Pesquisadores da região estão correndo contra o tempo para que o progresso da área não interfira em sua preservação histórica.
Esqueça aquelas roupas típicas de Indiana Jones, incluindo jaqueta preta de couro, chicote e o chapéu. No auditório da CCE da Universidade de São Paulo, no último sábado, um dos arqueólogos mais importantes do Brasil, Eduardo Góes Neves, se apresentou para uma plateia de repórteres do futuro da Oboré. O tema da conversa foi sobre o entendimento da Amazônia em seus próprios termos e o papel do profissional da arqueologia nesse Estado. E acredite, os arqueólogos modernos não tem nada a ver com os esteriótipos criados pelo seu colega famoso.
Neves atua na profissão há 20 anos e é um dos principais pesquisadores da região. Ele relatou a importância de realizar esse trabalho não só pelas causas históricas e científicas, mas também para demonstrar o quão sustentáveis eram as comunidades de antigamente e como viviam, antes da chegada dos portugueses e espanhóis por volta do século 16.
“O nosso trabalho consiste em mostrar que a Amazônia já foi ocupada, há mais de 1000 anos aproximadamente. Em Manaus, por exemplo, em algumas áreas que já foram estudadas, existem registros de populações que viviam ali. Encontramos peças de cerâmicas que comprovam isso.”
O trabalho de um arqueólogo nesse espaço é complexo e demorado, já que uma expedição chega a durar anos. Primeiramente, eles realizam uma pesquisa das possíveis áreas que existem sítios arqueológicos. Ele conta inclusive, que a população indígena executa uma contribuição importante, pois eles possuem um maior conhecimento na área e mostram ao arqueólogo uma região para ser pesquisada.
“Às vezes quando o índio mostra para a gente, a primeira vista parece que não existe nada. E quando começamos a escavar, logo encontramos terra preta e posteriormente peças que comprovam a existência de comunidades remotas”.
Assim que é descoberto algo novo, eles registram, documentam, ensacam e fazem fotografias, para depois estudar e tentar entender melhor sobre essas populações.
De acordo com o pesquisador, ainda existem na região inúmeros sítios que nem foram descobertos e que muitas vezes acabam sendo perdidos.
Mas como conciliar dessa maneira, interesses públicos e privados com a questão da preservação histórica do espaço, sendo que a Amazônia está sendo alvo de grandes obras estruturais como rodovias, barragens, hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, por exemplo?
“A gente precisa de um tempo para fazer os estudos da área, levantar esses dados históricos e retirar as peças, quando houver. Muitas vezes, essa ocupação desenfreada acaba destruindo os registros. Companhias sérias ainda contratam empresas arqueológicas, porque isso é exigido por lei. O problema são as instituições pequenas e médias. Temos que trabalhar contra o relógio”.
Eduardo relata que devido essas obras que estão ocorrendo, 95% das empresas de arqueologia são de cunho mercadológico, ou seja, que visam primeiramente o lucro. “A Petrobrás contrata uma instituição para fazer um levantamento da área. Aí, descobrem-se artefatos importantes. Só que a pesquisa acaba não gerando conhecimento, pois essa descoberta dificilmente vai para um museu, pois custa caro, tem que manter curadoria e muitas vezes esse não é o real interesse dos contratantes”.
*Juliana Conte é estudante de jornalismo e participou do projeto “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter“, da Oboré.