Mais do que uma exigência do mundo profissional, o aprendizado de um segundo idioma é importante para o funcionamento e aperfeiçoamento cerebral. Ao conhecer outra estrutura linguística, o cérebro é estimulado, em uma espécie de “ginástica natural”. “Aprender uma segunda língua é certamente interessante e útil ao cérebro. A essência básica do aprendizado linguístico é a estimulação e, eventualmente, a aquisição de propriedades para a modificação da arquitetura cerebral, tornando mais flexível a compreensão de um idioma estrangeiro”, avalia Rogério Naylor, neurologista do Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, vinculado ao Ministério da Saúde.
O especialista afirma que quanto mais cedo acontecer o aprendizado, maiores são as possibilidades de compreensão absoluta. “Certamente tudo relacionado a aprender, seja motor ou intelectual, torna-se mais fácil na idade mais tenra. A pessoa não está condicionada ou vinculada a padrões linguísticos absolutos, que possam conflitar ou contrastar de forma extrema com idiomas com sistemas de construções fraseológicas inversas, como ocorre, por exemplo, com o inglês”, diz.
Alguns idiomas específicos podem se tornar mais difíceis para serem estudados em idades mais avançadas. “Há fonemas que têm um tipo de emissão de som muito característico daquele idioma e que a partir de certa idade torna-se muito difícil de assimilar. Um caso é o mandarim, que tem sons e entonações muito características. Eles podem conferir a uma determinada palavra escrita, de forma igual ou similar, significado totalmente diferente”, alerta.
O médico informa que a partir do aprendizado de um segundo idioma é provável que seja mais fácil lidar com uma terceira ou quarta línguas. “Isto porque alterações na neuroplasticidade cerebral ocorrem ou podem ocorrer com a maior quantidade de conexões cerebrais, maior flexibilidade e percepção dos caminhos que o idioma estrangeiro pode cursar e o entendimento melhor e a prática superior do falar e compreender”, afirma.
Diversão gera aprendizado
Além do aprendizado de idiomas, uma série de atividades culturais e lúdicas facilita o desenvolvimento cerebral. “Praticamente todas as atividades culturais, de diversão e de leitura, como fazer palavras cruzadas, conversar, discutir, imaginar e pensar contribuem para os mecanismos de neuroplasticidade cerebral.”
Mas não é só o desenvolvimento cerebral prévio que é estimulado por essas atividades, que também auxiliam no tratamento de doenças adquiridas. “Esse ‘treinamento’ resulta em um potencial de reserva maior quando eventualmente nos deparamos com uma enfermidade da esfera cognitiva, do conhecimento ou da compreensão”, explica o médico. Segundo ele, o cérebro funciona como se fosse uma orquestra, com todos os componentes afinados em busca de uma música melhor. “Da mesma forma, os sistemas de treinamento cerebrais são múltiplos e não devem se atrelar a uma única área”, finaliza.
* Publicado originalmente no Blog da Saúde.