Novas diretrizes para o diagnóstico do Alzheimer

As diretrizes para o diagnóstico do mal de Alzheimer foram revisadas depois de 27 anos sem mudanças. As principais modificações foram a diferenciação da doença em três estágios e a alteração dos diagnósticos para as fases iniciais e avançadas.

Os novos critérios visam também incentivar a elaboração de medicamentos para a fase inicial da doença. Atualmente, as terapias disponíveis no mercado estão voltadas para a fase de demência. Ou seja, a doença já se estabeleceu, e os medicamentos visam apenas diminuir a velocidade das perdas cognitivas.

As novas mudanças foram anunciadas nesta terça-feira, 19, pelo Instituto Nacional sobre Envelhecimento (National Institute on Aging) e a Associação de Alzheimer (Alzheimer’s Association). A revista “Alzheimer’s and Dementia” publicou quatro artigos sobre os avanços no conhecimento da doença.

Em uma dos artigos, é ressaltada a importância dos biomarcadores, exame em que o médico identifica alterações nos níveis de determinadas substâncias associadas à doença, como as proteínas beta-amiloide e tau. No Brasil, um exame deste tipo custa algo entre R$ 2 mil e R$ 3 mil.

Além de financeiramente inviável para a maior parte dos brasileiros, estes testes não são considerados úteis para orientar as condutas clínicas. Segundo Ivan Okamoto, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), o diagnóstico precoce pode causar pânico, em vez de solucionar o problema.

“No colesterol, você sabe exatamente quais os níveis aceitáveis da substância no sangue. No caso dos biomarcadores de Alzheimer, ainda não sabemos”, disse. “Você pode criar um monstro. Além da angústia para o paciente, surge um dilema ético clínico: vou fazer o que com esse novo dado?”

Na fase avançada da doença, a revisão alterou os critérios para o diagnóstico. “Houve um detalhamento maior das funções cognitivas afetadas. Isso ajuda a diferenciar o Alzheimer de outras demências pouco conhecidas há 20 anos, como a demência frontotemporal, que tem tratamento diferente”, diz o psiquiatra e geriatra da USP Cássio Bottino.

*Publicado originalmente no Opinião e Notícia.