A residência médica e os primeiros contatos com pacientes são fatores que podem estar diretamente ligados à incidência de sintomas depressivos em estudantes de Medicina. Os resultados são de um estudo realizado com 223 alunos do primeiro ao sexto ano, da Universidade Federal do Paraná. “O contato com o paciente é muito aguardado e idealizado com o paciente. Contudo, devido às dificuldades e limitações pela qual o aluno passa neste contato, acaba ocorrendo uma perda da idealização de ser médico”, descreve o médico Luciano Souza.
De acordo com o pesquisador, a perda da idealização é o principal fator que atrapalha a qualidade de vida e a sociabilidade do aluno. Segundo ele, a ‘desidealização’ é acompanhada pelo sentimento de luto, a manifestação psicológica relacionada às perdas em geral. Assim, “é importante frisar que o que mais foi detectado pelo estudo foi luto e não um quadro clínico de depressão. Porém, mesmo no estado de luto o aluno pode se fechar para relacionamentos”, exemplifica. A pesquisa mostra que as turmas dos terceiros anos foram as que apresentaram maior incidência dos sintomas depressivos, como perda de energia, humor deprimido, dificuldade de concentração, entre outros.
Luciano Souza é o autor da pesquisa Prevalência de sintomas depressivos, ansiosos e estresse em acadêmicos de medicina, apresentada em janeiro na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). O estudo baseou-se em dois questionários sociodemográficos: o Inventário Beck de Depressão (IBD) e o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE).
Ansiedade e estresse
O estudo também revela que após superar a grande concorrência dos vestibulares para as faculdades de Medicina, o aluno passa por uma mudança de metodologia de ensino, o que é altamente estressante. “Do cursinho para a faculdade, há uma mudança na forma de transmissão de conteúdo. O aluno percebe que ele não tem tempo de estudar ou ler tudo, ou seja, não consegue saber tudo e isso é fonte geradora de estresse, o que pode inclusive resultar no adoecimento do aluno”, diz. Além disso, ainda existe a apreensão– ansiedade – de não poder ajudar ou de não saber lidar com a perda de um paciente, ou de não ser capaz de estar junto de uma pessoa doente.
Para Souza, é necessário identificar qual é o momento do curso que o aluno passa por isso para evitar maiores sofrimentos. Segundo ele, “hoje em dia, o aluno que apresenta este quadro psicológico de luto não deve receber tratamento ou acompanhamento. Deve-se, sim, observar a evolução desse estado, e ver se o estudante supera o quadro dentro de um período satisfatório” afirma.
*Publicado originalmente na Agência USP.