Os pais algumas vezes esquecem que falar com crianças não é o mesmo que conversar com adultos. O objetivo é fazê-los ter cada vez mais habilidades e regular suas próprias responsabilidades, sem a necessidade de vigilância constante. Entre essas habilidades está o hábito de comer adequadamente e manter a saúde em meio a diversas opções de alimentos.
“A chave para uma vida saudável passa pela escolha correta da alimentação. E os pais devem evitar fazer algumas observações para os filhos quando o assunto é comida”, diz Michelle May, pediatra e pesquisadora do grupo de estudos sobre o tema.
Para May, os pais devem evitar fazer afirmações que deem a falsa impressão para a criança de que comer muito é sinônimo de uma boa atitude. “Dizer que os filhos ‘são bons de garfo’, por exemplo, pode ser danoso para a criança. Elas fazem de tudo para agradar os pais e indicar que comer muito é algo que eles notam pode influenciar os hábitos dessas crianças”, diz.
O melhor, nesses casos, é afirmar que – independentemente da quantidade de comida ingerida – a refeição foi prazerosa porque os filhos estavam presentes. Comer em horários regulares e com a presença dos pais é mais saudável do que comer muito. O inverso também deve ser evitado. “Tanto crianças quanto adultos não gostam de tudo o que lhes é oferecido. É uma questão de sensibilidade. Claro que é importante ingerir frutas e vegetais, mas criticar muito enfaticamente as crianças por não fazê-lo é uma forma de acionar memórias negativas nelas. Então evite”, sugere May.
“Limpar o prato” também é outro tipo de afirmação a ser evitada. Isto é outra forma de ensinar as crianças a comer em excesso. “O melhor é ensinar a não descartar comida desnecessariamente. Ensiná-las a identificar o tamanho de sua fome é a melhor coisa que os pais podem fazer nesse caso. E caso haja excesso de comida no prato, e que não foi consumida, guardar o prato na geladeira e indicar que assim que ela estiver com fome a comida pode ser requentada e a refeição continuar é uma forma inteligente de mostrar o valor dos alimentos.”
Associar sobremesas e doces ao cumprimento de uma obrigação – como comer toda a salada oferecida, por exemplo – também pode levar a hábitos ruins no futuro. As crianças podem achar que toda vez que comerem algo que não gostam elas precisarão ser recompensadas. E isto pode acabar virando um círculo vicioso. No futuro, quando tiverem certa autonomia, elas podem simplesmente pular a obrigação e ir direto para a recompensa, ou seja, exagerar nos doces. “Uma forma de fazer esta desassociação é não citar a sobremesa durante a refeição e servi-la apenas algum tempo após o final do almoço ou do jantar, por exemplo”, sugere May.
Outras frases que os pais podem dizer e que podem interferir em como essas crianças enxergam as refeições são aquelas ditas entre os adultos. Pais podem fazer parecer que comer é associado a um sentimento de culpa. “Dizer ‘comi demais, vou ter que gastar toda essa gordura na academia amanhã’ é um exemplo disso. A culpa em comer pode passar de geração em geração e no futuro a criança pode achar que comer é algo ruim e se ela não faz atividades físicas deve ficar sem comer como compensação. E isto não é nada saudável”, explica a especialista.
“Além disso, falar mal de pessoas acima do peso também cria nas crianças esse misto de culpa e punição. Isto pode ser a semente de comportamentos que podem levar a transtornos do apetite no futuro”, diz May. “Pais, mães e avós devem ensinar as crianças que o importante é fazer escolhas saudáveis na hora de se alimentar e fazer atividades físicas e que, independentemente da sua forma física, elas sempre serão amadas”, finaliza.
Com informações da Take Off Pounds Sensibly Organization
* Publicado originalmente no site O que eu tenho.