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Investimento em mudanças climáticas já é realidade para as empresas  

85% declararam que o Brasil deveria adotar posições mais ambiciosas frente a outros países –

Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha com 100 empresas listadas entre as mil maiores do Brasil mostra que as mudanças climáticas já fazem parte da agenda de investimentos da iniciativa privada e que uma ação mais firme do governo para lidar com o desafio seria bem-vinda. Impressionantes 82% das empresas entrevistadas já estão adotando ações de mitigação ou adaptação às mudanças climáticas e 71% acham que políticas públicas relacionadas ao assunto beneficiariam a economia. O levantamento, encomendado pelo Observatório do Clima e pelo Greenpeace, teve como objetivo conhecer as ações adotadas pelas maiores empresas brasileiras sobre mudanças climáticas.

Os números mostram que os empresários vêem as medidas de mitigação e adaptação como algo positivo para os negócios, redundando em impactos financeiros positivos para 73% deles. A pesquisa também mostra que não há uma bala mágica para resolver o problema – as iniciativas em curso citadas foram bastante variadas e vão desde soluções para reduzir o consumo de água e energia (40%) a ações para mitigar poluentes (23%) e campanhas de educação e conscientização (12%). Entre os que estão focando na questão energética, 15% já estão utilizando energias renováveis.

“Dentro do tema ‘mudanças climáticas’, a preocupação com energia mostrou-se relevante”, destaca Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Na pesquisa, ela aparece tanto quando falamos dos planos das empresas como quando perguntamos ao empresário o que ele acha que o governo deve fazer”, completa.

Perguntados sobre ações que o governo pode adotar para lidar com as mudanças climáticas que favorecem a inovação, os investimentos de longo prazo e retornos financeiros para as empresas, os entrevistados citaram 28 iniciativas. Entre as mais mencionadas estão a adesão à energia limpa, como solar e eólica (18%), investimentos em novas tecnologias para diminuir poluentes (12%), o incentivo tributário à preservação ambiental (12%) e ações de conservação do meio ambiente (12%). Quando questionados sobre as ações que o governo pode adotar em relação às mudanças que podem trazer retornos financeiros para o país, a energia renovável aparece com 20% de menções, atrás apenas dos investimentos em tecnologia (32%).

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Para 71% dos entrevistados, as ações do governo em relação às mudanças climáticas beneficiariam a economia. Tanto que 85% declararam que o Brasil deveria adotar posições mais ambiciosas frente a outros países para lidar com as mudanças climáticas. A realidade, no entanto, não condiz com essa percepção: para 46% dos entrevistados, as iniciativas governamentais em relação ao tema são ruins ou péssimas. Para apenas 4% elas são boas ou ótimas. As opiniões dos empresários espelham as da população brasileira, avaliadas numa pesquisa anterior do Datafolha: para 48% dos entrevistados, o governo faz muito pouco contra a mudança climática.

A nova pesquisa identificou também que o tema gera algum temor: dois terços da amostra (66%) acham que os impactos das mudanças climáticas sobre a economia serão muito negativos. As principais preocupações são com a produção (queda na produtividade, diminuição no volume de vendas etc.), com o fornecimento de matérias-primas (aumento nos custos, redução da oferta) e com a produção de energia. Juntos, esses itens foram citados por 78% dos entrevistados. “O empresário já percebeu que as mudanças do clima afetam os negócios. Se eles enfrentarem o problema, pode haver impacto positivo. Se não fizerem nada, as mudanças climáticas poderão prejudicar sua atividade”, sintetiza Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.

A pesquisa foi realizada entre 17 de março e 23 de abril de 2015 por meio de entrevistas telefônicas com os cargos executivos responsáveis pelas áreas de planejamento e/ou investimentos de cem empresas que integram a lista das mil maiores corporações que atuam no Brasil segundo o ranking do Valor Econômico. Três quartos da amostra ouvida eram de nível de diretoria. O levantamento contemplou organizações dos mais variados setores econômicos: comércio varejista, alimentos, agropecuária, metalurgia e mineração, química e petroquímica, eletroeletrônica, construção e engenharia, comércio atacadista, água e saneamento, veículos e peças, transporte e logística, plásticos e borracha, papel e celulose, mecânica, energia elétrica, TI e telecom, têxtil e vestuário, petróleo e gás, açúcar e álcool, materiais de construção, fumo, educação e ensino. (#Envolverde)