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A água doce em um planeta salgado

por Samyra Crespo – Mais de 35 milhões de brasileiros vivem sem água tratada. A maior parte das grandes cidades já se encontra sob o regimento do racionamento seletivo de água parte do ano (caso do Distrito Federal, capital do País).

Atualizado em 23/03/2021 às 14:03, por Samyra Crespo.

por Samyra Crespo –

Mais de 35 milhões de brasileiros vivem sem água tratada. A maior parte das grandes cidades já se encontra sob o regimento do racionamento seletivo de água parte do ano (caso do Distrito Federal, capital do País). Em alguns lugares o “racionamento seletivo” dura o ano todo (São Paulo e Rio, por ex.). Ou seja, em muitos lares, só corre água da torneira alguns dias na semana ou por algumas horas do dia.

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Como sempre, os mais pobres são os mais atingidos pela falta d’água – e as consequências sanitárias deste fato.
Hoje, 22 de março – é Dia Mundial da Água, data que a ONU consagrou para promover o “direito à água” como universal – bem como para conscientizar sobre a necessidade de fazermos um uso sustentável deste recurso. Ao contrário do que se pensa, a água não é abundante: do total existente no Planeta, 96% são salgadas ou impróprias ao consumo humano.

A água é uma necessidade vital para humanos, animais e plantas. É também um direito básico que muitos, dentro e fora do País, estão longe de desfrutar plenamente. A ONU relata situações em que mães e crianças caminham até quatro horas por um balde de água.

Há um grande movimento econômico-empresarial, mundial, para que a água se torne commoditie e grandes empresas oligopolistas vêm comprando as fontes de água.

As consequências sociais e econômicas dessa “privatização ” do recurso para os que vivem em regiões climáticas severas – com poucas chuvas e sem rios perenes – é dramática.

Conflitos e disputas pela posse ou acesso a fontes de água já ocorrem na África sub saariana e em outras regiões áridas do Planeta.

O consumo da Água para beber já pressiona o orçamento das classes médias mais baixas e dos pobres. A péssima água fornecida por serviços estatais ou privados, nos países pouco desenvolvidos, e caros, obriga boa parte da população a comprar adicionalmente galões do produto purificado ou em garrafas de água “mineral”.

Nas comunidades, o fornecimento dessa água em galão, como o gás em botijão vem sendo gradativamente controlado pelas milícias.

O cenário futuro da gestão da água nas cidades, e da real existência dela, disponível na natureza, não é animador.
Além das mudanças climáticas que alteram o regime de chuvas, o mundo continua desmatando suas florestas nativas. Todos sabemos que o desmatamento é o caminho perverso e certeiro para criar a escassez de água.
Estamos todos preocupados com a Pandemia e isto é perfeitamente compreensivo.

Talvez por isso este debate não tenha a devida acolhida neste momento.

Mas outros gatilhos estão sendo armados para que o sofrimento da humanidade não cesse. Um deles, com certeza é a crescente escassez de água potável.

Já ouvi de algumas pessoas que a solução é a dessalinização. Não se iludam. Sim há tecnologia para retirar o sal da água, mas a seguir o que fazer com o sal? Enterrar no solo, jogar no mar? Ou enviar para Marte?

Fica a pergunta, aos capitalistas, aos gestores e a nós mesmos.

Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.


Samyra Crespo

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