Das favelas de Cartagena saem todos os dias crianças que trabalham.
Essas crianças de Cartagena são vítimas da injustiça social de uma cidade governada pelos interesses classistas dos poderosos da privatização neoliberal, que já fez o Estado desaparecer.
Estão privatizados a água, a energia elétrica, o gás, a iluminação pública, a saúde, a telefonia, os portos marítimos, o aeroporto, as estradas e grande parte da educação, de tal maneira que os prédios do governo e da Prefeitura, hoje transformados em ninhos de burocratas de origem provinciana, onde se conversa coisas inúteis, logo serão hotéis para multimilionários.
As figuras do governador e do prefeito somente estão para receber comissões e adjudicar contratos de construção de mega-apartamentos, de acordo com o Plano de Ordenamento Territorial (POT), dando as melhores terras aos especuladores e jogando os pobres cada vez mais para a periferia, para invadir os pântanos.
O ponto central de exploração silenciosa da infância trabalhadora de Cartagena é o Mercado de Bazurto, sob o calor e o Sol escaldantes, para onde vão em busca de qualquer ofício para obter umas moedas: carregar sacos mais pesados que seus corpos; empurrar carretas cheias de bananas; carregar bolsas de compras até o táxi… A maioria são meninos amáveis.
Pode-se afirmar que o mercado de Cartagena, com sua pestilência e seu ruído intermináveis, retratam um sistema imposto sobre toda legislação que proíbe a exploração infantil.
As demais crianças trabalhadoras de Cartagena se espalham pelos semáforos e nos cruzamentos mais perigosos para vender água e pendurar-se nos estribos dos ônibus, maltrapilhos.
Outras crianças trabalhadoras de Cartagena cantam canções de letras destinadas a comover o coração dos passageiros, para em seguida, recolher uma colaboração que quase sempre é generosa; é uma mendicidade patética, maquiada, praticada por uma infância que não frequenta a escola.
Calcula-se que pouco mais de quatro mil crianças estão espalhadas pela cidade capital de Bolívar, que tem o mais elevado índice populacional vindo do campo, de camponeses que fogem dos paramilitares e dos latifundiários do dendê, que estão apoderando-se das melhores terras dos Montes de María.
Vemos crianças trabalhadoras nos carros de mula, de ajudantes de seus pais, fazendo mudanças, levando areia, lixo ou envolvidos na reciclagem.
A infância trabalhadora de Cartagena passa despercebida ante os olhos dos transeuntes; o meio os assimilou como parte de uma paisagem urbana submersa na desordem e no “nada me importa”, no rebusque generalizado imposto pelas leis do mercado neoliberal.
As emissoras a todo volume fazem seu ofício com locutores que vociferam bobagens e palavras que não levam a nada. Os governantes locais são eleitos, chegam, passam e se vão de uma Cartagena paradisíaca na qual nem eles mesmos acreditam.
A Colômbia figura em uma lista que nos envergonha, juntamente com a Romênia, Rússia, Brasil, Nigéria, Equador, Serra Leoa, Bulgária e Ucrânia, onde as crianças, em uma quantidade de 8,5 milhões, estão submetidos a trabalhos forçados, muito similares à escravidão.
Tradução: Adital.
* Libardo Muñoz é jornalista colombiano, correspondente do Partido Comunista Colombiano (PacoCol).
** Publicado originalmente no site Adital.