Por Samara Oliveira* –
O Relatório Planeta Vivo 2024 afirmou que a vida selvagem foi reduzida em 73% entre 1970 e 2020. Essa porcentagem, obviamente, demonstra uma preocupação compreensível com o futuro do ecossistema. Antes, mudar padrões de produção ou consumo poderia ser uma tendência, utilizada para promover organizações ou produtos específicos. Agora, se essas prioridades não forem implementadas, existe um risco real de que a proporção de espécies perdidas chegue a uma situação irreversível. Mas há algo positivo neste processo: enfatizar discussões e alternativas capazes de transformar esse cenário. E a economia circular é uma delas.
A economia circular pode mitigar os danos causados pelo modelo linear tradicional de “extrair, produzir, descartar”. Essa abordagem não apenas propõe a utilização consciente, mas também valoriza os resíduos como potenciais recursos, oferecendo um caminho mais sustentável para o futuro do planeta.
O conceito é formado por três princípios fundamentais: eliminar o desperdício e a poluição desde o início, manter produtos e materiais em uso e regenerar sistemas naturais – que contrastam com a mentalidade que prevaleceu por décadas, caracterizada pela produção em massa e pelo descarte desenfreado.
Atualmente, o consumo de recursos naturais é 1,7 vezes maior do que a capacidade de reposição do planeta, conforme aponta o Relatório Planeta Vivo 2020. A adoção de um modelo de economia circular pode aliviar a pressão sobre os ecossistemas e promover um desenvolvimento mais sustentável e equilibrado, garantindo que as futuras gerações herdem um planeta viável para se viver.
Ainda, um dos aspectos mais relevantes dessa estratégia é a capacidade de reduzir a produção de resíduos. Globalmente, cerca de 2 bilhões de toneladas de resíduos sólidos são geradas anualmente. Integrar práticas circulares em atividades econômicas pode diminuir drasticamente essa quantidade, promovendo a reutilização e a reciclagem de materiais.
Dentro desse contexto, basta adotar os três Rs: Reduzir, Reciclar e Reutilizar. Reduzir significa mitigar o consumo excessivo e evitar o desperdício. Reciclar é dar nova vida a materiais que, de outra forma, seriam descartados. Por fim, reutilizar envolve aproveitar os produtos na totalidade, prolongando o ciclo de vida e, consequentemente, excluindo a necessidade de produção de novos itens.
Enquanto a produção de novos produtos contribui para as emissões de gases de efeito estufa, que estão diretamente ligadas à destruição de habitats e à perda de biodiversidade, a implementação de uma economia circular diminui as emissões e promove uma regeneração dos sistemas naturais, criando um ciclo benéfico para o meio ambiente.
Indústrias brasileiras já estão entendendo a relevância desse ciclo. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 76,4% das indústrias no Brasil já implementam algum tipo de sistema circular. Essa tendência crescente é essencial para a revolução do setor produtivo, que pode se tornar um agente de mudança significativo no combate às crises ambientais.
Implantar essa mentalidade, considerando as centenas de anos em que outra metodologia, muito mais prejudicial, foi utilizada, é um processo complexo que envolve tanto desafios como oportunidades. Para alcançar o máximo potencial da economia circular, é necessário um compromisso coletivo com a inovação, a colaboração e a responsabilidade. As empresas podem agir como impulsionadoras da transição em escala global, e os indivíduos, por sua vez, como executores de uma pequena – mas importante – parcela da transformação.
*Por Samara Oliveira, mestre em ciências, oceanógrafa e gestora de marketing e relacionamentos da Marulho