ODS 17

O Brasil campeão mundial de inovações ESG

O Brasil campeão mundial de inovações ESG

Por Valter Pieracciani* –

É possível alavancar resultados em ESG focando seletivamente na inovação. Descobrimos isso há cerca de dez anos em um momento de crise e escassez de recursos para os projetos de inovação. Naquela ocasião, várias empresas solicitavam ajuda para selecionar no portfólio de inovações quais projetos deveriam seguir e quais seriam sacrificados. Não havia dinheiro para avançar com todos os planejados. Construímos, então, uma matriz de atributos, pontuamos os projetos com base em critérios objetivos e criamos uma escala que possibilitava compará-los em termos de prioridade.

A gestão da inovação envolve naturalmente seleção e morte, uma vez que, em geral, apenas uma pequena parte do conjunto de iniciativas que entram pela boca do funil superará os filtros e alcançará a saída na outra ponta.

Como não havia dinheiro, o que fizemos foi estreitar ainda mais o tubo do funil, criando subjacentes filtros em forma de atributos. Foram eles: o quanto o projeto era compatível com as capacidades naturais de realização da organização; quão difícil seria que os concorrentes imitassem a solução, e, o quanto de valor os clientes perceberiam. Funcionou direitinho! Olhando para trás, percebemos que as escolhas foram acertadas e que a metodologia aplicada foi perfeita.

Agora vem a pergunta: por que não fazer o mesmo colocando um novo e especial filtro para os portfólios de inovação das empresas hoje – os atributos ESG? Passaríamos a analisar o portfólio de projetos e qualificá-los em função do impacto que cada um teria no meio ambiente, no social e na qualidade da governança. Uma espécie de melhoramento genético das inovações. Graças a isso, passado algum tempo as organizações estariam efetivamente inovando para um mundo melhor.

Seria uma conexão direta entre inovação e ESG. Mais do que isso, estaríamos implantando uma metodologia robusta e eficaz para eliminar no nascedouro inovações que não produzissem os impactos que a sociedade espera hoje. Por outro lado, poderíamos valorizar e incentivar (governo, inclusive) os projetos que gerassem benefícios para além dos financeiros.

Foi assim que elaboramos o conceito de “inovação ambiental”, hoje, expandido para “inovação ESG”. Inovações que, mesmo com origem na busca de redução de custos ou na adoção de novas tecnologias, acabam impactando positivamente o ponteiro ESG.

O conceito de inovação ESG oferece uma oportunidade única ao agronegócio brasileiro: recondicionar o olhar sobre as inovações do setor e colocar o Brasil como capital mundial das inovações ESG. Isso mesmo! O agro brasileiro tem características únicas, como geografia, utilização da água, energia renovável – o bagaço de cana, por exemplo –, biotecnologias, técnicas de manejo e muito mais. Isso permite que nosso país saia na frente e ocupe essa posição de destaque. É perfeitamente possível.

Ao classificarmos as inovações, sejam elas tecnológicas ou soluções criativas simples utilizando recursos existentes, deveríamos considerar não só os ganhos de produtividade e qualidade, mas também, quantificar os impactos de cada projeto em termos de benefícios para a atmosfera, a floresta em pé, o solo ou os rios e mares. Por exemplo: os esforços para a busca de ganhos de produtividade por hectare poderiam ser requalificados como projetos com foco na redução das necessidades de áreas e, consequentemente, inversão nas tendências de desmatamento.

A busca de resultados econômicos criou lentes que distorceram e limitaram a avaliação dos projetos no agro. Inovações como a aplicação de biotecnologias no campo para a fixação do nitrogênio às plantas ou mesmo soluções de fertilização por meio de revestimentos poliméricos de sementes com a quantidade certa de fertilizantes são apresentadas atualmente como formas de reduzir importações e custos. Essas mesmas soluções deveriam ser analisadas com o olhar da inovação ESG: evitam que toneladas de produtos químicos não aproveitados sejam lixiviados pelas chuvas e contaminem rios e mares. Pena que muitos não se deem conta de que estão gerando inovações amigas do meio ambiente e não só da qualidade e produtividade.

Ao invés de ficarmos na defensiva tentando explicar as causas do desmatamento, podemos sair na frente se reclassificarmos nossas inovações, medirmos seu avanço e fincarmos de vez a bandeira do Brasil como país campeão da inovação ESG no mundo. Ainda há tempo!

*Valter Pieracciani – Fundador e sócio-diretor da Pieracciani

Envolverde