Na matriz energética mundial, o uso do Petróleo é predominante. No Brasil não é diferente, mas o país é o que tem a distribuição energética mais verde do mundo, segundo Marcos Silveira Bukeridge, professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da USP. O biólogo disse que o Petróleo também é bioenergia, mas o grande problema é que o planeta leva milhares de anos para produzi-lo e não é renovável.
No que diz respeito à energia sustentável, o Brasil é um páis de vanguarda, está indo para 5% de biodiesel em toda a produção nacional (Petrobrás) e é apontado, em uma pesquisa realizada por Bukeridge e repórteres da BBC, como o país que mais se preocupa com as mudanças climáticas globais, juntamente com a Inglaterra.
“A grande diferença entre nós e o resto do mundo, hoje se chama cana”, disse o professor da USP. Grande responsável pelo cenário bioenergético em que o Brasil se encontra, a planta veio da Ásia e já era utilizada por volta de 8000 a.C. Ao chegar às terras brasileiras, a motivação principal era o açúcar, mas em 1933 começou a ser usada na fabricação de álcool. Atualmente, a produção de cana se constitui em metade açúcar e metade etanol. “Hoje o Brasil possui a melhor tecnologia do mundo em fazer álcool a partir da sacarose. Ainda assim, somente um terço da energia que existe na cana é utilizada para isso”, disse Bukeridge. Mas, segundo ele, maneiras de se utilizar a energia encontrada nos outros dois terços da cana já estão sendo estudadas.
O Brasil também possui uma vantagem muito importante em relação aos outros países produtores de cana de açúcar. Somente 3% das terras brasileiras são usadas para sua produção. “Se soubermos lidar com a terra, com a água, plantar floresta, nós podemos aumentar ainda mais nossa produção bioenergética”, falou Bukeridge. Índia, Austrália e EUA (no Hawaí e, em menor proporção, na Flórida) já esgotaram suas possibilidades no cultivo de cana.
Mas o biólogo alerta: “A sustentabilidade é muito importante. Não adianta nada produzirmos Bioetanol e esfolarmos nossas florestas”. Para evitar a introdução de cana de açúcar em terras amazônicas, por exemplo, está sendo estudada a extração de energia de uma leguminosa chamada “Mata-pasto”, planta nativa do Pará que cresce nas barrancas dos rios, mais rápido que a cana de açúcar. “O que a gente tem que fazer com as nossas florestas é um manejo diferente”, concluiu o professor.
* Carla Festucci é estudante de jornalismo e participou do projeto “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter“, da Oboré.