tivemos dois eventos climáticos extremos que, apesar da enorme diferença nas suas dimensões, ocuparam o noticiário brasileiro. O primeiro deles foi o furacão Milton, que se formou no Golfo do México no início de outubro e atingiu a costa dos Estados Unidos entre os dias 11 e 12 de outubro. O segundo foi uma tempestade acima da média, que ocorreu em São Paulo na sexta-feira última (9).

Como o despreparo faz de uma tempestade um furacão

por Edson Capoano, professor de jornalismo da ESPM-SP, com colaboração de Laura Prates e Marina Melo

Nos EUA, a resposta das autoridades à passagem do Milton foi rápida, com evacuações obrigatórias em várias áreas e esforços de resgate contínuos. Antes mesmo da chegada do furacão, a prevenção das autoridades ao informar a população, gerar alertas e criar procedimentos de evacuação mitigou um desastre maior.

Já no Brasil, a tempestade foi prevista pelos sistemas de monitoramento e anunciada pelo Centro de Gerenciamento de Crises (CGE), mas sem tempo hábil para a população se preparar. Não houve ações de mitigação por parte da prefeitura de São Paulo, muito menos de adaptação da empresa distribuidora de energia ENEL, que promove o terceiro apagão na cidade em um ano.

Nesse contexto, as estudantes de jornalismo Laura Prates e Marina Melo produziram depoimentos de moradores de ambas regiões afetadas, em Tampa (Flórida) e em Cotia (Zona Oeste da cidade de São Paulo). As declarações parecem invertidas, como se quem tivesse passado por um furacão fosse o jovem paulista.

Enzo Gabriel Souza Meira, de 13 anos, contou que sua casa foi atingida por destroços de árvores, por conta do vento forte. Até o envio do depoimento, ele havia ficado 96 horas sem energia em sua residência. O jovem disse ter tentado entrar em contato com a ENEL, mas recebeu de volta apenas “vários protocolos de atendimento e previsões sobre a volta da energia”.

“Foi um inferno na terra. (Com a falta de energia elétrica), toda a comida da geladeira estragou… Apesar de o chuveiro ser a gás, o aquecedor elétrico não tinha energia e tive que tomar banho gelado, e neste fim de semana fez frio… Também caiu o sinal de internet, porque tombaram três torres de transmissão da região. Ficamos à luz de velas o fim de semana todo, foi bem chato”, lamentou Enzo.

Já a brasileira Denise de Oliveira, que vive em Tampa, na Flórida, relatou que a região em que vive estava preparada para a passagem do Milton, como pelo fechamento de escolas, gratuidade de transporte público e pontos de doação de comida e água:

“A cidade é muito bem preparada para desastres dessa proporção. Há funcionários das empresas de energia elétrica de todo país trabalhando na região para normalizar o fornecimento de energia. Antes do furacão passar, já haviam se deslocado para a Flórida, aguardando a passagem do furacão para saberem quais áreas iam priorizar os reparos”, detalhou Denise.

Apesar da óbvia diferença entre um furacão e uma tempestade, o que se percebe é que a falta de preparo pode redimensionar os efeitos de um fenômeno climático sobre nossas sociedades. Com ventos de até 205 km/h, o Milton vitimou 17 pessoas. Já a tempestade de sexta-feira em São Paulo alcançou 100 km/h, mas gerou sete vítimas fatais no estado.

Edson Capoano escreve às quintas-feiras na Envolverde.

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